O Sporting encarou o jogo muito a sério e esse foi o primeiro grande passo para a vitória (2-1) sobre o campeão europeu. Na primeira parte o campeão português jogou, quase sempre bem, na segunda reagiu bem ao melhor período do Real. Este Sporting, a jogar assim, vai ser real. 
 
Não demorou muito a perceber que as duas equipas tinham entrado com vontades diferentes. O Sporting motivado por se mostrar ao seu público, o Real Madrid demonstrando apenas interesse em fazer mais um jogo.

 
A diferença de atitude manifestava-se mais quando se tratava de correr atrás da bola. Os jogadores do Sporting foram sempre mais agressivos, mais pressionantes, mais empenhados em mostrar serviço. O Real, com Luís Figo antes de todos, deu menos importância às tarefas defensivas. 
 
Com a bola nos pés a diferença começou por ser menor. O Real até andou duas vezes perto da baliza de Schmeichel, mas não chegaram a ser oportunidades. Aos dois momentos madrilistas respondeu João Pinto com uma iniciativa individual terminada pela mão de Karanka. A escassos metros da grande área, André Cruz concentrou-se e deu o primeiro tom verde à noite. 
 
O golo serenou o Sporting. A bola passou a parar mais perto das botas, a rolar mais redonda e serena. Isto apesar de Roberto Carlos ter assustado Schmeichel, aos 28 minutos, quando promoveu estrondoso encontro entre a bola e a barra. Mas essa foi a excepção que confirmou a regra, como seria o livre de Figo a um minuto do intervalo. 
 
Por falar em Figo, o português do Real marcou «presença» no segundo golo do Sporting. Como em tantas outras vezes, deixou Rui Jorge subir pela esquerda, receber, preparar o cruzamento e encontrar Acosta. O resto foi um imenso ruído nas bancadas e gritos de «matador», «matador». 
 
André Cruz falha dois penalties 
 
Com 2-0 ao intervalo, Del Bosque mexeu. Mesmo em encontros de preparação, o campeão europeu convive mal com a derrota. Era tempo de tentar demonstrá-lo. Bastaram sete minutos. Primeiro Figo escapou pela direita e procurou Morientes, que ficara um segundo mais na posição. Depois, bem, depois apareceram Munitis e Roberto Carlos. O espanhol inventou um passe que espantou todos, o brasileiro deu três passadas e ao fazê-lo todos pressentimos que ia acontecer uma «desgraça». Aconteceu. Foi perfeito como nos filmes. Bola no pé esquerdo, efeito... pronto. 
 
Com o Real a querer jogar, o Sporting passou a ter menos bola. A facilidade de subir em bloco, com a bola trocada de forma segura, desapareceu como que por encanto. O Real não asfixiava, mas percebia-se que o campeão europeu estava mais físico, mais criativo, mais poderoso e, sobretudo, mais próximo de Schmeichel. 
 
Augusto Inácio foi o primeiro a entendê-lo. Sá Pinto e Horvath saíram e os substitutos demonstraram a preocupação de reforçar a capacidade de luta (Dimas), tentando ao mesmo tempo voltar a incomodar (Edmilson). A 25 minutos do fim, a coisa prometia. Depois de ter «jogado», era tempo de o Sporting colocar em campo a maturidade dos seus jogadores. Tratava-se de manter a vantagem de um golo perante o campeão europeu. 
 
Pois bem, o Sporting confirmou o que se sabe: a equipa, este ano ainda mais do que na época passada, é formada por jogadores que se já não se entusiasmam com facilidade, também não perdem a cabeça quando algo não corre bem. Por isso voltaram a dominar o jogo. Com menos beleza, mas novamente com segurança, alicerçada sobre pontapés de canto, livres e pressão eficaz a meio-campo. 
 
Até porque o Real resolveu prescindir de Figo e Raul, o resto do tempo teve menos interesse. Roberto Carlos, com toques de habilidade, livres e uma entrada duvidosa sobre Acosta na grande área branca entreteve o público até ao cair do pano. Aí, veio o pingo de emoção que faltava para colorir a noite de festa: Casillas, que já vira um amarelo, repetiu o derrube a Toñito, mas dentro da área - penalty, segundo cartão e banho. 

Cesar rendeu o guarda-redes titular só para tentar defender o castigo máximo. Sem Acosta para «matar», restava André Cruz. O brasileiro, contudo, revela maior propensão para rematar de longe. Depois de Cesar suster o primeiro remate, o árbitro mandou repetir a penalidade. André correu da mesma maneira para a bola, chutou para o mesmo lado e Cesar defendeu como fizera um minuto antes. Ficou o 2-1 para a galeria da história. 

Ficha do jogo 
 
Estádio José Alvalade, em Lisboa, 9 de Agosto de 2000 
Árbitro: Duarte Gomes. 
Auxiliares: Arlindo Santos e Alexandre Torres. 
4.º árbitro: Pedro Garcia. 
SPORTING- Schmeichel; César Prates, Beto  «cap», André Cruz e Rui Jorge; Bino, Paulo Bento e Horvath; João Pinto, Sá Pinto e Acosta.

Treinador: Augusto Inácio. 
Suplentes: Nélson, Quim Berto, Dimas, Babb, Iordanov, Edmilson, Toñito, Hugo, Kirovski, Mahon e Spehar. 
Jogaram ainda Edmilson, Dimas, Toñito, Spehar e Hugo. 
REAL MADRID-Casillas; Geremi, Ivan Campo, Karanka e Roberto Carlos; Celades e Flávio Conceição; Figo, Guti e Sávio; Raúl «cap».

Treinador: Vicente Del Bosque. 
Jogaram ainda Júlio César, Michel Salgado, Munitis, Morientes, Solari, Tote e Cesar

Suplentes: Cesar, Júlio César, Michel Salgado, Sanchis, Solari, Munitis, Morientes e Tote. 
Ao intervalo: 2-0. 
Acção disciplinar: Cartão amarelo a Toñito (76 m) e Casillas (88 e 90 m). Cartão vermelho a Casillas (90 m)

Marcadores: 1-0, por André Cruz (17 m); 2-0, por Acosta (35 m); 2-1, por  
Roberto Carlos (52 m).