Sentemo-nos. Respiremos. Descansemos. Que tarde de futebol, senhoras e senhores. Que tarde!

O México interrompeu a festa por 90 minutos, mas apenas e só isso. Deixou-se levar pela teia montada pelos suecos, foi até durante alguns momentos vulgarizado pelos nórdicos, mas acabou a festejar, já que a Alemanha saiu derrotada no encontro com a Coreia do Sul e entregou o segundo lugar a Herrera e companhia.

A Suécia, essa, fez o que muitos achavam que seria impensável à partida para este jogo. Inteligente, solidária, cínica, a equipa nórdica conseguiu travar o ímpeto da seleção mexicana, moralizada pelas vitórias ante a Alemanha e a Coreia do Sul, e sorrateiramente apoderou-se do topo deste grupo F, enquanto o mundo assistia surpreendido ao descalabro da campeã do mundo Alemanha.

É, como já se percebeu, inevitável falar da derrota germânica frente à Coreia do Sul na crónica deste México-Suécia, apesar de parecer um paradoxo.

O conjunto tricolor partiu para esta partida na liderança do grupo, com seis pontos, mais três com a Alemanha e a Suécia, e ainda com a Coreia do Sul à espreita, já que apesar de ter zero pontos ainda sonhava com a passagem. A lógica dizia que mexicanos e alemães iam acabar por conseguir o apuramento; o conjunto de Juan Carlos Osorio era até ao momento uma das equipas em maior destaque na prova, pela forma autoritária como venceram os dois jogos, e a mannschaft tinha como cartão de visita ser a atual campeã em título.

Mas o futebol, esse velho experiente, não se cansa de nos mostrar que é uma ciência muito pouco exata e onde tudo pode acontecer até ao árbitro apitar, mesmo os cenários mais improváveis.

Na primeira parte, diga-se, nenhuma das equipas saiu por cima da outra. A Suécia, mais pressionada para vencer, entrou mais forte, a condicionar de forma eficaz a saída de bola do adversário, mas sem conseguir adiantar-se no marcador. Berg, por três vezes, esteve perto de faturar, mas Ochoa e a falta de pontaria impediram o avançado de sorrir.

O México, quiçá surpreendido pela entrada forte dos nórdicos, demorou a assentar, mas conseguiu-o. Com Herrera sempre assertivo no capítulo do passe, a seleção americana foi galgando metros no terreno de jogo, mas com o mesmo nível de eficácia do seu opositor. Apenas Carlos Vela, num belo remate em arco, esteve perto de marcar.

Porém, Augustinsson tudo mudou. O lateral-esquerdo nórdico inaugurou o marcador aos 50 minutos, e a partir daí abriu-se a caixa de pandora. Incapazes de conseguirem contrariar a excelente organização defensiva sueca, os mexicanos descuidaram-se e voltaram a sofrer, quando Berg sofreu falta de Moreno dentro da área, depois de um contra-ataque rápido, e Granqvist aumentou a contenda para 2-0, colocando o México ainda mais na corda bamba e a olhar para o que fazia a Alemanha.

Não há duas sem três, e desta vez nem foi preciso um jogador sueco faturar, já que foi Álvarez, a cerca de vinte minutos do fim, a fazer o 3-0 para os nórdicos, num auto-golo originário num corte deficitário, que refletia bem a tarde para esquecer que a sua equipa estava a ter.

FILME E FICHA DO JOGO.

A partir daqui, é o que se sabe. Nas bancadas, já ninguém quis saber muito do que se passava na quadra. Telemóvel em punho ou ao ouvido, e pensamento no que faziam os alemães com os sul coreanos. O nulo verificado empurrava México e Suécia para os oitavos, mas o golo de Young-Gwon Kim, aos 90', meteu em apoteose os adeptos da seleção El Tri.

Depois de barrar a entrada neste Mundial à Holanda e à Itália, ainda na fase de apuramento, a Suécia empurra desta feita mais um histórico do futebol mundial, a seleção alemã, e mete algumas dúvidas no mito de que o «futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha». Já o México, que já estava em festa ainda antes de entrar neste Campeonato do Mundo, interrompeu-a por 90 minutos, mas já pode suspirar de alívio: vai mesmo continuar na Rússia.

Para a história fica uma das tardes mais loucas deste Mundial, e talvez da história recente da prova, mas já devíamos saber que este desporto é uma caixinha de surpresas: sorriam, isto é o futebol.