Pertencem à mesma geração. Cresceram juntos, partilharam sonhos, correram atrás da mesma bola nas camadas jovens do F.C. Porto e depois na equipa sénior. Domingos não foi só um simples colega de Fernando Couto no grémio das Antas e nas quinas da selecção nacional, foi sobretudo um amigo de todas as horas. O primeiro já pendurou as chuteiras, mas o segundo ainda está para as curvas, precisamente a caminho da sua 100.ª internacionalização: «Quando éramos jovens, de uma forma inconsciente, partilhávamos o sonho de sermos estrelas, de chegar à selecção. Acabou por acontecer, apesar de ele ter sido emprestado ao Famalicão».

A estreia de Fernando Couto na selecção portuguesa aconteceu num jogo em que Domingos acabou por ser a grande figura ao marcar o único golo. Na Maia, em 1990, frente aos Estados Unidos, o seleccionador da altura - Artur Jorge - deu a oportunidade a alguns jovens que já davam sinais extremos de genialidade em potência. É assim que começa o princípio do sonho. «Recordo-me bem desse jogo, mas não sabia que coincidiu com a estreia dele. Estava pouco público no estádio, creio que nunca tínhamos vencido os Estados Unidos. Todos nós estávamos no início das nossas carreiras, tanto eu como o Fernando e o Vítor [Baía] e vários foram os colegas que se estrearam naquele jogo. Longe de mim pensar que aquele seria o início de tantos desafios na selecção portuguesa. Sim, porque ele até vai ultrapassar a barreira da centésima internacionalização», sublinha.

Na equipa das quinas, Domingos lembra-se particularmente das brincadeiras entre Fernando Couto e Jorge Costa, que chegaram a defender na mesma altura as cores do F.C. Porto, conseguindo uma fantástica amizade extra-futebol, provavelmente um dos segredos para a simbiose perfeita dentro do relvado: «Quando o Fernando e o Jorge eram a dupla de centrais da selecção conversavam e brincavam muito. Um dizia assim `quem estiver à frente dá logo no avançado e quem estiver atrás acaba logo com ele¿. Quando jogavam juntos na defesa impunham muita consistência». Aliás, esta dupla esteve recentemente junta no último Campeonato do Mundo e chegou a ser apelidada por António Oliveira como uma das melhores da Europa.

No calor do jogo, Fernando Couto costuma dar a imagem de um jogador duro, por vezes capaz de ultrapassar os limites do razoável, uma tendência que não espelha nada a sua maneira de ser fora das quatro linhas, onde é conhecido pela sua serenidade. «Ele tem aquela forma de estar em campo, mas cá fora é muito diferente. É uma pessoa divertida e não é agressivo. Nem parece um defesa central, porque é muito calmo». Curiosamente, em 99 desafios ao serviço da selecção, só foi expulso uma vez, em Itália, num jogo em que Portugal falhou o apuramento para o Mundial de 1994: «Salvo erro, isso aconteceu na parte final do jogo. Não me lembro muito bem das circunstâncias, apenas sei que o Casiraghi marcou-nos o único golo do encontro. Perdemos e falhámos a qualificação». Memórias de outros tempos.

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