A fome deu em fartura. Para quem não ganhava na Liga há um mês, nada mau terminar com a crise de resultados com uma vitória gorda. Cinco golos sem resposta. A melhor marca do campeonato até ao momento (iguala os 5-0 do Belenenses ao Penafiel), reflexo do domínio absoluto do Gil Vicente sobre um frágil e inocente V. Setúbal. Depois de uma primeira volta diabólica, os sadinos estão irreconhecíveis. Do ponto de vista defensivo, uma autêntica lástima. E a equipa de Barcelos agradeceu, fugindo aos lugares perigosos do campeonato.
Dois golos em três minutos selaram uma vitória fácil, justa e que só não ganhou contornos mais dramáticos porque o guarda-redes Marco Tábuas fez duas defesas de bom nível ainda na primeira parte. A entrada do Gil Vicente em campo foi destemida, com Carlitos a transformar-se na figura do jogo (dois golos e uma assistência), na sequência de uma boa postura ofensiva e de um meio-campo que soube pressionar o adversário. Para quem estava aflito, para quem precisava de pontos para fugir aos lugares perigosos, um início assim caiu do céu.
E caiu mesmo, porque aos 17 minutos os gilistas venciam por 2-0 (Carlitos e Rovérsio) e o V. Setúbal era a cara de uma desgraça anunciada. Os sadinos revelaram falhas gritantes do ponto de vista defensivo e nunca tiveram no meio-campo um suporte suficiente para colocar a bola no ataque. Não construíram uma jogada com princípio, meio e fim, não foram acutilantes, não foram destemidos, bem pelo contrário. Desde cedo que se viu uma equipa fragilizada e diferente daquela que fez sensação durante a primeira volta do campeonato.
Sadinos arriscam, mas pouco
Chegou-se ao intervalo e o Gil Vicente vencia por dois golos. Hélio Sousa alargou a frente de ataque, colocou Fonseca no eixo, mas isso de nada serviu. Não basta ter unidades no ataque quando a bola não chega à frente em condições. E o meio-campo do conjunto da casa foi sempre superior, bem mais articulado e com inteligência suficiente para explorar o filão dos flancos. Carlitos, na direita, fez estragos; Nandinho, no lado contrário, seguiu o exemplo do colega; Mateus (estreia absoluta na Liga) foi determinante numa posição de risco, atrás do ponta-de-lança Carlos Carneiro. Marcou um golo e deu outro a marcar.
Perante um V. Setúbal que não dava indícios de recuperação, o futebol praticado pelos gilistas foi suficiente para mostrar ainda mais fragilidades de uma defesa presa por arames. Os três golos do segundo tempo (Carlitos, Carlos Carneiro e Mateus) surgiram com facilidade e como consequência directa de um adversário que cedo deixou de estar em campo. A forma como os sadinos perderam esta tarde é um sinal de alerta e que remete para outros casos próximos no futebol português, de equipas que fizeram grandes primeiras voltas e depois quebraram na recta final. E é aqui que conta.
Arbitragem irregular do árbitro Jorge Sousa, que perdoou uma grande penalidade a favor do Gil Vicente no início do jogo.