«Del Bosque é um treinador que recorre ao bom senso, coloca os jogadores nas posições correctas e dá-lhes liberdade criativa. São princípios importantes, que por vezes passam para segundo plano por força dessa tendência para transformar os treinadores nas principais estrelas da equipa.» 

- O figurino da Liga dos Campeões tem sido alvo de críticas generalizadas... 

- A fórmula aplicada esta época, com duas «liguillas» consecutivas antes dos jogos decisivos, dava à equipa que chegasse a Março em muito boa forma física todas as hipóteses de ser finalista, independentemente do que tivesse feito para trás. Mesmo jogando mal, as equipas com plantéis mais fortes tinham tudo para seguir em frente. O Real chegou bem a Março, com jogadores fundamentais em boas condições físicas e com uma equipa futebolisticamente reencontrada. Até lá, sobreviveu, apesar de ter perdido duas vezes com o Bayern e de ter jogado mal em diversas ocasiões. No futuro, com os confrontos directos a começarem mais cedo, as exigências vão ser maiores. 

- Curiosamente, numa altura em que os treinadores têm vindo a substituir os jogadores como primeiras figuras mediáticas, o campeão europeu é orientado por um técnico de «low-profile»...  

- Esse é um dos aspectos positivos na vitória do Real Madrid. O facto de a final ter sido tão claramente dominada por três jogadores fundamentais (Redondo, McManaman e Raúl) vem colocar as coisas numa proporção mais correcta. Del Bosque é um treinador que recorre ao bom senso, coloca os jogadores nas posições correctas e dá-lhes liberdade criativa. São princípios importantes, que por vezes passam para segundo plano por força dessa tendência para transformar os treinadores nas principais estrelas da equipa. Para mim, os jogadores são sempre o mais importante. 

- Levando as suas ideias ao limite, deveríamos caminhar para um futebol dirigido pelos jogadores, ou por ex-jogadores? 

- Não, acho que jogar e dirigir são profissões distintas. O que faria falta, sim, era que nos escalões de formação, em vez de treinadores houvesse professores. Seria uma preparação muito mais sensata para que, na chegada ao profissionalismo, os jogadores estivessem prontos para actuar de outra maneira. Mas se a pressão começa logo no início das carreiras é difícil modificar as coisas mais tarde.