Será o Halmstads melhor equipa do que o Benfica? A pergunta parece de resposta difícil, mas a dificuldade é só aparente. É melhor, sim senhor, e por uma razão tão simples quão preocupante para os «encarnados»: na Luz não mora uma equipa. 

É claro que escrito assim resulta crú. O Benfica esteve longe de jogar bem, mas também não assinou uma daquelas exibições de fazer os adeptos pensar em não voltar à Luz tão cedo. A frase precisa de ser explicada. 

Por falar em adeptos, o escasso número de benfiquistas nas bancadas foi o primeiro sinal de que algo faltava para uma noite europeia «das antigas». Nesta altura, dissera-o Mourinho na véspera, a equipa precisa de toda a força que consiga arranjar. Pois bem, frente ao Halmstads não descorbiu nenhuma nas bancadas. 

É natural que os adeptos andem desconfiados. Afinal, têm razões de sobra para tal. Mas ontem devem ter voltado a casa menos angustiados. O Benfica deixa a UEFA, é verdade, mas deu sinais de querer dar a volta aos maus textos que tem assinado nos últimos tempos. 

O risco é o caminho mais curto 

Mourinho começou por arriscar. Nesta altura, esse é o caminho mais curto para o sucesso. Mas também o mais perigoso. O treinador do Benfica, e com ele a equipa, parece metido numa daquelas histórias em que todos os caminhos têm um monstro e que a solução mais apetecível é, de repente, acordar e perceber que tudo não passou de um pesadelo. 

Infelizmente para o Benfica, trata-se de facto de um pesadelo, mas ninguém parece saber quando vai ser possível acordar e achar que terminou. Uma coisa é certa: na Luz procura-se o melhor caminho. Para já, ele passa por um sistema táctico que privilegia muito as laterais. 

A equipa compreendeu que a melhor forma de tirar partido de um futebolista como Van Hooijdonk é alimentá-lo a partir das laterais. Esta noite Carlitos foi quem melhor percebeu a forma correcta de o fazer. Do outro lado, Sabry nem copiar soube. O egípcio foi um caso delicado de egoísmo. No lance do primeiro golo sueco «esqueceu-se» de marcar o lateral contrário e deu no que deu. 

E não podia ter dado. Na fase que o Benfica atravessa, onze são poucos. Jogar com «menos um» é meio caminho andado para o insucesso. Sabry foi também responsável por foras-de-jogo inexplicáveis, parecendo não perceber o que o treinador esperava dele e tornando o futebol do Benfica descompensado. 

E foi pena porque a equipa até entrou bem disposta. Rápida sobre a bola, procurando os dois flancos, demonstrando possuir a inteligência e paciência suficientes para resolver o problema delicado que tinha pela frente. Daí ter aparecido o primeiro golo. 

Na esquerda, Uribe sobrevivia a Selakovic. O resto da defesa também demonstrava capacidade de sofrimento. O meio-campo dava-se bem com a entrega de Calado e Maniche. Não havia muito Poborsky, mas Carlitos e Van Hooijdonk compensavam. E Sabry? 

O egípcio apareceu no tal lance dos...suecos. Numa altura em que qualquer erro pode ser fatal, Sabry cometeu-o. Ele parece estar com dificuldades em perceber o que está a mudar e, visto cá de cima, dá ideia de não ter compreendido que já não chega jogar para o umbigo. 

Suecos não se importam 

O Halmstads, verdadeira equipa, não se incomodou muito com o golo, até porque demorou apenas nove minutos a sentir-se de novo confortável. Com tudo aquilo empatado, os suecos repousaram. O seu jogo alicerça-se no poder do colectivo e num jogador acima da média, o avançado Selakovic. 

Certamente não por acaso, esta noite Selakovic caiu na direita e provocou inúmeros desequilíbrios que Uribe foi tentando disfarçar. O Benfica «queixou-se» logo do golo de Gustafson. A bola deixou de rolar tão «redonda», os ataques passaram a demorar menos tempo, o que tinha o efeito imediato de a defesa ser posta em causa pelos contra-ataques suecos. O intervalo serviu para pôr calma no Benfica. 

Os portugueses reentraram mais serenos, mas foi só quando Mourinho resolveu arriscar ainda mais que a equipa pareceu capaz de, pelo menos, empatar a eliminatória. A passagem de Rojas para a esquerda estancou a ferida e a presença de Carlitos e Poborsky na direita aumentou o potencial deste flanco. Depois, João Tomás fazia crescer o poder de choque na área sueca. 

As oportunidades apareceram, mas a tranquilidade para as concretizar não. Miguel foi a última esperança. Com Sabry no meio e Miguel na esquerda, a equipa ganhou mais uma asa. Mas era tarde, tarde de mais. Percebia-se que tanta vontade de chegar à frente poderia ter custos. E teve. Mais uma vez Selakovic, com um pontapé muito bem executado, colocou gelo na baliza de Enke. 

A perder, com dois minutos pela frente, restava ao Benfica chorar e desejar que o próximo jogo chegue depresssa. Miguel ainda atenuou a eliminação. Não era inevitável que esta eliminatória terminasse assim, mas, bem vistas as coisas, era bem previsível que assim fosse. Na Luz ainda se procura uma equipa.