O Benfica a marcar três golos parece um bom número. Uma vitória sobre o campeão da Irlanda do Norte também é um resultado interessante. Mas depois do que se passou hoje no Windsor Park, no primeiro jogo do torneio de Belfast, Jupp Heynckes deverá estar a pensar como foi possível não golear - pior, como foi possível sofrer dois golos de uma equipa ingénua e previsível. 

Aos cinco minutos um pontapé de Sabry parecia começar a definir o jogo. O Benfica ganhou um livre na direita, junto ao vértice da grande área, e o egípcio chutou ao poste mais próximo - e nem teve de afastar muito a bola do guarda-redes irlandês, que teve muitas culpas no primeiro golo do encontro. 

A jogar a passo, perante uma equipa nada pressionante, os encarnados só perdiam a bola quando procuravam arriscar um pouco mais no passe. Mas foi assim que surgiram os dois golos seguintes. Maniche procurou as desmarcações de Carlitos (22 m) e Van Hooijdonk (26 m), que fugiram nas costas dos defesas e surgiram diante do guarda-redes adversário. O português fintou e marcou, o holandês esperou pelo colega Sabry para lhe oferecer o golo. 

O Linfield, ainda que muito ingénuo na defesa, atacou com algum perigo. O centro da direita de Kelly, aos oito minutos, com Scates a aparecer só na área e a atirar de cabeça para fora, foi um aviso. Vinte e um minutos depois, uma jogada idêntica com outros intervenientes deu golo - McDonald meteu na cabeça de Larmour, que não perdoou. 

Talvez contagiado pela falta de raça do adversário, o Benfica pareceu adormecido na defesa. O entendimento entre o quarteto defensivo, em que Escalona alinhava pela primeira vez, não foi o melhor. No meio-campo Heynckes também inovou, apresentando uma dupla no meio formada por Fernando Meira e Chano - uma dupla que deu pouca velocidade ao jogo. 

O intervalo chegou com a sensação que se o Benfica tivesse feito um pouco mais poderia ter conseguido uma vantagem histórica. E com a surpresa de o Linfield, claramente inferior e com vários titulares no banco, ter marcado um golo. 

Foi por isso de forma inesperada que a equipa irlandesa quase fez o 2-3 no reinício - devido a um mau passe de Paulo Madeira, é certo, talvez desconcentrado com a desconcertante actuação de chear-leaders tiradas de uma série de Monty Python (será isto o verdadeiro humor negro britânico?). 

Supôs-se que o Benfica se concentrasse e começasse a dilatar a vantagem. Puro engano. Aos 50 minutos Larmour marcou outra vez, surgindo sozinho na pequena área, com a defesa encarnada a ver, a empurrar um centro de Arthur. 

E assim, de repente, o Benfica vencia apenas por 3-2. No Linfield começaram a entrar os titulares, as facilidades para o ataque do clube da Luz diminuíram e aquilo que parecera aos 25 minutos uma vitória facílima tinha-se transformado num jogo capaz de aumentar a insegurança de um conjunto que continua a não convencer. 

Com mais esforço que classe ou inspiração, o Benfica lá aguentou a vantagem - criando algumas oportunidades de golo, uma ou outra combinação interessante, mas sempre abaixo do que se esperaria de um candidato ao título do país terceiro classificado no último Europeu. 

Aos 84 minutos o Linfield quase empatava, mas uma boa defesa de Bossio deu a vitória ao Benfica. No sábado os encarnados terão de fazer muito mais para vencer o Liverpool. 

Ficha de jogo 

Windsor Park, em Belfast

Árbitro: Alan Snoddy 

Linfield: Mathers; McDonald (Collier, 57 m), Bailie, Young e Easton (McShane, 57 m); Shaw (Marks, 57 m), Scates (Gorman, 66 m), Kelly e Arthur; Larmour e Morgan (Ferguson, 66 m).

Treinador: David Jeffrey 

Benfica: Bossio; Dudic, Marchena, Paulo Madeira cap. e Escalona (Sérgio Nunes, 76 m); Fernando Meira (Calado, 70 m) e Chano; Carlitos (Rojas, 87 m), Maniche (Pobosky, 87 m) e Sabry (Miguel, 70 m); Van Hooijdonk.

Treinador: Jupp Heynckes 

Ao intervalo: 1-3

Marcadores: Larmour (29 e 50 m); Sabry (5 e 26 m) e Carlitos (22 m)