Estar a falar de rivalidade entre os clubes e não «pôr a claques ao barulho» não fazia muito sentido. Foi o que o Maisfutebol tentou fazer, para dizerem de sua justiça aqueles que religiosamente seguem a equipa do seu coração em todos os jogos. Mas o resultado foi algo inesperado... por duas razões.

Primeiro, porque a claque do Boavista, «Panteras Negras», demarcou-se da polémica do «4º grande» em relação à rival do Belenenses, «Fúria Azul», já que considera a discussão espúria. Segundo, porque ficou a revelação de que a verdadeira disputa se dá, não com a dimensão do clube, mas com a antiguidade da fundação das respectivas falanges.

Vamos, então, por partes. Tudo terá tido início como uma reacção quando «alguma comunicação social começou a levar o Boavista ao colo», de acordo com o líder dos adeptos do Restelo, Luís Silva. A «Fúria Azul» passou então a exibir a faixa com a inscrição «O 4º grande somos nós», a partir da época 1998/99, e o sucesso do movimento foi tal, diz o responsável da claque, que as 300 «t-shirts» alusivas esgotaram nessa temporada.

«Não é mais do que reivindicar o que é nosso por direito próprio, embora reconheça que o Boavista também é um dos "grandes" de Portugal. Foi campeão há dois anos, é certo, mas, por outro lado, a história de um clube não é feita dos últimos 20 anos», afirmou Luís Silva ao Maisfutebol.

O líder das Panteras Negras, Hélder Silva, por seu turno, confessa que «isso do 4º grande» é «um tema que acaba por não fazer sentido.» E acrescenta: «O meu clube não é o terceiro nem o quarto, é o primeiro», continuou o líder dos apoiantes boavisteiros, para explicar que entrar em comparações não seria mais do «subestimar o clube de que se é adepto».

Confusões à parte

Se Hélder Silva põe de lado as comparações, também põe de lado as confusões. No jogo da época passada, os «Panteras» foram acusados de queimar uma camisola gigante do Belenenses, mas o líder dos apoiantes do Boavista acredita que o que foi «um acto isolado de uma pessoa» não se vai repetir. «Não queremos que se passe nada extra-futebol. Vamos apenas para apoiar a nossa equipa», garantiu.

Do lado do Belenenses Luís Silva assume também que o apedrejamento do autocarro do Boavista foi um acto que extravasou o âmbito e o controlo da claque e que a fúria dos «azuis» se vai confinar ao apoio dos jogadores: «Vamos fazer uma coreografia normal e dedicada a quem o merece, que é o Belenenses.»

Ao falarem com o Maisfutebol, no entanto, os dois líderes das claques acabaram por iniciar nova polémica, nomedamente, em relação ao ano de fundação da respectiva falange, que ambos dizem ser «a terceira mais antiga do país» - precedida apenas (e nisso concordam) pela Juventude Leonina e pelos Diabos Vermelhos.

Ora, de acordo com Luís Silva, a Fúria Azul foi fundada em Setembro de 1984; segundo Hélder silva, os Panteras Negras começaram a «rugir» também no mesmo ano, mas logo a partir de Maio. Se a questão do «4º grande» parece estar arrumada, a questão da «3ª mais antiga» ainda pode dar que falar. E, nesse caso, a conversa nunca será dentro das quatro linhas... onde todos pretendem que permaneçam as manifestações dos apoiantes do futebol.

Fúria Azul

Fundação: Setembro de 1984 (segundo indicações da própria claque)

Condições de participação: É necessário ser sócio, ou viver a mais de 50 quilómetros de Lisboa (chamados «auxiliares»)

452 inscritos (cerca de 45 são auxiliares)

Receitas: Não têm subsídios do Belenenses; o dinheiro é conseguido com venda de material, pela quotização e pelas receitas do jornal

Quota anual de 7,5 euros para os efectivos e 10 euros para os auxiliares

Panteras Negras

Fundação: Maio de 1984 (segundo indicações da própria claque)

É necessário ser sócio do clube

300 inscritos (espera-se o registo de mais 200 em breve)

Receitas: Acordo com o Boavista para comparticipação (geralmente) de 25% das deslocações em camioneta; permutas com outros clubes para aquisição de bilhetes; quotização

Quota anual de 10 euros