Conhecidos os números, fomos à procura das razões. Quais os motivos que levam os clubes e os técnicos a apostar de uma forma cada vez mais evidente em guarda-redes estrangeiros?
Hugo Oliveira, técnico desta área no Gil Vicente e primeiro português a ter o certificado da UEFA para este trabalho tão específico, fala numa «realidade sem sentido». Rui Correia, ex-guarda-redes do F.C. Porto, do Sporting e da Selecção Nacional, sugere ao Maisfutebol a possibilidade de estarmos perante a concorrência de «mercados mais em conta».
«O atleta português possui qualidades inatas para a posição, mas em Portugal dá-se mais o benefício da dúvida a atletas que vêm de fora», lamenta Hugo Oliveira que, ainda assim, admite algumas lacunas na formação efectuada em Portugal.
«Não se treina com a qualidade desejada nas camadas jovens e isso é outro dos factores a ter em conta. Como há um trabalho irregular, as deficiências vêm ao de cima quando os atletas chegam aos seniores».
Estrangeiros de boa qualidade «são muito bem-vindos»
Pelo menos num aspecto Hugo Oliveira e Rui Correia estão de acordo: estrangeiros com valor são muito bem-vindos. «Se tiverem um nível semelhante ou inferior, não entendo a aposta em guarda-redes de outros países. Mas se acrescentarem qualidade, só tenho que elogiar», explica Rui Correia, que deixou há poucas semanas a equipa técnica do Portimonense.
Hugo Oliveira, firme nos seus argumentos, lembra o recente fluxo de brasileiros chegados para as balizas nacionais. E encontra apenas uma explicação para esse dado. «Talvez os técnicos procurem aproveitar o bom jogo de pés que normalmente eles têm. É uma qualidade importante para se iniciar com qualidade e rapidez uma transição ofensiva. Mas, neste caso, se o trabalho for bem feito os portugueses também podem garantir qualidade nessa vertente do jogo».
Reflexões feitas, Rui Correia chega à sua conclusão. «As responsabilidades desta invasão têm que ser divididas entre dirigentes e empresários. Os treinadores também têm a sua quota-parte, mas muitas vezes são-lhes impostos os atletas que treinam».
«O que é feito dos últimos titulares da Selecção Nacional de sub-21?»
No Gil Vicente, Hugo Oliveira trabalha com três guardiões portugueses. O experiente Paulo Jorge e os jovens Vitor Oliveira e Hugo Marques. Os minhotos são, de resto, um dos poucos clubes profissionais que se podem gabar de contar com um leque de guarda-redes totalmente português.
«Não podemos recear essas apostas. O que é feito dos últimos titulares da Selecção Nacional de sub-21? Bruno Vale, Moreira, Paulo Ribeiro¿ Isto é elucidativo», defende este técnico, que contribuiu para que Beto e Jorge Batista, dois atletas portugueses que andavam «perdidos» no Desp. Chaves e nos Dragões Sandinenses, chegassem à Liga Bwin.
Rui Correia, por outro lado, desmistifica a velha ideia que defende que os guarda-redes só são bons a partir dos 27/28 anos. «Nem pensar. Eu fui titular do Sporting com 19 anos. Quanto mais cedo se aposta num jovem, mais cedo ele adquire maturidade para actuar ao mais alto nível», conclui.