Paulo Sousa despediu-se dos relvados com a convicção que sempre deixou no jogo e nas palavras. Terminou a carreira, mas não terá terminado, com certeza, a sua ligação ao futebol.

O médio que conseguiu o feito de conquistar duas Taças dos Campeões seguidas por clubes diferentes - igualando o francês Desailly, os dois únicos a festejaram dois anos seguidos com duas camisolas distintas - anunciou o fim no Estádio Nacional, numa declaração lida com emoção, sem responder às perguntas dos jornalistas.

Paulo Sousa foi acompanhado por Carlos Godinho, director da Federação Portuguesa de Futebol, que lembrou que o jogador sempre disse que o seu clube «é a Selecção nacional» e que entregou ao número seis a última camisola com que jogou pela equipa das quinas, em Maio, contra a China.

O ex-jogador nada revelou sobre o seu futuro, embora dizendo saber claramente o que pretende fazer, e evitou falar sobre a participação da selecção portuguesa no Mundial, embora afirmando que o que tem vindo a público são «argumentos pouco significativos e incapazes de explicar os verdadeiros motivos» do falhanço na Coreia do Sul.

A declaração de despedida de Paulo Sousa:

«(...) o que tenho para vos dizer é simples e ao mesmo tempo muito significativo para mim:

Ferido pelo sofrimento de sucessivas lesões que me têm impedido de exercer regularmente a actividade profissional;

Desiludido por não ter sido tão útil como desejava e julgava possível nas duas últimas grandes competições em que a Selecção portuguesa participou (Euro-2000 e Mundial-2002);

Magoado pelas inúmeras provas de falta de respeito e total desconsideração pelo meu passado e pela dignidade que qualquer ser humano tem o direito de exigir;

Fiel à minha consciência e aos meus princípios;

Cansado também de lutar contra o infortúnio e os meus próprios limites;

Depois de consultar a minha família, tomei a decisão que passo a tornar pública:

Anuncio formalmente o fim da minha carreira como jogador profissional de futebol.

Neste momento de tristeza pelo termo de um ciclo da vida, que me deu tudo quanto procurei, sinto a felicidade de estar preparado para enfrentar o futuro e os seus desafios.

Aproveito ainda para agradecer do fundo do coração a todos quantos me ajudaram a crescer, a viver e a encarar cada momento de uma carreira da qual me orgulho, com particular incidência para os momentos que passei ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol, a cujos representantes, todos eles, estarei eternamente grato.

Parto com a dor de não ter ajudado a pagar a dívida que achei ser nossa obrigação perante os portugueses: uma grande conquista internacional.

Este é um momento de amargura mas é também de felicidade, porque sei exactamente o que pretendo da vida e como a vou viver daqui para a frente. A minha carreira foi feita de desafios, de riscos e de testes constantes aos meus próprios limites.

Fui para o Mundial com a certeza de que estava em condições físicas e psicológicas de ser útil à nossa Selecção.

Sei que muitos de vocês gostariam de ouvir algumas palavras sobre o que aconteceu no Mundial ou pelo menos saber a minha opinião sobre certas e determinadas coisas vindas a público.

Compreendo-vos, mas perante este barulho ensurdecedor, alimentado com argumentos pouco significativos e incapazes de explicar os verdadeiros motivos da desilusão que nos afectou a todos, temo que tudo quanto diga seja insignificante.

Uma palavra final para os jovens. O futebol é um mundo maravilhoso, mas exigente, cheio de sacrifícios, mas recompensador. Com o respeito por todos é possível atingir as metas que definirmos para nós próprios e para a sociedade em que vivemos.»