«Não desanimes, pensa no próximo jogo». A frase, colocada numa das paredes interiores do Estádio do Marco, é uma doce ironia. Não há desafios de futebol, nem se sabe quando será o próximo encontro. Ninguém sabe. Os jogadores desesperam, apenas se limitam a treinar para ganharem ritmo competitivo e alguns têm ataques de desânimo. Sentem na pele a falta de objectivos, o tremer de mãos típico de quem aperta as chuteiras, minutos antes de um jogo qualquer. 

Há quase cinco meses que desconhecem a sensação de terem atrás de si o peso de um estádio repleto de olhares curiosos, sôfregos para assistir a uma jogada interessante. Em todos os rostos, há traços de desconforto e uma nítida ansiedade crescente, à medida que as semanas passam, o tempo escoa, o campeonato avança e a boa-nova, ou seja, o regresso, continua a ser uma grande incógnita. Para todos. 

Paralelamente, há consequências indisfarçáveis e os cofres do clube começam a sentir a falta de dinheiro fresco, fruto da publicidade, das quotas dos sócios e da vontade de alguns amigos. Sem futebol, os patrocinadores encolhem-se e os responsáveis falam em prejuízos a oscilar entre os 30 e os 40 mil contos, num orçamento de 140 mil contos. E a época ainda está no seu início. 

O segredo de estar na sombra da câmara 

Não há segredos. O Marco tem sobrevivido à custa da Câmara Municipal, que canaliza subsídios, permite o equilíbrio das contas e gera alguma saúde financeira. Por isso, os salários estão em dia e o plantel sente-se motivado para encarar de frente o trabalho diário, sem disfarçar um olhar optimista em relação ao futuro. Todos dizem que o clube vai ficar na II Liga. Ninguém tem dúvidas. E ainda nenhum atleta ousou tentar a sorte em outras paragens. 

Se o dinheiro proveniente da autarquia é a garantia da estabilidade, a Direcção completa este claro puzzle. Não há crises internas e o impasse na resolução do processo ¿ dizem os responsáveis ¿ até tem reforçado os laços de solidariedade e de profissionalismo. Os elos de ligação são tão duradouros e equilibrados, que a equipa técnica fala em reforços. Em Dezembro, o grupo de trabalho terá de ser ampliado, porque os próximos tempos serão de agonia: jogar à quarta-feira e ao domingo, para acertos de calendário, é um desgaste extremamente violento e não há músculo sadio que aguente. 

Enquanto se espera (e desespera), um café próximo do Estádio Avelino Ferreira Torres amontoa cartazes de futebol feminino e de hóquei em patins. Futebol para homens de barba rija, ainda é uma miragem. Pelo menos, no Marco de Canaveses... 

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