A confiança que Toldo exibe entre os postes é desmoralizadora para qualquer adversário. Frank de Boer bem pode confirmá-lo, ele que esbarrou por duas vezes na classe do guarda-redes italiano na marca das 11 jardas. Dos seis «penalties» em todo o jogo (dois nos 90 minutos, mais quatro no desempate), o amigo de Rui Costa defendeu três, tendo sofrido apenas um golo. É o melhor guarda-redes da prova, o principal responsável pelo facto de esta Itália chegar tão longe. E está tudo dito. 

Mais à sua frente, Nesta e Maldini confirmaram novamente que estão entre os melhores defesas do mundo. O segundo, especialmente, travou um duelo empolgante com Overmars, do qual saiu vencedor apesar da evidente diferença de andamentos. Com um Cannavaro instransponível, até deu para disfarçar as óbvias limitações de Iuliano, autor de um «penalty» grosseiro e de mais umas quantas falhas graves que bem poderiam ter-lhe custado a expulsão.  

A Itália praticamente acaba aqui: é verdade que a entrada de Totti lhe trouxe umas ténues pinceladas de fantasia (maravilhoso «penalty»!). Mas que dizer do jogo ofensivo de uma equipa que não hesita em colocar o seu jogador mais talentoso, Del Piero, na posição de lateral-direito durante mais de uma hora? 

Do outro lado, a Holanda pode queixar-se de si própria, bem mais do que da falta de sorte. É verdade que Van der Sar teve duas intervenções de altíssimo nível, e que Frank de Boer, «penalties» à parte, jogou com a personalidade dos grandes. É ainda verdade que Davids chamou a si a chefia das operações e que o frenético Zenden criou imensos problemas aos italianos, em especial na primeira parte. Mas a teimosia com que a «laranja» batia sistematicamente na muralha azul, aceitando com sofreguidão a bola que lhe era oferecida cinicamente pelo adversário teve qualquer coisa de mecânico, no mau sentido.  

Kluivert desperdiçou na marca de «penalty» a única oportunidade clara de que dispôs, ao cabo de 120 minutos de luta obstinada. Bergkamp foi sempre o mais lúcido dos avançados e talvez por isso mesmo tenha sido o primeiro a render-se, percebendo antes de todos os outros que nem todos os santos conseguiriam fazer vergar o «monstro» Toldo e companhia.