«O tempo cura muitas feridas. Hoje em dia dou-me muito bem com Luís Filipe Vieira». As palavras pertencem a António Fiúsa, presidente do Gil Vicente, e relembram um das mágoas do passado do clube. A final da Taça da Liga permite recuperar a memória de um caso que foi parar aos tribunais.

Temporada 1997/98, Liga de Honra. Fiúsa era vice-presidente do Gil, Vieira liderava o Alverca. Os ribatejanos garantiram a subida de divisão, com dois pontos de vantagem sobre os minhotos.

«O Alverca era a equipa-satélite do Benfica. De acordo com os regulamentos, não podia subir de divisão. Mas naquela época estavam a fazer um bom campeonato e andavam nos primeiros lugares. Como iam em segundo ou em terceiro, lembraram-se de deixar de ser um satélite do Benfica», explica António Fiúsa ao Maisfutebol.

O presidente gilista vai mais longe. «Havia jogadores que numa semana jogavam no Benfica e na outra no Alverca», o que, no entender dos gilistas, serviria de base a uma reclamação. Não adiantou de nada: «Fomos para Tribunal, fizemos barulho e nada.»

«O presidente da Assembleia Geral da Federação alterou os regulamentos à pressa para ainda ir a tempo de eles conseguirem subir nesse ano. Os regulamentos foram alterados a faltar quatro ou cinco jornadas para o fim do campeonato. Foi uma vergonha nacional.»

«Mais um exemplo de chico-espertismo»

Dinis Resende não esquece essa temporada. Antigo defesa-central, barbudo, Sandokan como alcunha, figura incontornável nas cadernetas. Representou o Gil Vicente entre 1997 e 2000.

«Lembro-me perfeitamente. Tínhamos apostado forte na subida e descurámos um pouco o Alverca. Como eram equipa-satélite do Benfica, até puxávamos por eles quando defrontavam os outros candidatos à subida», recorda.

Sousa, José Soares, Bruno Basto e Hugo Leal jogaram pelos dois clubes na mesma época. Alverca e Benfica, Benfica e Alverca. Depois, havia Deco, Maniche, Caju. «Tudo do Benfica!»

«A poucas jornadas do final, em mais um exemplo de chico-espertismo dos responsáveis pelo futebol português, o Alverca depois de ser considerado satélite e subiu. Ainda fizemos barulho na rua mas nada. Curiosamente, é o que querem fazer com o alargamento: mudar as regras antes do final da época. Não faz sentido», frisa Dinis, ao Maisfutebol.

Dinis Resende é o atual diretor-técnico da formação do Boavista. Também ali perdura o sentimento de injustiça. «No fundo, estes casos provam que o nosso dirigismo tem de ser mais profissional. Estão em causa instituições e pessoas. Tem de haver responsabilidade civil nas decisões que tomam.»

Polémica com o Maia e o caso Mateus

O Gil Vicente é um clube de lutas. Queixa-se de várias injustiças. Antes de Mateus, o Alverca/Benfica. Ainda antes, o caso Maia. Foi na época 1989/90, que acabaria por levar o clube de Barcelos pela primeira vez à Liga.

«Fomos jogar ao campo do Maia. Estávamos a ganhar 2-0 a um quarto de hora do fim, mais ou menos. E depois apagaram a luz. Pedimos uma inspeção à EDP que garantiu que não houve qualquer falha técnica. Desligaram a luz», garante Fiúsa.

O Conselho Disciplinar da Federação deu a vitória ao Gil Vicente por 3-0 e multou o Maia em 200 Contos. Por pouco tempo. A decisão foi anulada e o jogo repetido. Num clima tenso, os locais venceram.

E claro, o Caso Mateus. João Trigueiros estava na direção aquando de toda a problemática e não tem dúvidas. O clube esteve mesmo em risco de fechar. Salvou-se e está agora a viver momentos históricos.

«O Gil esteve quase para acabar. Foi por um triz. O que salvou o Gil? Não posso dizer. Há algumas coisas que não são para divulgar, porque envolvem outras pessoas. Havia uma corrente grande para acabar com o futebol profissional e se acabasse o clube também não ia durar muito», conta.