Quarentão. É oficial: um dos melhores jogadores do Manchester United (e da história do futebol) é quarentão. Ryan Giggs, o inesgotável, o interminável Ryan Giggs celebra hoje o seu quadragésimo aniversário e continua em grande forma. Já não é aquele jogador rápido de há… 15 ou 10 anos, mas a qualidade de passe e o posicionamento em campo estão cada vez mais aprimoradas.

Para além de celebrar o seu aniversário, o galês também comemora esta sexta-feira o 23º de ligação profissional ao Man Utd. Sim, Giggs assinou o primeiro contrato profissional a 29 de novembro de 1990, quando tinha 17 anos. Nunca vestiu outra camisola.

Giggs é assim: único. «Quando me estreei, olhava para o Brucey (Steve Bruce) e para o Robbo (Bryan Robson) e eles tinham 33 anos. Eu tinha 17, eles 33, e eu pensava que eles eram velhos. Agora, nem consigo imaginar o que os mais novos pensam de mim», comentou o jogador por estes dias, abrindo a hipótese de renovação de contrato: «Se isso acontecer, ótimo. Se não, não há problema. Se eu estiver bem e continuar a divertir-me, então sigo em frente».

A tal estreia de que Giggs fala aconteceu a 2 de Março de 1991, frente ao Everton. Dois meses depois, a 4 de Março, faz o primeiro jogo completo e estreou-se a marcar, logo na vitória por 1-0 sobre o Manchester City.



Não se sabe se vai continuar, parece ter condições para o fazer, mas se tal acontecer pode vir a atingir a barreira mítica dos mil jogos com a camisola do Manchester United. Parece algo inatingível, mas a verdade é que neste domingo, com o Tottenham, deverá completar o 953º encontro pelos red devils.

No futebol atual europeu só Javier Zanetti consegue construir algo semelhante, mas meramente por também ter 40 anos, porque no caso do argentino não houve a dedicação a um só clube, apenas porque nas primeiras três épocas como profissional atuou pelo Banfield. De qualquer forma, está no Inter de Milão desde 1995.

(Ainda há o caso de Rogério Ceni no São Paulo, também com 40 anos, mas já não é tão raro haver guarda-redes a chegar a esta idade na alta competição. No entanto, o brasileiro também só vestiu uma camisola como profissional e não deixa de ser um caso impar)



Em Old Trafford já todos prepararam a saída do galês, dando-lhe a oportunidade de treinar uma das equipas das camadas jovens, mas ninguém esconde que enquanto o médio continuar a querer jogar ninguém vai rejeitar a sua utilização. O treinador David Moyes agradece e aponta a exibição de Giggs esta semana contra o Bayer Leverkusen como prova de qualidade (jogou os 90 minutos na Alemanha, correu mais de dez quilómetros, fez uma assistência para Nani e ajudou a construir a maior vitória do United nas competições europeias fora de casa nos últimos 50 anos).

«As pessoas podem questionar a sua idade, mas ninguém pode colocar em causa a sua habilidade futebolística. É um jogador inacreditável e parece estar cada vez melhor. Ele é que vai dizer quando pretende parar», frisa o sucessor de Alex Ferguson.

O próprio Giggs desvaloriza a questão. «Acabo por me habituarmos a esta conversa sobre a retirada. Percebo que as pessoas me questionem num tempo, pois no desporto esta parcela da idade é importante. Recorde-me quando diziam que devia deixar o futebol depois da final de Moscovo em 2008. Seria o momento ideal para sair, mas isso já foi há cinco anos, o que significaria que iria perder outras duas finais da Liga dos Campeões e três títulos nacionais», frisou, não se cansando de dizer que ainda não chegou o tempo de pendurar as botas.

É de facto um fenómeno no futebol profissional de alta competição como o conhecemos e causa impressão nos outros jogador. «Durante o jogo um dos centrais perguntou-me como era possível que Giggs ainda jogasse tanto. Eu de certeza que não vou conseguir jogar até aos 40 anos. É incrível como ele ainda consegue jogar assim», confessou Wayne Rooney no final do jogo de Leverkusen.

Quem também tem razões para agradecer é Nani, que recebeu de bandeja a bola dos pés de Giggs para apontar um dos golos na vitória sobre o Bayer. O português ainda não tinha marcado esta época.



Jogar no Manchester United durante 23 épocas torna obrigatoriamente Ryan Giggs num dos jogadores com mais títulos da história do futebol: 13 campeonatos da liga inglesa, quatro Taças de Inglaterra, quatro Taças da Liga, nove Supertaças inglesas, duas Ligas dos Campeões, uma Supertaça europeia, uma Taça Intercontinental e um Mundial de clubes.

Nascido em Cardiff com o nome de Ryan Wilson (passou a Giggs após a separação dos pais), entrou no United aos 14 anos, depois de ter jogado pouco tempo no Deans FC, de Salford. Rapidamente Alex Ferguson percebeu o seu talento e não surpreendeu quando assinou o primeiro contrato de profissional quando ainda era menor de idade. Incrível como já tinha tanta qualidade aos 15 anos, quando representava as escolas de Salford num torneio.



Foram tantos os momentos na sua carreira que ficaram marcados na memória futebolística dos adeptos. Desde logo aquela final de 1999, em Nou Camp, quando o Manchester United deu a volta ao jogo com o Bayern Munique nos minutos de desconto para conquistar a Taça dos Campeões Europeus. O primeiro dos dois golos, apontado por Sheringham, surge na sequência de um remate de Giggs. Dez anos depois, o galês foi novamente campeão europeu, no dia em que bateu o recorde de 758 jogos pelo United, que pertencia a Bobby Charlton. A decisão contra o Chelsea foi decidida nos penalties.

Refinado no toque, inteligente no posicionamento em campo, altamente respeituoso para com os colegas, marcou 169 golos na carreira e nunca foi expulso pelo Manchester United. A única vez que viu um vermelho, e por acumulação de amarelos, foi ao serviço do País de Gales, em 2001. O facto de ser galês foi sempre um impedimento para novas conquistas, pois nunca conseguiu estar presente na fase final de um Europeu ou Mundial. Aliás, já deixou de jogar pelo seu país em 2007.

Todos os jogaram ao seu lado partilham experiência inesquecíveis. E foram tantos os craques que trocaram passes com Giggs. De Eric Cantona a David Beckham, passando por Roy Keane, Peter Schmeichel, Bryan Robson, Ruud van Nistelrooy e Wayne Rooney, para além dos portugueses Cristiano Ronaldo e Nani. No balneário ainda partilhou conversas com Carlos Queiroz.

Para a história ficam muitos dos seus golos, mas os verdadeiros entusiastas gostam de recordar o que marcou ao Arsenal em 1999, na meia-final da Taça de Inglaterra. Giggs foi suplente em Villa Park, mas viria a entrar em campo a tempo de marcar um dos golos mais marcantes da história da competição. Recupera uma bola no seu meio-campo,após mau passe de Patrick Vieira, e começa a percorrer em direção à baliza adversária, superando todos os adversários que lhe apareciam para frente até que rematou com estrondo para o fundo da baliza de David Seaman.

O United eliminava o Arsenal, Giggs celebrava loucamente no relvado, tirava a camisola e mostrava os pelos no peito (naquela altura os jogadores tinham pelos no peito...). Puro Giggs. Um jogador sem paralelo.