«Enquanto alguns países tentaram solucionar as coisas através do físico, e outros através do quadro negro, a Espanha começou a resolver os seus problemas a partir da bola.» 

- Como interpreta o sucesso das equipas espanholas na última Liga dos Campeões, com três representantes nas meias-finais?  

- É um sintoma inquestionável da saúde do futebol em Espanha, por contraste com uma Liga dos Campeões que foi globalmente pobre. É preciso deixar passar o tempo para perceber se as equipas espanholas vão confirmar tudo o que de bom fizeram este ano. 

- Essa saúde do futebol espanhol assenta naquilo que designa por projectos futebolísticos ou passa apenas pela força do dinheiro? 

- O principal defeito do futebol espanhol transformou-se numa vantagem. A Espanha nunca teve um estilo definido, o que para mim é um defeito. A vantagem é que isso lhe permitiu, num dado momento, assimilar ideias muito distintas. Nos últimos anos passaram pela Liga treinadores espanhóis, argentinos, italianos, portugueses, britânicos, alemães, holandeses e todos tiveram permissão para tentar impor o seu estilo próprio. Isso enriqueceu muito o futebol espanhol. Na minha opinião houve três elementos muito importantes neste processo: Cruijff, no plano ideológico; a «quinta del Buitre», que marcou uma época no Real Madrid; e, por último, um novo discurso jornalístico, que provocou um debate aceso, a favor do bom futebol. Este não é um discurso dominante, mas é, pelo menos, influente. E enquanto alguns países tentaram solucionar as coisas através do físico, e outros através do quadro negro, a Espanha começou a resolver os seus problemas a partir da bola. 

- Um fenómeno extensivo à selecção, com a chegada de Camacho... 

- Sem dúvida. Esta selecção projecta os valores actuais do futebol em Espanha ou, melhor, a sensibilidade do adepto espanhol.