O F.C. Porto fez história na Grécia e assinou uma das melhores exibições dos últimos anos, em jogos para as competições europeias. O líder da Superliga portuguesa fez em Atenas um jogo enorme, eliminando o Panathinaikos com toda a justiça. Num jogo intensíssimo, duro, poderoso, o Porto escreveu uma das páginas mais bonitas que o futebol português jamais mostrou à Europa.

Pelas oportunidades que criou, o Porto podia até ter resolvido a questão nos 90 minutos regulamentares, mas um prolongamento de grande nível selou uma qualificação que, na verdade, começou a ser desenhada praticamente desde o início deste jogo. O Porto entrou, esta noite, na história por várias razões: chegou, pela primeira vez, às meias-finais da Taça UEFA; ganhou, pela primeira vez, na Grécia; impôs a primeira derrota do Panathinaikos neste estádio. Fantástico.

Mais uma vez, José Mourinho acertou em cheio nas apostas que fez: surpreendeu ao colocar apenas dois avançados (Portiga e Derlei), reforçando o meio-campo com mais uma unidade. A análise dos diferentes sectores do Porto é relativamente fácil de fazer: o guarda-redes foi brilhante; a defesa foi brilhante; o meio-campo foi brilhante; o ataque foi brilhante.

Fantástico!

O Porto foi grande ao longo dos 120 minutos deste jogão, mas na primeira parte, então, foi simplesmente fantástico. Nem o remate de Michaelsen ao primeiro minuto inibiu os azuis e brancos de abordarem o desafio como tinham prometido: esquecendo o ambiente infernal em que estavam inseridos e acreditando sempre na hipótese de uma reviravolta na eliminatória.

Confiando no seu próprio valor, o conjunto português deu uma demonstração de querer, raça e força psicológica. O Panathinaikos tentou aplicar a mesma receita das Antas (defesa fechada, pressão para não deixar espaço ao adversário e contra-ataque baseado na velocidade de Karagounis e Olisadebe e na capacidade concretizadora de Liberopoulos), mas começou bem cedo a dar sinais de um certo nervosismo.

Um centro de Mário Silva para Deco, logo aos cinco minutos, ia dando o primeiro golo, não fosse o mais novo estreante da selecção nacional ter falhado o remate na altura certa. Mas foi, de facto, o primeiro de vários «mísseis» lançados pelo F.C. Porto no Apóstolos Nikolaidis. O ataque a Atenas foi mortífero aos 16 minutos: uma grande jogada iniciada por Hélder Postiga, que foi vendo a desmarcação de Derlei, à sua esquerda. O brasileiro recebeu o passe, fez uma inflexão para o meio e desferiu um tiro certeiro, que ainda beijou o poste e depois entrou na baliza. O Porto passava da promessa à concretização: 0-1, eliminatória empatada.

Gregos reagem, mas o Porto é sereno

Indiferentes à fúria grega, o Porto foi-se mantendo seguro e personalizado, deixando sempre a ideia de que o segundo golo poderia estar perto. Ainda assim, o «Pana» foi à procura do empate, esquecendo (finalmente!) a sua táctica perversa de chamar o Porto e depois comprometê-lo no contra-ataque.

Karagounis (boa exibição) empurrou a sua equipa para a frente e conseguiu criar alguns desequilíbrios, sobretudo do lado direito do seu ataque. Kolkka, num remate perigoso, causou o primeiro arrepio na espinha aos portistas; mas o maior susto veio aos 29 minutos: Liberopoulos remata fortíssimo, na área, para uma grande defesa de Baía. A bola ainda foi à trave, naquela que foi a melhor oportunidade dos gregos em todo o jogo.

Só que o Porto é sereno e foi continuando a exibir a sua força mental: uma excelente combinação entre Deco, Derlei e Postiga pôs os portugueses muito, muito perto do 0-2. Postiga, na área, remata colocado, Nikopolidis evitou, com uma grande defesa, um golo que daria vantagem aos dragões na eliminatória. O Porto carregava e Maniche, em posição frontal, após passe de Deco, atira ao lado, mas uma vez mais, muito perto do golo. Só que os gregos começavam a espevitar: Olisadebe cai na área, o Panathinaikos reclama grande penalidade, mas o avançado polaco provocou contacto com Ricardo Carvalho.

«Pana» arrisca, mas o Porto controla

A segunda parte não foi tão azul, mas continuou a mostrar um Porto dominador. O «Pana» incomodava cada vez mais, primeiro num remate de Kolkka, depois num lance em que Seitaridis serve Liberopoulos, que atira por cima da barra. Os gregos chegam a acreditar numa inversão da tendência do jogo, mas o último quarto de hora regulamentar volta a ser do Porto, sobretudo a partir da entrada de Marco Ferreira.

O prolongamento avizinhava-se, mas as oportunidades do Porto sucediam-se. Havia razões fundadas para acreditar numa passagem portista dentro dos minutos regulamentares. Ela não chegou, mas vinha aí um prolongamento com um Porto no seu melhor.

Derlei bisa, o Porto festeja

O que veio a seguir foi, de facto, extraordinário: mantendo níveis físicos apreciáveis para quem já tinha feito 90 minutos no limite, o Porto manteve o andamento do último quarto de hora da segunda parte e foi superior ao Panathinaikos, no prolongamento, em todos os aspectos: o segundo golo de Derlei foi o culminar de uma exibição que o Porto deverá guardar no livro das suas melhores memórias europeias.

Os gregos, incrédulos, nem conseguiram reagir. Foi o Porto quem esteve mais perto do 0-3 do que o «Pana» de um 1-2 que de nada lhe serviria.