Foram 22 jogos e três golos, entre campeonato, Taça do Rei e Liga dos Campeões. Para se ter uma ideia da desilusão que foi a passagem de Jackson Martínez pelo Atlético Madrid, basta recordar que, no seu ano de estreia no FC Porto, precisou de apenas quatro jogos para fazer os mesmos três golos.

 

Em três temporadas de dragão ao peito, de resto, o colombiano fez 31 golos, depois 29 e, por fim, 32, entre todas as competições. Foi sempre o melhor marcador do campeonato e possui a melhor marca desde Mário Jardel, a par de Oscar Cardozo (2009/10), com os 26 golos que apontou na Liga 2012/13, o seu ano de estreia na Europa.

 

O que aconteceu, então, na capital espanhola? A qualidade de Jackson é sobejamente conhecida de quem assistiu aos últimos anos da Liga portuguesa, pelo que é impossível acreditar na tese de falta de categoria. A questão passará, essencialmente, pela falta de adaptação a uma nova realidade e, até, a uma nova forma de jogar, que não favorecia as características de Jackson.

 

Está longe, aliás, de ser algo raro na história do futebol. Vários foram os jogadores de créditos firmados que viveram temporadas abaixo do que tinham feito antes e fizeram depois. Acidentes de percurso, quase sempre. Porque a máquina de fazer golos por muito afinada que esteja, corre sempre o risco de encravar…

 

-Luís Fabiano no FC Porto

 

Um caso evidente de dificuldade em adaptação à Europa. Com números astronómicos no São Paulo, o «Fabuloso» chegou a Portugal já com o peso de uma falhada experiência no Rennes, reabilitada com muitos golos no Brasil. Em 2003, na mais produtiva da época foram 46 em 51 jogos. No FC Porto foi uma sombra. A equipa de Victor Fernandez tinha homens do calibre de Benny McCarthy, Derlei ou Carlos Alberto para a frente, mas a esperança é Fabiano. Em 27 jogos fez três golos. Os adeptos perderam a paciência e, mais tarde, o clube também. No final da temporada vendeu-o ao Sevilha onde…explodiu. Começou moderado com apenas sete golos no primeiro ano, mas, ao contrário do que aconteceu em Portugal, o emblema espanhol não desistiu dele e Fabiano respondeu: 15 golos no ano seguinte e em 2007/08 chegou aos 34 na melhor época de sempre na Europa. Tornou-se goleador de referência e afirmou-se na seleção.

 

-Fernando Torres no Chelsea

 

Este é dos casos mais famosos. Até ao mercado de inverno de 2010/11, quando trocou o Liverpool pelo Chelsea, Fernando Torres era um goleador respeitado. Dos melhores avançados da Europa. Idolatrado em Madrid, pelos fãs do Atlético, e em Liverpool, também. Campeão da Europa e do Mundo. A época não lhe estava a correr particularmente bem mas já levava 9 golos nesse ano pela equipa de Kenny Dalglish. Não foi estranho que Roman Abramovich tenha aberto, mais uma vez, os cordões à bolsa para o contratar. Estranho foi o que se seguiu. Torres fez apenas um golo na segunda metade dessa época e no ano seguinte ficou-se pelos 11 em 49 jogos. O mundo do futebol satirizava-o e a verdade é que, mesmo tendo atingido uns mais normais 22 golos em 2012/13, Torres nunca mais foi o jogador que encantou o Vicente Calderón e Anfield Road.

 

-Ian Rush na Juventus

 

Recuemos uns anos até à década de 80 para analisar o eclipe de um dos maiores goleadores da história do Liverpool. Aconteceu…quando mudou de ares. O galês vinha de seis temporadas seguidas a marcar mais de 25 golos. Em 1986/87 chegou aos 40! A Juventus avançou para a contratação mas a época foi uma desilusão: apenas sete golos na Serie A. Voltou a Liverpool logo no ano seguinte e reencontrou-se, paulatinamente, com os golos. Não voltou a chegar aos incríveis 47 de 1983/84, mas, por exemplo, em 1992/93, fez 25. Um número que não envergonha nada, mesmo quando se fala de um goleador como Rush. No final da carreira explicou que não saber falar italiano o prejudicou muito na experiência em Turim.

 

-Diego Forlán no Man. United

 

Em 2001, o Manchester United foi ao Independiente, da Argentina, buscar um avançado uruguaio que começava a dar nas vistas e mostrava dotes de goleador. Tinha feito 20 golos na temporada passada e já levava 13 nessa. Aproveitando a janela de inverno, os ingleses avançaram para a contratação. Era preciso dotar a equipa de Alex Ferguson de maior qualidade ofensiva mas a resposta foi nula…nem um golo para amostra por parte de Diego Forlán, o jogador em questão. Seis golos na Premier League no ano seguinte, o primeiro completo, mas quatro em 2003/04 não convencem. Forlán recebe ordem de saída e muda-se para um clube em crescimento em Espanha, o Villarreal. Aí, virou a imagem do avesso. Logo no ano de estreia foram 24 golos e Bota de Ouro! Ficou duas temporadas e meia, mudou-se para o Atlético Madrid, continuou a marcar e a encantar. Foi eleito o melhor jogador do Mundial 2010, onde conduziu o Uruguai até ao quarto lugar final. Manchester foi só mesmo a exceção…

 

-Carlos Tevez no West Ham

 

Desde que se começou a mostrar no Boca Juniors, em 2003, que se esperava a chegada à Europa de Carlitos Tevez. Mas o avançado argentino surpreendeu ao assinar pelos brasileiros do Corinthians, num périplo por outro país sul americano (e com muitos, muitos golos), antes de avançar para o velho continente. A porta de entrada surpreendeu, contudo. O West Ham pescou os argentinos Mascherano e Tevez, mas a passagem de Carlitos pelo clube londrino esteve longe de ser fulgurante. Só à 29ª jornada fez o primeiro golo, acabando essa época com sete. Mudou-se para o Manchester United e chegou logo aos 19 golos, avançando para a carreira que se conhece, com passagens de sucesso por Manchester City e Juventus, ainda.

 

-Jean-Pierre Papin no Bayern Munique

 

É, ainda hoje, o único jogador de um clube francês que venceu a Bola de Ouro. Quando assinou pelo Bayern Munique, em 1994, já vinha de uma época abaixo do normal no AC Milan. Afinal de contas, falamos de alguém que foi cinco vezes seguidas o melhor marcador da Liga francesa, quando jogava no Marselha. Mas nada fazia prever pecúlio tão pobre na Baviera. Três golos em cada uma das épocas em que vestiu a camisola do Bayern. Para provar que foi, apenas, acidente de percurso, mudou-se para o Bordéus em 1996 e acabou esse ano com 18 golos. Suspirou. Ainda sabia como se marcava. A Alemanha era para esquecer…

 

-Mario Gómez na Fiorentina

 

Mostrou-se ao mundo no Estugarda e atingiu a impressionante marca de 41 golos no Bayern Munique versão 2011/12. Mesmo tendo feito «apenas» 19 no ano seguinte, foi uma contratação de luxo para a Fiorentina de 2013/14. Tinha 28 anos, estava ainda em momento alto na carreira e a mudança de ares poderia fazer-lhe bem. Nada feito. Apenas quatro golos na época de estreia na Serie A, caindo a pique de produção, a ponto de ter ficado de fora do Mundial 2014, na qual a Alemanha se sagraria campeã do mundo. Está a recuperar a forma na Turquia, onde em meia época já leva 16 golos pelo Besiktas.

 

-Thierry Henry na Juventus

 

Quando a França foi campeã do mundo em 1998 não tinha um ponta de lança de referência. O lugar era essencialmente ocupado por Guivarch, mas era usual que saíssem do banco dois miúdos do Mónaco de potêncial imenso: Trezeguet e Henry. Os dois iriam parar à Juventus. Mas se, Trezeguet, a segunda aposta, marcou uma era na «vechia signora», Henry, contratado logo em 1999 foi praticamente um flop. Apenas três golos em 18 jogos na Serie A. No ano seguinte, o francês foi vendido para Inglaterra tornando-se uma lenda do Arsenal: em cinco das oito épocas como «gunner» passou a barreira dos 30 golos. Só numa não chegou aos 20. E ainda foi a tempo de marcar posição no ataque do Barcelona em mais dois anos e meio com muitos golos à mistura…

 

-Shevchenko no Chelsea

 

Bola de Ouro em 2004, pelo Milan, onde era um ídolo e referência incontornável, mudou-se para Londres em 2006, para o Chelsea de Mourinho, que buscava cumprir o sonho do dono do clube de vencer a Liga dos Campeões. Mas o ucraniano, que até marcou um golo logo na estreia, na derrota com o Liverpool para a Supertaça, nunca conseguiu ser o mesmo de Milão. Passou fases de nove e dez jogos consecutivos sem marcar, parecia até triste muitas vezes. Acabou a época com quatro golos na Liga inglesa e no ano seguinte não foi além dos cinco. Para quem vinha de fazer 19 so no último ano em Itália…

 

-Falcao (Manchester United e Chelsea)

 

E encerramos com o caso da moda, atualmente. O que se passa com Radamel Falcao? O goleador que encantou no FC Porto e Atlético de Madrid, que cumpriu no Mónaco até à grave lesão que lhe roubou parte da época e o Mundial 2014, desapareceu, praticamente, desde então. Quatro golos em 29 jogos no Manchester United, no ano passado, e, neste, apenas um em onze jogos pelo Chelsea. Agora, até ficou de fora da lista para a Liga dos Campeões. É o único, a par de Jackson, nesta lista, que ainda tem de mostrar que estes números são acidentais e não consequência do declínio na carreira.