Ricardo

A maturidade de Ricardo chegou aos 25 anos e na quinta época como profissional, depois de dois anos na sombra de William. Remetido ao banco nos primeiros seis jogos do campeonato, tornou-se num dos inquestionáveis símbolos da equipa menos batida da Europa, merecendo inclusivamente a chamada à Selecção Nacional. Entre defesas quase impossíveis e berros orientadores da organização defensiva, Ricardo acabou por sofrer (apenas) 12 golos. Como titular, só por uma vez conheceu a derrota, em Braga, desde que exceptuado o desaire com a Roma. 

Litos

Pouco importa se ficará ou não no Bessa, jamais será esquecido se se deixar convencer por emblemas mais poderosos e ordenados milionários. É o capitão, por isso ficará na história por ter sido o primeiro a erguer a taça que simboliza uma conquista inesperada. Litos é o decalque individual do espírito guerreiro que correu uma época inteira para ser premiado, mesmo sabendo que isso seria improvável. Pelos menos, teoricamente. É a imagem de marca do novo campeão, a força e o querer que dispensam a arte pura e apregoam a pujança e o suor. A sobriedade chegou à sexta época como titular. Não podia ter sido melhor. 

Rui Bento

Poderá deixar o Bessa com a faixa de campeão, nove anos depois de ter trocado Lisboa pelo Porto, imitando, ainda que em sentido inverso, o percurso de João Vieira Pinto, para o qual serviu de moeda de troca. É daqueles jogadores que se orgulham de ser sóbrios e que colocam o colectivo muito para lá dos interesses pessoais, abdicando de posições e tarefas que mais lhe agradam, correndo unicamente para ajudar aqueles que, metros à sua frente, tem por missão abanar a rede contrária. Fez da renovação tabu enquanto asfixiava, semanalmente, a produção dos adversários, exibindo uma energia inesgotável. Recatado e tranquilo, imune a pressões e exageros, quase incapaz de errar. O mais regular. 

Petit

A chamada recente à selecção foi um justo prémio para quem, ainda há dois anos, corria e suava na II Liga, na invisibilidade de um Esposende que só fazia furor na Taça de Portugal. Viria depois o Gil Vicente, sempre com o Bessa no pensamento e o regresso a casa como objectivo comedido, face às soluções que o meio-campo axadrezado possuía. Seria preponderante em Barcelos e Pacheco fez questão de contar com ele no arranque da campanha do título. Petit convencia-se de que umas presenças fugazes no onze já seriam positivas e reforçava a suspeita depois de se lesionar aos primeiros pontapés da época. Estava enganado. A sua vez chegaria. A tempo de se tornar imprescindível na máquina pressionante em que se tornou o meio-campo do Boavista. 

Sanchez

Erwin Sanchez está votado a viver os êxitos da sua carreira desportiva no Boavista. Contratado pelo Benfica de Eriksson em 1990, só passados de dez anos festeja o primeiro título de campeão, depois de já ter vencido uma Taça de Portugal pelo clube do Bessa (96/97). Repescado por Jaime Pacheco na época passada, quando Graeme Souness o tinha colocado no Benfica B, o boliviano aproveitou o final de carreira de Timofte para se assumir como o único criativo axadrezado. Apesar de intermitente e pouco resistente ao ritmo imposto pelos colegas, Sanchez está próximo de conseguir igualar o seu máximo de golos (falta um para os 9) e quase sempre de livre. 

Martelinho

Costas arqueadas, corpo franzino e andar cambaleante não anunciam grande coisa, mas Martelinho surpreende pela rapidez, eficácia no cruzamento e perspicácia no remate. Apesar de não ser um jogador elegante, assumiu grande importância na fase mais decisiva do Boavista, acompanhando o êxito bem de perto através dos quatro golos marcados, sendo que dois foram determinantes. Primeiro ao F.C. Porto, mesmo no final da primeira volta, depois ao Sporting, afastando em definitivo a equipa de Alvalade do título. Nas duas ocasiões, o Boavista venceu por 1-0. 

Silva

Só sabe viver em equipa quando marca golos, muitos golos. Gosta de ser o protagonista, disfarçar os disparos de um matador, até na própria têmpora, simulando o suicídio pelo êxtase da comemoração do êxito. Quando as coisas não lhe correm bem, não joga e não pode festejar, sente-se triste e é facilmente votado ao esquecimento. Foi assim na segunda época em Braga, quando não lhe permitiram transferir-se para o Alavés, a meio desta época, quando Whelliton lhe tirou o lugar. Começou bem, marcando logo na primeira jornada e promete acabar ainda melhor.

Duda

O jogador das exuberâncias, o velocista que ninguém acompanha, o principal alimentador do nervosismo adversário. Falhou na Luz, perdeu-se em equívocos alheios nas Antas, quase encantou em Alverca. Nada melhor que um ano em cheio no Bessa para terminar com as dúvidas. Duda foi fundamental para a conquista mais importante do Boavista. Chegou à dezena de golos e bateu todos os recordes pessoais de concretização em Portugal. Mais impressionante do que os remates certeiros, no entanto, são as diabruras que, mesmo na parte final dos jogos, com o desgaste a justificar um abrandamento, deixam quem o defende com a língua de fora e os rins em muito mau estado.