David Cameron, o primeiro-ministro inglês, disse que «lamenta profundamente» a «dupla injustiça» da tragédia de Hillsborough, que em 1989 vitimou 96 pessoas num encontro entre o Liverpool e o Sheffield Wednesday. O Governo britânico pede assim pela primeira vez desculpas, depois de um relatório independente ter revelado que a polícia tentou atirar as culpas para os adeptos do Liverpool, para esconder as suas próprias falhas.

O relatório agora divulgado foi elaborado na sequência de uma investigação de dois anos aos documentos relacionados com a tragédia. O relatório concluiu que os principais problemas naquele dia foram a má organização do estádio e os seus problemas de segurança, bem como a resposta atabalhoada das autoridades.

A tragédia aconteceu quando milhares de pessoas tentaram entrar no estádio por acessos exíguos e sem condições, desencadeando um cenário de caos de que resultaram dezenas de pessoas esmagadas. As mortes aconteceram no setor dos adeptos do Liverpool, cuja imagem já estava estigmatizada por causa do desastre de Heysel, em 1985, e que serviram como bode expiatório.

«Esta tragédia nunca devia ter acontecido. Houve claras falhas operacionais em resposta ao desastre e depois houve tentativas de deitar a culpa nos adeptos», diz o relatório.

David Cameron falou no Parlamento sobre aquela a que chamou «uma das maiores tragédias em tempo de paz do último século»: «Foi errado as famílias terem tido de esperar tanto tempo ¿ e lutado tanto ¿ apenas para saberem a verdade. Foi errado a polícia ter mudado os registos do que acabou e tentado culpar os adeptos», disse: «Em nome do Governo, e do país, lamento profundamente esta dupla injustiça que ficou por corrigir durante tanto tempo.»

Esta foi a maior tragédia de sempre num estádio em Inglaterra e mudou o futebol britânico, nomeadamente a forma como as pessoas passaram a ver futebol. Depois de Hillsborough todos os estádios passaram, por exemplo, a ter obrigatoriamente apenas lugares sentados.