O Felgueiras está na iminência de entrar para a história do futebol português por uma situação, no mínimo, bizarra. É que poderá, pela segunda época consecutiva, permanecer na II Liga devido a problemas alheios. Primeiro, foi o caso Marco; agora, é a intenção manifestada pelo Campomaiorense de não participar na próxima edição da II Liga.

A lei é clara: em caso de desistência de um dos participantes, sobrevive o clube que ficou em 16.º lugar, ou seja, o que melhor se classificou entre os três que, numa situação normal desceriam. Pela segunda vez seguida, foi o Felgueiras. Pela segunda vez seguida, o clube duriense deverá conseguir na secretaria o que não conseguiu em campo.

Os contornos inesperados desta situação faz com que os responsáveis felgueirenses permaneçam reservados em relação ao que se poderá passar. Contactado pelo Maisfutebol, Carlos Clemente, secretário-técnico do clube, garante que «até prova em contrário, estamos a preparar a próxima época pensando na II Divisão B. Para todos os efeitos, descemos de divisão e assumimos isso perfeitamente. Claro que já sabemos o que se passa em Campo Maior, mas a verdade é que ainda não temos a confirmação oficial de nada. Aguardamos que a Liga nos informe sobre o que se vai passar».

As cautelas são compreensíveis, mas é óbvio que a expectativa é grande em Felgueiras. Carlos Clemente confessa que «ninguém esperava» que uma situação idêntica à da época passada pudesse repetir-se. Daí a preocupação de não haver precipitações: «O Felgueiras também tem os seus próprios problemas. Estamos a preparar um plantel para a II Divisão B. Se houver alguma surpresa, ela virá por acréscimo».

Mais custos, muito poucas receitas...

Carlos Clemente admite que o problema levantado pelo Campomaiorense dá que pensar: «Não são os únicos a terem dificuldades. Os problemas financeiros são gerais na II Liga. É um escalão nacional, com custos equiparados à I Liga, porque as deslocações também são caras, mas com uma enorme dificuldade em arrecadar receitas. Há muito menos publicidade e simplesmente, não há receitas televisivas».

Para o secretário-técnico do Felgueiras, «o ideal seria haver transmissões televisivas na II Liga. Se isso não for possível, acho que é de ponderar a hipótese de ser determinada uma percentagem das receitas das transmissões da I Liga para os clubes da segunda. A Liga, neste momento, mantém a II Liga como divisão nacional apenas porque precisa de dois escalões profissionais».

Como solução para a escassez de receitas, Clemente admite uma «cisão da II Liga em duas zonas, mas talvez com menos d 18 clubes em cada série». A dimensão nacional parece, por isso, constituir um dos principais problemas. Apesar das dificuldades, o Felgueiras vê com bons olhos uma continuação na II Liga: «Em termos de prestígio, claro que é melhor. O orçamento terá que subir, em relação ao que estávamos a prever, mas encontraremos uma solução...»

Um dos grandes problemas do Felgueiras teve a ver com salários em atraso. Houve jogadores sem receber durante alguns meses, mas Carlos Clemente garante que «o problema está a ser resolvido e já o foi em cerca de 90 por cento».

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