Barroso não podia prometer, mas foi logo avisando no balneário que, se marcasse ao Sporting, «o golo era para ele». Na t-shirt, que vestiria sob a camisola vermelha, preparou a dedicatória, sem a certeza de a poder endereçar. Sabia apenas que Fehér estaria na bancada e tinha um pressentimento de que aquele pontapé-canhão, famoso por fazer desgraça, não o deixaria ficar mal. 

«Quando soube que ele vinha, disse logo que ia escrever o nome dele na camisola», contou, possivelmente com o mesmo brilho nos olhos produzido pela ideia de surpreender o amigo húngaro. Estava decidido. «Se eu fizesse um golo, era para lhe dedicar». Dois ou três livres mais tarde, Barroso suspeitou que aquele poderia não ser o seu dia. À primeira oportunidade, justamente no golo de Ricardo Rocha, levantou a camisola e mostrou a dedicatória. Sem grande êxito. As câmaras e objectivas ignoraram-no, procurando o responsável pela vantagem. 

A hora de Barroso surgiu mais tarde, já depois de Jardel empatar. A bola fora por ele depositada na marca de penalty e só Tiago, guarda de uma significativa mancha de rede, lhe poderia negar a vitória e a oportunidade por que esperara um jogo inteiro. Convenceu Tiago a lançar-se para o lado errado e não falhou. Correu a procurar Fehér na bancada e expôs a mensagem: «Para o Miklos Fehér». As máquinas fotográficas podiam então disparar demoradamente sobre o seu peito. 

«Um excelente jogador» 

«Ele é um excelente jogador, que fez muito pelo Braga», explicou Barroso ao Maisfutebol, menos de 24 horas decorridas sobre a homenagem. «Aqui toda a gente gosta dele». E a dedicatória, esclareceu, ganhava especial sentido pelo momento que o húngaro vive. «Está a passar por uma situação muito complicada e eu sei disso, porque também já passei por algo igual». 

Incapaz de perceber por que Fehér foi relegado para a equipa B do F.C. Porto, Barroso faz seus os lamentos do húngaro: «É uma tristeza um jogador como ele estar numa situação destas. Quem trabalha como ele não deveria estar do lado de fora do nosso futebol». Está, contudo, convencido de que o amigo saberá reagir e dar a volta por cima: «Ele sabe muito bem o que quer e resolverá em breve a vida dele». Enquanto Fehér não se decide, Barroso socorre-se da sua experiência e avisa: «Nessas alturas, por vezes, tomam-se decisões precipitadas». Por isso tinha decidido. «Devemos apoiar o Fehér!». 

No final do encontro, o húngaro estava sensibilizado, chegando a confessar que a voz se lhe embargou quando trocava um abraço com Barroso. «Não estava à espera», disse. «É a primeira vez que me fazem uma coisa assim. Fiquei muito comovido e quase chorei. Para mim, o Braga é uma família. Estive melhor no Braga do que estou agora no Porto». O que parece ser óbvio...