Uma aceleração de Ayew, que redundaria em golo nos pés de Kirovski, ainda o árbitro se refazia do primeiro sopro, tornou infrutíferas e absolutamente dispensáveis longas horas de estudo. Tudo quanto a Académica decorara a propósito do adversário deixara de fazer sentido. Uns cábulas, diria Carlos Garcia. 

Sem remédio, Garcia pulou uma fase. A perder, a estratégia de apalpação não tinha ponta de cabimento e as circunstâncias não lhe deixavam alternativa que não fosse correr atrás da despesa. Atacar, numa palavra. Apesar da mordedura, o leão que tinha pela frente parecia-lhe manso, domável e até afável. 

O treinador correu o risco. Em duas tentativas tinha o felino de joelhos, Babb pelo chão e o golo ao alcance de um pontapé, que seguia sempre a direcção errada. Mas o empate não andava longe, ainda que Nuno Santos já o tivesse negado. Quiroga rugia baixinho e recompunha a juba, evitando males maiores. 

O intervalo chegava sem que o Sporting se deixasse amestrar e com ele esgotava-se a modesta lição dos «estudantes». A Académica pagaria caro pela ousadia. No descanso, enquanto Inácio trocava unhas curtas por garras longas, o leão despia de vez a pele de cordeiro. Em quatro minutos de perseguição e ameaças, o candidato a domador não resistia às feridas, sucumbia. 

João Pinto já havia marcado e Luís Miranda juntava o contributo para que as diferenças assumissem proporções reais. Toñito tratou da simulação, o árbitro apontou para a marca de grande penalidade, durante o protesto veemente de Dyduch. Acosta cuidou do resto, induzindo Valente em erro e convencendo-o a deitar-se para o lado errado. 

Faminto e feroz, já nada saciava o felino. Mais duas dentadas (golos) e continuava a correr, recuperando identidade, apagando a imagem, de que poucos se recordavam então, de um gato sonolento que ronronara e se movia em pezinhos de lã. O Sporting era já um monstro, que se acelerava entre gestos arrepiantes e ameaçadores, que deixavam a Académica em constante sobressalto e dispensavam os equívocos convenientes da equipa de arbitragem, seguramente em fase muito atrasada de preparação. 

Esqueça-se, pois, a primeira metade, a da identidade mais frágil do Sporting, a do falso rosto do leão ou a da equipa de passes mansos. O Sporting é, em fase final de experiências, um bicho ameaçador e letal. A Académica que o diga. 

FICHA DO JOGO 

Estádio Municipal de Coimbra

Assistência: 6 mil espectadores

Árbitro: Luís Miranda (Lisboa)

Auxiliares: Venâncio Tomé e Luís Salgado

ACADÉMICA ¿ Pedro Roma; Tó Sá, Rocha, Mounir, Dyduch, Zé Nando; Lucas, Moacir, Monteiro; Pazito e Dário

Treinador: Carlos Garcia

Jogaram ainda: Valente, Rasca, Pedro e Leandro

SPORTING ¿ Nuno Santos; Quim Berto, Quiroga, Babb, Vinicius; Iordanov, Afonso Martins, Mahon; M¿Penza, Kirovski e Ayew

Treinador: Augusto Inácio

Jogaram ainda: Nélson; César Prates, André Cruz, Dimas; Toñito, Horvath, Rui Jorge; Edmilson, João Pinto, Acosta, Hanuch.

Ao intervalo: 1-0

Marcadores: Kirovski (1m), João Pinto (49 e 78m), Acosta (g.p., 62m) e Rui Jorge (83m)