Chilavert tem, a partir de hoje, mais um avançado que lhe provocará pesadelos medonhos. Nas próximas noites, pelo menos, o guarda-redes mais excêntrico do planeta acordará a meio do sono, num sobressalto, a gritar o nome de um jogador português que jamais detectou no lote de principais preocupações. E mesmo depois de retomar o fôlego e corrigir a posição da almofada, terá Moreira no pensamento, sempre pronto a voltar a rematar de forma indefensável. 

O português foi a figura do Standard de Liège-Estrasburgo que se disputou esta quinta-feira. Marcou os dois golos da sua equipa, encantou um público que já suspeitava ter um novo craque para venerar e provou que pode ser mais um valor a ter em conta num futuro próximo. Maisfutebol contactou-o à hora de dormir, numa altura em que Moreira ainda recebia felicitações e cumpria o enésimo relato dos momentos mais grandiosos da vitória. «Foi muito bom», resumia, dispensando vaidades. «Penso que estive bem e os golos foram apenas um bónus, mas quem tem de avaliar isso são as outras pessoas», lembrava, mesmo que a evidência o obrigasse a rever a teoria. «É verdade que estou a atravessar uma boa fase, mas não me considero a figura da equipa. O Standard vale essencialmente pelo seu todo». 

Os golos, contudo, justificavam uma insistência. Moreira festejou pela primeira vez com a camisola do clube belga e não podia ter escolhido melhor altura para o fazer, uma vez que o jogo era importante e o guarda-redes contrário era uma autêntica lenda. «Não vou esquecer que marquei ao Chilavert, se bem que o importante seja pensar em acertar mais vezes na baliza, seja com que guarda-redes for», refere. «O primeiro golo foi muito bonito. Rematei de primeira, com o pé esquerdo, após um cruzamento de um companheiro. O segundo também foi vistoso, pois apareci isolado e consegui passar o Chilavert, que ficou a protestar fora-de-jogo», conta, contendo a euforia com dificuldade. 

Ao cuidado de Portugal 

O campeonato da Bélgica pode não ser dos mais competitivos, mas as exibições recentes de Moreira merecem atenção. O português é titular indiscutível da equipa de Preud¿homme e começa a assumir um estatuto de estrela. Talvez por isso não seja de estranhar que, mais tarde ou mais cedo, comece a despertar as atenções de clubes mais cotados e dos responsáveis da selecção nacional. 

Moreira, à cautela, assume o prazer de viver na Bélgica e diz que só as saudades o podem fazer pensar em voltar. «Tenho saudades de casa, mas gosto de cá estar», garante. E a selecção? «Qualquer jogador responderá da mesma forma a essa questão», avisa. «Já fui internacional várias vezes e gostava de voltar a vestir a camisola de Portugal. Não nego que esse é um objectivo, mas tenho ainda muito tempo». 

Mais rápido poderá até ser o regresso à I Liga portuguesa, uma vez que não espantará ninguém se as exibições de Moreira estiverem desde já no plano de observações prioritárias dos principais emblemas. «Nunca vou colocar esse hipótese de parte», confesa. «Para já, contudo, não penso nisso, pois quero unicamente fazer o melhor pelo Standard, que apostou em mim e deixou-me fazer novamente aquilo que mais gosto, que é jogar futebol», finalizou.