Um caso inédito. Pelo menos, no futebol português. Jardel alegou condições psicológicas e anunciou a decisão de «deixar por uns tempos» o Sporting e o nosso país. O processo de divórcio e a desfeita de não ter integrado a selecção brasileira são as razões principais apontadas pelo goleador brasileiro, que em conferência de Imprensa realizada a meio desta tarde de sexta-feira, surpreendeu o país.

Será que as razões apontadas por Jardel são legítimas? Que enquadramento jurídico poderá ter esta tomada de posição? Por enquanto, as dúvidas são muito maiores do que as respostas, sobretudo pela raridade da situação. O Maisfutebol falou com um psicólogo do desporto, Jorge Silvério. Para este professor universitário, primeiro mestre em psicologia desportiva em Portugal, «a situação de Jardel é mesmo muito rara».

Jorge Silvério confessa-se surpreendido com os contornos desta situação, mas, analisando as razões apontadas, acaba por elogiar a coragem de Jardel: «Sinceramente, não me lembro de uma situação deste género no futebol português. Mesmo a nível internacional, não estou a ver paralelo para este caso. Mas tendo em conta as razões que ele alegou, o que me parece é que ele está a agir de forma sensata. Se entende que não tem condições psicológicas para trabalhar, o melhor que tem a fazer é procurar ajuda psicológica...»

«Baixa» médica pode ser solução

E agora? O que poderá acontecer? Jardel garante que não quer problemas com ninguém ¿ e muito menos com o Sporting. Deseja cumprir os dois anos de contrato que ainda tem com os leões. Um cenário que aponta para uma situação que poderá ser transitória: «Se ele não se sente em condições de jogar, faz bem em procurar ajuda psicológica. Um futebolista, como qualquer outro profissional, tem direito de passar por um período menos bom do ponto de vista psicológico. Ainda por cima, se houver acordo com o Sporting, tudo poderá ser mais fácil».

Em relação ao ponto extremado a que as coisas chegaram, Jorge Silvério não deixa de apontar algumas culpas ao próprio Jardel: «Está a passar por um período difícil na sua vida pessoal e isso pode acontecer sempre. Agora, ele é uma figura pública e sabe que o seu caso iria sempre ter uma grande repercussão. Deveria, por isso, ter-se resguardado um pouco mais. Uma figura como o Jardel deverá proteger-se muito mais da pressão mediática, sob pena de lhe acontecer o que está a acontecer agora».

Por isso, este especialista em psicologia desportiva chama a atenção para a necessidade de «nestes tempos de paragem que ele próprio pediu, Jardel precisar de um descanso que passe, também, por um descanso de várias pressões a que está sujeito».

No entanto, um descanso mental pode não significar, exactamente, descanso físico: «Pelo contrário. É importante que prossiga com algumas cargas de treino, embora menos intensas».