Stavros Drakoularakos*
Imaginem a cena: uma equipa de jogadoras gregas a dançar Sirtaki num aquecimento orientado por um internacional helénico. Isto aconteceu em Bochum, na Alemanha. As raparigas do Hellas Bochum nem queriam acreditam. O jogador em questão era Fanis Gekas, que terminaria a época como melhor marcador de Bundesliga (2006/07). Esse episódio resume o homem: nunca se sabe o que esperar dele.

A sua vida foi feita de altos e baixos. Muitos, muitos golos e muitos, muitos passos em falso. Gekas é um enigma, um enigma que precisa de estar ao seu melhor nível para que a Grécia faça boa figura no Euro2012.
O avançado começou a carreira no Toxotis e seguiu para o Larissa. Depois veio o Kallithea, sagrando-se o melhor marcador da segunda divisão com 14 golos em 26 jogos. Ajudou a equipa na subida à Super League. Em pouco tempo, convenceu o Panathinaikos.
E assim, na época de estreia na primeira divisão, foi de novo o melhor marcador. Também venceu o campeonato. Nada mau. Em 2006, foi cedido ao Bochum da Alemanha e explodiu.
De forma notável, sagrou-se o melhor marcador da Bundesliga frente a nomes como Klose e Makaay. Mesmo jogando numa equipa que lutava para não descer.

O desempenho valeu-lhe a transferência para o Bayer Leverkusen a troco de 2,8 milhões de euros mas, como sempre, ele não ficou por muito tempo. Marcou onze golos na primeira época e foi cedido ao Portsmouth.
Tony Adams avalizou a sua chegada mas o treinador foi despedido pouco depois e Paul Hart, o sucessor, nunca pareceu entender o futebol de Gekas.
Outra época, outro clube. De novo por empréstimo, Gekas jogou no Hertha de Berlim. Embora tenha marcado seis golos em dezassete jogos, a sua equipa foi despromovida.

Seguiu-se o Eintracht Frankfurt, responsável pela sua contratação em 2010. Continuou a marcar (23 golos em 48 jogos para o campeonato) mas, já no final da segunda época, Gekas percebeu que o seu tempo na Alemanha estava a terminar. Foi o quarto melhor marcador nesse ano, jogando num clube que viria a ser despromovido, mas ninguém o agarrou.
Gekas saiu da Alemanha debaixo de algumas críticas. Jogou cinco épocas no país e não aprendeu a língua. «Não sei como é possível alguém estar cinco anos na Alemanha e não ter a vontade de aprender a língua», desabafou Egon Loy, lenda do Eintracht. «Sou pago para marcar golos, não para falar», reagiu o internacional grego.
Em Janeiro de 2012, o avançado assinou pelo Samsunspor, sendo o primeiro jogador grego a representar um clube do primeiro escalão na Turquia. Marcou na estreia, depois fez um hat-trick.
«O meu tempo na Turquia e no Samsunspor é sem dúvida o melhor período da minha carreira». Mas continuará ele por lá depois do verão? Ninguém sabe, nem o próprio.

Pela seleção da Grécia, como pelos seus clubes, Gekas é sinónimo de golos. Foi o melhor marcador da seleção na qualificação para o Euro2008 e o melhor marcador europeu na qualificação para o Mundial de 2010.
A 9 de Setembro de 2010, Gekas anunciou o final da sua carreira pela seleção nacional, seguindo os passos de Sotiris Kyrgiakos e Ioannis Amanatidis, falando em «circunstâncias especiais dentro da equipa». Ao que parece, ele sentiu que Katsouranis estava a ter demasiada influência nas decisões da equipa.
Um ano mais tarde, o avançado pediu desculpas e voltou atrás.
Por tudo isto, no final de uma carreira longa e errante, Gekas acaba por ser o espelho de uma nação que tem sofrido muito nos últimos anos. Ele sabe que até um pequeno sucesso no Europeu seria importantíssimo para os seus compatriotas.
«Acredito que o desporto é a única coisa que resta para a Grécia neste momento.» São 154 golos em 259 jogos.
* Stavros Drakoularakos é editor do Sport24.gr. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.