Chegou a ser primeira figura no Belenenses mas a vida dá muitas voltas e isto do futebol dá ainda mais. João Paulo Brito, médio-ofensivo de 28 anos, é hoje uma das estrelas do CSKA de Sófia. O clube búlgaro, um dos dois maiores da Bulgária (numa eterna disputa com o Levski) está recheado de nomes que passaram pelo futebol português. Mladenov, ex-treinador do Belenenses, é o técnico que está na origem do desafio lançado a João Paulo Brito a emigrar para um destino nada habitual para um futebolista português. Mas também lá está Radi, que conheceu os seus tempos áureos no Chaves e agora é adjunto do CSKA.

E a verdade é que «as coisas estão a correr muito bem». Quem o garante é o próprio João Paulo Brito, numa entrevista concedida em Sófia, ao Maisfutebol. O português é titular indiscutível do CSKA, clube que lidera destacado o campeonato búlgaro e disputa uma eliminatória da Taça UEFA com os ingleses do Blackburn Rovers.

João Paulo Brito falou-nos da adaptação à Bulgária e explicou as razões que o levaram a aceitar um desafio tão raro num jogador português. Comentou o actual momento do futebol português e até confessou uma «secreta esperança» de ainda representar um clube «alemão, inglês ou francês».

- Que primeiras impressões já guardou da Bulgária?

- Até agora, está tudo a correr bem. Tenho-me adaptado com alguma facilidade. O mais difícil acaba mesmo por ser a adaptação à língua, mas a nível futebolístico, as coisas estão a correr muito bem.

- O CSKA a ganhar, o João Paulo Brito a dar nas vistas...

- Sim, comecei logo a jogar e parece que estou a fazer boas exibições. Tenho tido a confiança do técnico e isso é muito importante. O facto de já conhecer o treinador tem ajudado muito. Espero, essencialmente, ajudar o CSKA e fazer uma boa carreira aqui na Bulgária.

- Como é que está, neste momento, o futebol na Bulgária?

- Ainda não deu para conhecer tudo, mas é um futebol com alguma qualidade. Tivemos cinco jogos para o campeonato, ganhámo-los todos, mas foram sempre vitórias difíceis, tirando este última, em que ganhámos por 5-0. Há muita competição, muita luta, ainda que se destaquem claramente o CSKA e o Levski como as melhores equipas. Há níveis diferentes de objectivos, como em Portugal: há quatro equipas que lutam para ser campeãs e, depois, as outras tentam dar luta...

- Como é que tomou a decisão de vir jogar para a Bulgária? Sentiu necessidade de sair de Portugal?

- Foi um pouco isso. Mas a grande razão teve mesmo a ver com o facto de o mister Mladenov, que foi o treinador que me lançou em Portugal, me ter feito o convite que fez. Foi ele quem me levou para o Olhanense e do Olhanense para o Belenenses. Mas não foi só isso. Estava a jogar no Estrela, depois de ter acabado contrato com o Belenenses. Tive três ou quatro convites de I Divisão, de clubes do Norte, mas na altura não estava num momento propício, na minha vida pessoal, para sair de Lisboa, pois tinha acabado de casar e de comprar casa em Lisboa. Surgiu o desafio do Estrela, de tentar subir de divisão. As coisas acabaram por não correr bem, não subimos e o clube passou por maus momentos financeiros, com problemas de mudanças de direcção também...

- Aí é que entra o convite para a Bulgária.

- Sim, estava num momento propício a aceitar um desafio desses. As condições eram boas e até agora as pessoas têm cumprido com o que prometeram. Falei primeiro com as pessoas do Estrela, pois tinha mais um ano de contrato. Acertámos tudo o que tínhamos para acertar, tinha ainda alguns salários em atraso, mas tudo acabou por ser resolvido. O Mladenov, depois de sair do Belenenses, foi para a Bulgária e como conhecia bem com quem ia trabalhar, acabei por aceitar o convite dele.

- Mas, afinal, por que é que aqueles dois bons anos no Belenenses não tiveram continuidade?

- Tive uma lesão e no último ano no Belenenses, com o Marinho Peres, não cheguei a ser uma opção prioritária. Ficava muitas vezes no banco, só entrava às vezes...

- Mladenov é seu treinador, Radi, que jogou em Portugal, é adjunto. Há também os brasileiros (João Carlos e Agnaldo). Já são algumas pessoas a falar português na Bulgária...

- Isso ajuda muito. Além de todos esses nomes, há também o preparador-físico que também é brasileiro. Há um guarda-redes jovem que fala alguma coisa de português, porque o pai jogou em Portugal. Há um outro treinador-adjunto no CSKA que jogou dois anos no Atlético, há algumas épocas... Todas estas pessoas a falar português é muito bom para que a questão da língua não seja um grande obstáculo para mim.

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