Paixão e golos, já foi assim na época passada, repete-se nesta. Mas mudou o primeiro nome. O protagonista agora é Flávio. O extremo português marcou neste sábado quatro golos num só jogo pelo Slask Wroclaw, numa vitória que deixou a equipa na frente do campeonato polaco à 13ª jornada, em igualdade com o Jagiellonia Bialystok. Flávio já leva 11 golos marcados. Está a ver se ganha avanço a Marco, o seu irmão gémeo, o goleador de referência da equipa.

«Tenho brincado com ele. Digo-lhe que tenho que lhe ganhar avanço, tenho que tomar alguma vantagem, para ver se ele não me apanha quando voltar», sorri Flávio. Marco, ponta de lança do Slask, apontou 28 golos na época passada, mas está há três meses afastado dos relvados. «Foi uma lesão no osso do tornozelo, ao lado da tíbia, uma pequena fissura no treino, teve de ser operado, parou três meses», conta o jogador português ao
Maisfutebol.

E então apareceu Flávio. Não se notou muito a diferença, e não foi apenas pelas semelhanças físicas entre os dois irmãos. Esta época, Flávio descobriu a sua veia goleadora. «Já tenho 11 golos na Liga e um na Taça, 12 golos. Sou um extremo, tanto jogo na direita como na esquerda, não é muito normal ter tantos golos nesta altura», diz.

Quando falou com o Maisfutebol, o extremo saboreava a sua tarde de glória, na vitória sobre o Lechia Gdansk. «Foi um dia fantástico, maravilhoso. Acreditámos sempre que podíamos vencer. Foi a primeira vez que marquei quatro golos na minha vida», assumia.

«Toda a gente me deu os parabéns. Houve muita gente que me deu os parabéns e me disse para continuar assim», conta, antes de descrever o primeiro desses quatro golos, que a Liga polaca não lhe atribui, considerando autogolo do também português Tiago Valente, do Gdansk: «É um toque dele. Quando eu chuto, a bola flete e vai para dentro.... O golo é meu. Se não chutar, como é que a bola vai entrar?» 

 

Para completar a felicidade de Flávio, uma excelente notícia para Marco: o avançado regressa aos treinos nesta segunda-feira. Momentos felizes para os dois irmãos, que fizeram carreiras também elas quase gémeas. Quando Marco regressar haverá de resto lugar para os dois. «Ele é o número 9, o homem golo», diz Flávio: «E este ano vai voltar aos golos.»

Flávio chegou ao Slask em janeiro deste ano, para voltar a reencontrar-se com o irmão, depois de um dos poucos períodos da carreira em que não estiveram juntos. Naturais de Sesimbra, ambos passaram pela formação do FC Porto, na equipa B dos dragões, tendo depois rumado a Espanha. Primeiro Marco, depois Flávio.

Voltaram-se a juntar-se na Escócia, no Hamilton, depois seguiu-se o Irão, para ambos, mas em clubes diferentes. Flávio foi para o Tractor, Marco para o Naft Tehran. Chegaram a ser adversários. Marco voltou primeiro à Europa. Jogou no Chipre, de onde começou a escrever crónicas para o Maisfutebol.

No início da época 2013/14 rumou à Polónia. Flávio esteve no Traktor, foi vicecampeão do Irão com Toni no banco. Depois, em janeiro deste ano, reencontrou-se com Marco. A adaptação foi fácil. «Gosto muito do clube, da cidade», diz. Além disso, estava ao lado do irmão.

Houve períodos em que as carreiras de ambos se afastaram e não foi fácil, conta Flávio. «É sempre difícil quando estás longe do teu melhor amigo. Mas é a vida, temos que ver isto de forma positiva», prossegue. Não é apenas uma questão de estabilidade emocional. O futebol de ambos ganha quando estão lado a lado, garante Flávio: «Quando estamos juntos o nosso trabalho melhora.»

Flávio divide nesta altura a liderança dos melhor marcadores com Platkowski, do Jagiellonia Bialystok, num campeonato que tem outro português, Orlando Sá, entre os goleadores: já leva seis nesta altura.

Goleadores com apelidos portugueses começam a ser regra na Polónia. «Agora também volta o Marco, para se juntar. Era bom acabarmos cinco ou seis portugueses no topo da tabela», diz Flávio: «É bom para Portugal e para os portugueses, que estão a mostrar que têm muita qualidade.»

Há muitos portugueses na Polónia, um campeonato que está a tentar subir de patamar. «É um campeonato que está a crescer, muito equilibrado, tanto a nível físico como tático. Tem vindo a melhorar muito, têm chegado muitos jogadores estrangeiros. Portugueses também, como o Hélio Pinto e o Orlando Sá», observa: «Saem muitos jogadores daqui para equipas de topo. O campeonato está a melhorar, há boas expectativas para que a Liga polaca suba de nível.»

O Slask está na linha da frente. Flávio diz que a ambição é alta no clube, que foi campeão polaco pela última vez em 2012, mas não vale a penar definir metas à distância. «Para já o objetivo é ficarmos nos oito primeiros quando terminar a primeira fase do campeonato, depois lutar por algo mais. Aqui já se fala que podemos ser campeões, mas temos que ir com cautela, para não se gerar confiança a mais.»

«Temos condições, somos uma das melhores equipas da Polónia. Temos uma boa equipa, um grande treinador que nos incentiva muito, grande esperança, é esse o caminho», garante: «E agora quando voltar o Marco vamos ficar mais fortes.»

O momento feliz na Polónia reaviva o sonho de sempre de Flávio: a seleção portuguesa. «Claro que ainda sonho com a seleção, é o meu objetivo desde miúdo. Acredito todos os dias, acredito muito que possa haver uma chamada», diz, sem hesitar: «Vale sempre a pena acreditar. Agora cabe ao mister Fernando Santos escolher. Se não nos chamar temos de trabalhar ainda mais. Trabalhar arduamente.»

Aos 30 anos, Flávio e Marco acreditam que estão agora a chegar a um patamar que pode fazê-los entrar no radar do selecionador. «A nível europeu nós não estivemos em clubes de grande destaque ao longo da nossa carreira. Agora estarmos a ter mais destaque. Este é o momento ideal também para dar outros saltos», diz Flávio, repetindo várias vezes a palavra acreditar, em jeito de lema: «Não há limites para o sonho. Temos de trabalhar dia a dia e acreditar sempre.»