O Mundial das surpresas acaba por descobrir um protagonista em que poucos acreditariam há alguns meses. Ronaldo, o «Fenómeno», está mesmo de volta e fica para a história como uma das grandes figuras do Mundial 2002. Quem diria?

Num Campeonato do Mundo em que todas as grandes vedetas anunciadas fracassaram, o protagonista acaba por ser aquele que já foi, há muitos anos, o melhor do Mundo, mas que poucos acreditavam poder voltar ao seu nível. O sorriso mais famoso do Mundo está de volta. Pode não estar ainda em todo o seu esplendor, até porque já não tem a inocência da adolescência, aquela capacidade de colar a bola aos pés e levar tudo à frente, mas os números falam por ele.

É nesta altura o melhor marcador do Mundial 2002, com seis golos, depois de ter marcado mais um ontem, na meia-final com a Turquia, onde foi eleito o melhor em campo. Juntando os quatro que trazia do França-98, alcançou o número redondo de 10 golos em Mundiais, o que o coloca numa reduzida elite de grandes nomes da história.

Ficou a quatro golos do recorde absoluto, na posse do alemão Gerd Muller, e pode ainda alcançar Pelé, o melhor brasileiro da lista, que tem 12 tentos apontados. Na sua frente, além de Muller e Pelé, só há mais três futebolistas: o francês Fontaine, com 13 golos, bem como o alemão Klinsmann e o húngaro Kocsis, ambos com 11.

Este é o mesmo Ronaldo que há quatro anos deixou o Stade de France como um «zombie», depois de se ter arrastado em campo durante a final do Mundial entre o Brasil e a França. Nesse dia, o «Fenómeno» teve convulsões e chegou a ir ao hospital, mas acabou por entrar em campo. Ronaldo cedia às pressões de uma carreira que já era longa, nessa altura, e sobretudo muitíssimo exigente.

Ronaldo tinha 17 anos quando deixou o Brasil. Rumou à Holanda, para jogar no PSV Eindhoven, já rotulado como a «next big thing» do futebol mundial. Na temporada anterior, no Cruzeiro, tinha apontado 58 golos em 60 jogos. Não ficou na Holanda muito tempo. Todos os grandes da Europa o queriam, o Barcelona ganhou a corrida.

Seguiram-se os tempos áureos, dois títulos de melhor do Mundo atribuídos pela FIFA, em 1996 e 1997, elogios de todos os lados. Mas a máquina comercial exigia nova mudança e Ronaldo voltou a trocar de clube. Foi para o Inter Milão, numa transferência milionária.

Começou aí o seu calvário. Ao Mundial de França seguiram-se quatro anos de lesões, regressos, sempre breves, e novas lesões. Até faltarem três meses para o Mundial. Regressou à selecção num particular com a Jugoslávia, após dois anos e meio de ausência.

Os brasileiros eram os únicos que acreditavam no regresso do «Fenómeno». Em Abril, nas vésperas do jogo particular com Portugal, o preparador físico pessoal do jogador dizia que Ronaldo é como uma bicicleta que está muito tempo sem ser usada. Põe-se óleo, ela vai rangendo, depois «pega engrenagem e vai». E foi.

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