Manuel Vilarinho, presidente do Benfica, e Toni, até esta quarta-feira treinador do clube da Luz explicaram hoje, em conferência de imprensa, a demissão do técnico. Na sala esteve também o gestor para o futebol, Luís Filipe Vieira. 

Eis a declaração de Toni: 

«Há muito que passei a ser problema e não solução, por isso decidi, para que a equipa possa continuar em busca dos objectivos definidos, pôr para trás os interesses individuais. Ao longo de muitos anos, nomeadamente nas duas vezes em que ajudei o Benfica a ser campeão, houve sempre contestação. Penso até que nessa altura foi igual ou superior à que vinha vivendo nos últimos meses. É uma relação esquisita, a que se estabeleceu entre a massa associativa e o Toni. Há razões que a razão desconhece para que seja assim. É penalizante saber que quem fez um trajecto de 30 anos ainda tem de viver essa relação de amor e ódio. Quero que os sócios saibam que eu gostaria de os ver felizes, para os ver felizes daria a minha vida, morreria no banco para que o Benfica fosse campeão. Eles merecem-no, por isso têm a grandeza que têm e o clube tem a grandeza que tem. Eles sofrem, apoiam, vaiam, é uma mistura esquisita que não é fácil definir. Agora que já não tenho tempo para pedir tempo para mim, tenho tempo para pedir tempo e paciência para aqueles que cheguem ou fiquem. O sonho não se tornou realidade comigo, mas espero que com o próximo treinador definitivamente o Benfica encontre o caminho. O futuro deve ser construído à volta do homem que fez uma onda gigante de entusiasmo. Com ele, e não com guerras palacianas, com gente a ser apunhalada pelas costas como na corte de Luis XIV, será possível criar essa realidade. Se isso acontecer, tal como disse Luís Filipe Vieira, o Benfica tornar-se-á imparável e poderá vir a arrasar. A solidariedade foi-me manifestada e não é quebrada agora. Em 15 dias o barco andou um pouco à deriva e foi o suficiente para que caísse quem ia a comandar o barco. Disse aos jogadores que esperava vir aqui partilhar com ele o dia em que pudessemos ser campeões. Sabia que não era fácil para ninguém e só com muita determinação e empenhamento seria possível chegar ao fim e ganhar. Vou passar a pertencer áqueles que nunca perdem, que fazem sempre as opções certas, que opinam, que comentam, que fazem as crónicas. Gostava só de salientar que a minha decisão não teve nada a ver com árbitros. Aos dois árbitros que passaram no nosso caminho nos últimos jogos digo: «Não se deixem envolver nas teias do poder, resolvam os seus problemas». 

«Mudámos duas vezes de treinador, sempre ao contrário do que seria melhor para o clube», diz Manuel Vilarinho 

Antes de Toni falou Manuel Vilarinho, que não deixou aos jornalistas a possibilidade de o questionar.

Eis a declaração do presidente dos «encarnados»: 

«Este dia é particularmente triste para mim e para todos os que se considerem benfiquistas. Por várias razões. Pensava, quando me candidatei, na minha modesta ingenuidade, que o clube necessitava de não mudar de treinador, a não ser em condições excepcionais. Durante o meu mandato, por contingências em que o futebol é fértil, já são duas as vezes em que mudamos de treinador, sempre ao contrário do que entendia que seria o melhor para o clube. 

Durante a campanha disse que meu treinador era Toni. Só as contingências do futebol, em que as coisas mudam depressa, e por decisão dele que revela bem o amor ao clube, é que vai deixar de ser treinador. Foi mais uma noite em que não dormi. Infelizmente, ele vai recordar este como mais um dia de tristeza, mais um dia de desgosto. Vai continuar a ser meu amigo, pôs os interesses da instituição acima dos interesses dele. Benfica estará sempre com Toni, pelo menos enquanto eu for presidente. Ninguém poderá pôr em causa o seu valor moral e profissional. 

Despeço-me dele com saudade. Um grande obrigado. Penitencio-me por as coisas não terem dado certo».