Tão perto, Sevilha esteve tão perto, mas estar a um pequeno passo foi longe de mais e fica para a história apenas uma presença na meia-final da Taça UEFA, que ninguém jamais esquecerá. A prestação do Boavista foi simplesmente espectacular e isso é que tem de ser louvado e lembrado neste momento de tristeza e desilusão. Ao orgulho português resta a esperança do F.C. Porto poder vingar esta derrota com o Celtic Glasgow a 21 de Maio, na calorosa cidade andaluza de Sevilha.

Durante 77 minutos os jogadores axadrezados foram os mais bravos, os mais lúcidos, os mais práticos, enfim, os mais fortes, mas na vertigem de um lance, com tebelinhas simples entre Sutton e Larsson, o sueco surgiu sozinho dentro da área e chutou com simplicidade para o fundo da baliza. Ninguém queria acreditar, mas era mesmo verdade. Os escoceses festejavam, após um lance que podia ter muito bem pertencido ao Boavista, mas quis o destino que a final fugisse das mãos de Pacheco, Martelinho, Pedrosa e companhia.

Depois de terem eliminado emblemas tão fortes como o Paris Saint-Germain, Hertha de Berlim e Málaga, o Boavista caiu aos pés do adversário mais forte que encontrou nesta longa caminhada que, recorde-se, começou nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões e terminou hoje, neste dia 24 de Abril que ninguém quereria recordar por estes motivos. O choro dos jogadores axadrezados no final significava tudo. Um desespero imerecido, que esteve tão perto de ser evitado.

Jogo controlado

Cientes de que tinham de lutar por um resultado positivo, os escoceses entraram com tudo, explorando as pretensas debilidades adversárias, devido à ausência do muito influente Paulo Turra (castigado). Do nervosismo inicial, com algumas falhas de Éder e Ávalos, bem como o medo de Martelinho, que ainda não sabia qual seria a sua disponibilidade física, o Boavista foi crescendo, desinibindo-se à medida que Ricardo ia dando tranquilidade e os contra-ataques iam saindo com cada vez mais perigo.

O Celtic via-se, mais uma vez, como tinha acontecido na primeira mão, obrigado a defender mais e a não atacar tanto. A pressão do meio-campo axadrezado começava a sentir-se o público sentia-o com todos os seus nervos. Enquanto os muitos escoceses se calavam, a claque do Boavista não cessava no apoio à equipa, marcando, ao ritmo de tambores, o ritmo da determinação boavisteira. No relvado tudo isso fazia efeito e Pedrosa, que tão bem anulou o galês Hartson, apostava no seu forte remate. O exemplo serviu para outros tentarem o destino.

Primeiro foi Pedro Santos, que aos 36 minutos fez a bola quase roçar o poste, depois foi Silva, que obrigou Douglas a efectuar uma excelente defesa. Seria um golo à Boavista, pois surgiu de uma jogada de contra-ataque na direita, conduzida por Martelinho, que cruza para a área e o «pistoleiro» cabeceia ao primeiro poste. A dois minutos do intervalo, o Boavista fazia o mais sério aviso aos católicos.

Martin O¿Neill estava incrédulo e quando viu Lambert queixar-se de dores numa coxa, aproveitou para lançar um dos seus melhores elementos em campo. Chris Sutton, o gigante avançado inglês que não jogava há cinco semanas, entrou em campo e colocou-se atrás de Hartson e Larsson. Se para os escoceses isso foi algo significativo, para o Boavista foi praticamente igual. Primeiro porque a defesa continuou a crescer cada vez mais, depois porque a atitude portuguesa foi absolutamente impecável, dando lições de ambição a qualquer equipa que deseje conquistar algo de importante nas competições europeias.

Nervosismo final

É natural. Deparados com a possibilidade de alcançarem um feito histórico na vida do clube e no futebol português, à medida que o final do encontro se ia aproximando os jogadores axadrezados não conseguiam esconder um nervosismo miudinho que se alastrava a toda e qualquer pessoa presente esta noite no Estádio do Bessa.

Muito prático, o Boavista fez o seu jogo. Essencialmente seguro a nível defensivo, com ajudas no meio-campo, conseguiu suster o Celtic até ao fatídico minuto 78, quando Sutton e Larsson combinaram de forma espectacular, abrindo uma brecha inédita no sector mais recuado dos axadrezados, e o sueco não falhou. Nem um Ricardo com asas de anjo conseguiu suster aquela bola encantada. Terrivelmente ensinada para só parar no fundo da baliza.

A festa soltou-se nas bancadas e nunca mais parou. Os cerca de três mil adeptos escoceses que encheram o nível 2 do lado poente do Bessa esgotaram até ao fim os cânticos guardados durante tanto tempo. Uma festa amarga, bonito, mas muito amarga e tão injusta, sabendo-se que o Boavista fez tudo para ganhar e esteve mais perto de o conseguir. Foi uma pena não ter marcado um único golo, pois a esta hora estaria a festeja com o F.C. Porto uma presença na final de Sevilha.