Apelidado de ginásio-sede, o principal edifício do Barreirense, constituído por seis pisos, alberga agora todas as modalidades desenvolvidas na colectividade, além do futebol. O ambiente é de acalmia e sente-se as marcas da história. No salão nobre, as muitas taças testemunham as glórias do passado e são a prova mais viva de que o Barreirense, agora remetido para uma divisão com menos destaque, tem um historial difícil de igualar. 

O café, de ar familiar, mas de grandes dimensões, está vazio. Apenas uma ou outra pessoa de mais idade e algumas crianças quebram o silêncio. O estádio, alguns quarteirões abaixo, mesmo no centro da cidade, surge no meio dos prédios que salpicam a paisagem. O vermelho e branco saltam à vista de qualquer um. «As portas estão fechadas, mas basta bater, que aparece alguém para a deixar entrar», explica a rapariga do café, situado na parte exterior do recinto. 

Já dentro do estádio, um pequeno contratempo. A chuva que tinha caído no dia anterior impediu que a equipa treinasse no relvado principal, já com 30 anos. Contudo a visita não saiu gorada e os 24 jogadores equiparam-se a rigor para fotografia. «Não é todos os dias que somos entrevistados», afirma, Álvaro, capitão de equipa, com um sorriso. Agora, porque nem sempre foi assim.  

O Barreirense nasceu par a par com o entusiasmo pelo futebol em Portugal, no início do século. Mas os primeiros tempos foram de dificuldades. Os campos de treino que não abundavam na altura e as escassas possibilidades monetárias obrigavam a constantes alterações e as esforços dos próprios dirigentes. No primeiro campo de treinos da equipa eram os próprios directores que montavam as balizas para os dias de jogos. Mais tarde, já instalados num outro local, também os dirigentes foram os primeiros a dar o exemplo, construindo as primeiras bancadas de madeira do clube. 

A ida à Taça das Feiras 

À medida que o clube foi crescendo, cresceram as aspirações e na década de 50 subiu à então I Divisão. Na época de 51/52 alcançou o 11º lugar e um ano depois foi a equipa sensação ao conquistar uma das melhores classificações de sempre, o de quinta melhor equipa nacional, só superada pelo 4º lugar na temporada de 69/70. 

Esse lugar de destaque foi a chave de ouro para estar presente no ano seguinte na já extinta Taça das Cidades com Feiras, antecessora da actual Taça UEFA. Ao contrário do que a pouca experiência em competições internacionais fazia supôr, o Barreirense recebeu em casa o Dínamo de Zagreb e venceu por 2-0. Um resultado surpreendente que chegou a fazer sonhar a equipa portuguesa, arredada depois da competição na segunda mão, disputada na Jugoslávia, onde perdeu por um expressivo 1-6. 

No que diz respeito à Taça de Portugal, o Barreirense também já escreveu algumas páginas dignas de registo na sua história. Na época de 57/58 qualificou-se para as meias-finais da Taça de Portugal, que na altura era disputada em duas mãos.  

Coube-lhe a difícil tarefa de defrontar o Sport Lisboa e Benfica no Campo D. Manuel de Melo, no Barreiro e para alegria dos seus adeptos venceu por 1-0 com um golo de José Augusto. Na deslocação à Luz, a equipa voltou a estar ao seu melhor nível e, segundo relatos da época, só o jogo violento por parte dos jogadores do Benfica e uma arbitragem muito pouco imparcial condicionaram o resultado final, que acabou por se fixar em 3-0 a favor dos encarnados. 

Também na II Divisão, o Barreirense viveu momentos de glória e registou diversas presenças, assim como vários títulos de campeão.  

Orçamento de 130 mil contos para o futebol 

Actualmente, o clube dispõe de um orçamento de 130 mil contos só para o futebol e de um orçamento global de 270 mil contos, que inclui todas as modalidades.

«Os patrocínios são uma das dificuldades com que nos deparamos todos os anos», explica Manuel Lopes, actual presidente. «É que as grandes empresas patrocinam os grandes clubes e ao nível dos clubes mais pequenos os apoios são conseguidos entre amigos e nem sempre é fácil». 

Na procura de novas receitas a actual direccção decidiu investir num novo Bingo, «um espaço que à partida rende 30 a 35 mil contos por ano. Com as novas instalações, recentemente inauguradas, pensamos que é possível aumentar as receitas». 

Nas próprias instalações do estádio, todos os espaços são rentabilizados, com o aluguer de espaços comerciais e garagens. Actualmente com 3815 sócios, as quotas dos associados representam apenas 8% das receitas anuais do Barreirense. 

As vendas de jogadores são também uma importante fonte de receita para o clube, embora incerta. Ernesto, transferido para o Alverca por 20 mil contos, e Hugo Cunha, que foi para o Benfica por 40 mil, são dois exemplos recentes que provam a importância das transferências no orçamento do clube.  

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