19 de Agosto de 1990. A data está marcada a letras douradas na história do Gil Vicente. O clube de Barcelos realiza, então, o primeiro jogo da sua história no principal escalão do futebol português. Palco? O Estádio da Luz, com um Benfica que, também naquela altura, vinha de uma temporada em que tinha deixado fugir o título para o F.C. Porto. Esperanças renovadas nos encarnados, portanto, e, pela frente, um rival ainda a olhar com ar de espanto para o novo ambiente.

Rodolfo Reis era o timoneiro dos barcelenses. Tinha conseguido, na temporada anterior, o feito histórico de subir a equipa à I Divisão e ficou ao comando de uma equipa que permaneceu, praticamente, inalterada. «Era um pouco como agora, a estrutura manteve-se e apanhar logo o Benfica gerava sentimentos diferentes. Motiva uns e, acredito, atemorizava outros», brinca, no início da conversa com o Maisfutebol.

Agora, tal como há 21 anos, o Benfica apadrinha o regresso do Gil Vicente ao convívio dos grandes. Desta feita, em Barcelos. O ambiente em torno da equipa, acredita Rodolfo, será diferente. «Na altura a equipa era muito inexperiente. Tudo era novo para eles. Lembro-me pouco do jogo, que perdemos 3-0, mas sei que lhes passei uma mensagem simples: sintam-se à vontade. Se o Benfica ganhasse era um resultado normal. Se o Gil empatasse ou ganhasse, era extraordinário. Como agora», frisa.

«Padrinho Benfica? Foi o melhor que podia ter acontecido»

Aliás, o então técnico dos barcelenses nem tem dúvidas em afirmar que defrontar o Benfica no primeiro jogo de sempre na Liga principal foi «o melhor que podia acontecer ao Gil Vicente». «Depois de jogar na Luz, como seria se fosse nas Antas ou em Alvalade, podia vir qualquer um. Não havia ambiente que atemorizasse», atira, entre risos.

Como se referiu, a estreia foi amarga, porque o Benfica ganhou 3-0. Praxe dura para o caloiro. «Como lhe disse lembro-me de pouco desse jogo. Recordo-me muito melhor do jogo da segunda volta, onde o Benfica esteve a ganhar 3-0, fizemos o 3-2 e acabámos em cima deles. Mas é o jogo da Luz fica como o primeiro de sempre na Liga de uma equipa muito boa que conseguiu fazer história em Barcelos», sublinha.

A equipa do Gil Vicente integrava, de facto, nomes que viriam a dar que falar no futebol português. Capucho, Folha, Paulinho Cascavel, Mangonga, Miguel, Tuck, o malogrado Rui Filipe ou Valido, campeão de Riade. Entre eles...Paulo Alves.

«Paulo Alves foi dos melhores profissionais do futebol português»

O actual técnico do Gil Vicente foi suplente utilizado no jogo de estreia da equipa que, agora, orienta. Rodolfo não esconde a admiração pelo treinador do Gil Vicente: «O Paulo Alves foi dos melhores profissionais de futebol que Portugal conheceu. Teve lesões gravíssimas e a carreira em risco ainda muito jovem, mas nunca virou a cara à luta. Chegou ao Sporting e foi internacional. Era um jovem de quem sempre gostei.»

E, de treinador da estreia, para treinador do regresso, fica uma última mensagem. «O Gil Vicente só precisa de ter ambição. Jogadores ambiciosos fazem a diferença e acredito que vão dar muita luta ao Benfica. Depois, se as estrelas do Benfica estiverem inspiradas, há muito pouco a fazer. Mas na disputa de bola e na entrega tem de ser renhido. Quando ao Paulo não tenho dúvidas: tem tudo para ter uma carreira como treinador superior à que teve como jogador», antevê, em jeito de conclusão, Rodolfo Reis.

A estreia do Gil Vicente na Liga

Estádio da Luz, 19 de Agosto de 1990

Árbitro: Miranda de Sousa

Benfica: Silvino, Veloso, Ricardo Gomes, William, Fernando Mendes, Schwartz, Valdo (Pacheco, 71), Vítor Paneira, Thern (Paulo Sousa, 56), Lima e Rui Águas.

Treinador: Sven Goran Eriksson

Gil Vicente: Silvino Morais, José Nuno Azevedo, Zé Carlos, Valido, Valdir, Rui Carlos, Cabral, Rui Filipe (Capucho, 64), Rosado, Mangonga (Paulo Alves, 53) e Folha.

Golos: Vítor Paneira, 18; Ricardo, 48 e Rui Águas, gp, 62