Uma entrada terrível, um futebol inconsistente e cabeça quente quando se pedia tranquilidade. Explicar a derrota do Sporting em Barcelos passa muito por esses argumentos. Mesmo que a equipa tenha sido superior ao Gil Vicente em largas partes do desafio, não foi suficiente para levar um ponto que seja do Minho.

A época do Sporting tem tido muita coisa, mas do que nenhum adepto leonino se pode queixar é de monotonia. Antes, o percurso dos leões esta época tem tido os ziguezagues de um aventureiro em Las Vegas. Altos, baixos, pouca continuidade. Boas exibições, bons resultados, outros terríveis. Ao contrário do que acontece na cidade norte-americana, onde se diz que o que lá se passa, por lá fica, os males leoninos estão bem expostos.

O jogo em si acabou por ser uma manta de contrastes bem tecida. Depois da gloriosa noite de Manchester, esperava-se um Sporting mais assertivo de início, frente a um Gil Vicente que vinha de quatro jogos seguidos sem ganhar. Mas não.

FICHA DE JOGO

Paulo Alves começou a ganhar a batalha ao ex-companheiro Sá Pinto no esquema apresentado. Miolo reforçado, dois falsos extremos e Vieira a prender os centrais. O Sporting não construía. O Gil controlava, sem precisar jogar muito.

É verdade que o golo de Rodrigo Galo, numa iniciativa individual de belo recorte, colocou o Gil Vicente na posição pretendida logo aos 15 minutos. A ganhar, a equipa virava-se para a sua especialidade: o contra-ataque. Ficaria por cima? Nada disso.

O Sporting crescia, também sem brilhar. Ganhava fôlego num remate de Schaars a rasar o poste, via Adriano negar o golo a Insúa num livre e acabava a primeira parte a parecer que ia marcar a qualquer momento. O intervalo salvou o Gil que ganhou tempo para assentar ideias e resfriar a cabeça.

A dúvida Matías e os penalties da desgraça

O problema é que, mesmo na segunda parte, o futebol do Sporting foi completamente inconsistente, como se disse. Muita posse de bola, muita variação de flancos, muitos cruzamentos para uma área dominada pelos centrais gilistas e onde Wolfswinkel parecia um objeto estranho.

Faltava imaginação. Ficou no banco, aliás. Matías estava a ser o melhor homem do Sporting até ser substituído. Lesão? Só isso explicará. Sá Pinto arriscou ao mudar muito com uma desvantagem tangencial. Tirou Polga, colocou Elias a central. Lançou Jeffrén, puxou Izmailov para o meio e reforçou-se com André Martins. Aposta de risco. Dedo de treinador. Não resultou.

A estratégia até estava a empurrar o Gil Vicente, mas um erro de Bruno Paixão entregou o jogo aos barcelenses. Um erro, sim. O juiz de Setúbal viu mal a mão de Schaars (foi fora da área), mas esteve bem ao assinalar a mão de João Pereira. Se não o fizesse, estaria a emendar um erro com outro, o que nunca é solução.

Cláudio tinha falhado o primeiro penalty, mas não desperdiçou o segundo.

Os destaques

A entrada imprudente de Schaars sobre Guilherme, que lhe valeu o segundo amarelo, apenas confirmou o destino traçado logo no pontapé fulminante de Rodrigo Galo: o Sporting volta a perder pontos na Liga. A embalagem ganha em Manchester durou quatro dias. Há um novo desaire para digerir. Que podia até ser mais pesado se Zé Luís, na cara de Rui Patrício, não tivesse atirado ao poste.

Fora de portas, o leão não vence desde 30 de Outubro, frente ao Feirense. É muito tempo. Cai ainda para 5º lugar em jornada improvável: o Marítimo até tinha empatado.

Já o Gil Vicente completa o pleno caseiro frente aos grandes: roubou pontos a todos. Benfica empatou, F.C. Porto e Sporting perderam. Mérito para uma equipa organizada e sem grandes estrelas, que, na quinta-feira, batalha pelo bónus da Taça da Liga com as costas forradas pelos 26 pontos no campeonato.