Trata-se de uma queda épica que deixa mais pobre a Liga portuguesa. A história do futebol luso habituou-se a ver V. Guimarães e Belenenses morderem os calcanhares aos grandes, habituou-se a vê-los nas competições europeias, habituou-se a vê-los ganhar Taças de Portugal. Habituou-se a vê-los. Ponto final. Ora como não é normal olhar para a Liga e não ver lá V. Guimarães e Belenenses, o Maisfutebol foi ouvir o que têm a dizer, lá de longe, nomes que conseguiram coisas grandes pelos dois clubes.
Começou por Marinho Peres. O brasileiro tem a enorme curiosidade de ter passado por V. Guimarães e Belenenses. Desde Sorocaba, onde passa férias, Marinho não evitou um palavrão quando confirmou que Belenenses descera mesmo. «Eu tinha visto no jornal mas não dizia que tinha sido o último jogo. Que azar!», adiantou. «É muito triste, são dois clubes de tradição no futebol português, são dois clubes de tradição nas provas europeias, mas infelizmente no futebol qualquer erro significa o insucesso».
«Custa-me a descida dos dois por igual, mas a do Belenenses é mais imprevista»
Marinho Peres fica a torcer agora pelo regresso de Belenenses e V. Guimarães à Liga o mais cedo possível. «Fazem falta ao futebol português». Em toda a conversa, porém, não mostrou em um único momento surpresa. «Chegou a altura deles. Todos os clubes passam por isso. Aqui no Brasil, nesta altura, acontece o mesmo a dois gigantes como o Palmeiras e o Corinthians. Às vezes não se prepara tão bem a época, comete-se alguns equívocos e então é normal que se caia na segunda divisão. É triste, mas é normal». Apesar disso, Marinho Peres diz que acaba por ser normal a agressividade dos adeptos decepcionados com o fim das equipas. «A revolta é normal. O V. Guimarães, por exemplo, não descia há 50 anos, não é? Então é normal que os adeptos não aceitem que isto aconteça. São dois clubes grandes em Portugal».
Desde o Brasil, de onde acompanhou a temporada nacional, Marinho Peres não consegue dizer qual descida lhe custa mais. «Magoam o mesmo as duas», responde. «O V. Guimarães foi o primeiro clube que me convidou para trabalhar na Europa. Foi em 86 e logo nessa primeira época consegui um terceiro lugar. Foi uma passagem fantástica pelo clube. No Belenenses aconteceu o mesmo. Vivi lá muitos e bons anos, consegui também um terceiro lugar na primeira época lá e ganhei uma Taça de Portugal». Por isso Marinho Peres diz que os dois dividem a mesma parcela do coração. Há apenas uma diferença. «O V. Guimarães esteve quase sempre em posição de descida, abaixo da linha de água. O Belenenses não, o Belenenses chegou a andar nos primeiros lugares da classificação. Por isso foi mais surpreendente e imprevista esta».