Obcecado por futebol e versado na arte de preservar amizades. Homem de rituais simples, vulgares, embora de família erudita. Educado no Colégio do Rosário, em plena Avenida da Boavista, André Villas Boas foi criança curiosa e adolescente tranquilo. Afinal, como tantos outros.

Num assomo de pertinácia cativou a condescendência de Bobby Robson, chegou à formação do F.C. Porto e deu mais tarde asas ao espírito aventureiro, desbravando as anónimas Ilhas Virgens Britânicas.

Mas antes, durante os tempos de escola secundária, o imberbe André tentou ser jogador de futebol. Privado do talento genético, foi atrás dos amigos para os juvenis do histórico Ramaldense, onde começou a jogar Humberto Coelho, por exemplo.

«Preferia rir do que fazer rir»

Carinhosamente apelidado de Cenourinha, não era o mais alto, nem o mais forte. Tão pouco o mais rápido e criativo do grupo. Era, isso sim, «o mais assíduo de todos», como recorda ao Maisfutebol Diogo João, antigo colega de bola e diabruras várias.

Primeira surpresa: «O André era o nosso guarda-redes suplente», confidencia o ex-companheiro de equipa. «Adorava treinar, mas jogava poucas vezes. Nos juniores acabou por fazer algumas partidas à frente. Era um defesa voluntarioso, de muita garra. Punha tudo em jogo.»

O dia em que um táxi fez 400 kms (e Villas Boas pagou)

Diogo partilhava também o recreio da escola com o agora treinador do F.C. Porto. Este amigo do passado lembra-se de um rapaz «discreto, pacífico e recatado». «Preferia rir com as piadas dos outros, do que contar as próprias piadas. Andava sempre connosco e fazia parte da nossa equipa do torneio inter-turmas. Não jogava especialmente bem com os pés, apenas se safava. Por isso ia para a baliza e lá fazia boa figura.»

A passagem pelo MGC e, claro, José Mourinho

O Ramaldense ficou para trás, a paixão pelo futebol é que não. André Villas Boas continuou perto de casa e foi jogar para o Marechal Gomes da Costa (MGC), um clube dos escalões amadores da Associação de Futebol do Porto. Sem especial brilho e sempre longe do nível dos melhores da equipa.

Apesar de adorar jogar, começou a retirar mais prazer da observação e da análise do fenómeno. Investiu na formação, passou horas e horas e desvendar as características de jogadores no Championship Manager, trabalhou nas camadas jovens do F.C. Porto e chegou à órbita extra-terrestre de José Mourinho. Sempre sem tirar os pés da terra.

«Encontrei-o uma vez no Dragão, já quando ele estava no Chelsea, e falámos como se fossemos colegas de escola ainda. Vi o mesmo rapaz agradável, acessível, sem ponta de vaidade», diz Diogo João, que deseja «a maior sorte do mundo» ao amigo Cenourinha neste novo desafio.