Sai Casillas, entra José Sá.

Para o jogo de Leipzig, de capital importância na Liga dos Campeões, Sérgio Conceição reservou talvez aquela que foi a maior surpresa dos últimos tempos num onze portista (mesmo considerando a titularidade de Sérgio Oliveira no Mónaco).

Uma eventual contusão de última hora do guarda-redes espanhol seria à primeira vista a justificação mais plausível para a sua ausência, mas no final do jogo o treinador do FC Porto esclareceu as dúvidas: «Casillas de fora foi opção técnica.»

E assim o guarda-redes com mais jogos na Liga dos Campeões, uma lenda do futebol mundial, ficou no banco para ceder o lugar na baliza a José Sá, que comprometeu no primeiro golo, na derrota do FC Porto diante do RB Leipzig (3-2).

José Sá em ação na derrota do FC Porto em Leipzig (3-2)

Fica a dúvida sobre se esta opção terá sido pontual ou irá manter-se.

Este tipo de mudanças inesperadas na baliza portista não são caso inédito.

Houve casos mais pontuais, como quando Mourinho fez entrar Nuno no lugar de Vítor Baía, na final da Taça de Portugal de 2004, contra o Benfica; tal como fez Jesualdo Ferreira com o mesmo Nuno no lugar de Helton, em 2010, também contra o rival encarnado na decisão da Taça da Liga. Ou até o mais recente caso de Andrés Fernandez, que Lopetegui apostou solitariamente num jogo com o Boavista, para a Liga (0-0 no Dragão) e com o Sporting na Taça de Portugal (1-3).

No entanto, há outras apostas mais perenes e de algum modo inesperadas que ficaram na história recente dos dragões.

Recordamos-lhe estes cinco exemplos que precederam Casillas.

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1.Sai Wozniak, entra Hilário

Jogo: Sporting-FC Porto, 6.ª jornada da Liga 1996/97

Precedente: O FC Porto ainda não tinha sofrido qualquer derrota em qualquer competição até àquela noite em outubro, ainda que viesse de um resultado negativo: 0-0 em casa com o Estrela da Amadora. De qualquer forma, até pela ausência de golos, a culpa não poderia ser imputada a Wozniak, dono da baliza que, longe de ser consensual, ia dando conta do recado. A chamada de Hilário, até por ser uma estreia absoluta no FC Porto, foi uma enorme surpresa de António Oliveira.

Como correu? O FC Porto ganhou em Alvalade com um golo de Edmilson e Hilário saiu como uma das figuras do jogo.

O que se seguiu? Hilário agarrou o lugar e encetou uma série incrível: sete jogos sem sofrer golos! Já era comparado a Vítor Baía, mas à 23.ª jornada, curiosamente após uma derrota com o Sporting, perdeu o lugar para Wozniak. No ano seguinte já só fez quatro jogos. Teria uma segunda oportunidade no FC Porto em 1999/00, mas também sem grande sucesso.

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2.Sai Ovchinnikov, entra Paulo Santos

Jogo: Alverca-FC Porto, 10.ª jornada da Liga 2001/02

Precedente: Paulo Santos começou a época como terceira escolha para a baliza, atrás do titular Ovchinnikov e do suplente Pedro Espinha – seria a quarta, mas Baía estava lesionado. No entanto, o guarda-redes contratado no início da época ao Alverca iria ser chamado à titularidade por Octávio Machado precisamente na deslocação ao reduto da equipa ribatejana. Uma decisão inesperada. No jogo anterior, Sergei Ovchinnikov havia sofrido três golos (3-1), mas com a atenuante de sido em Turim diante da Juventus para a Liga dos Campeões.

Como correu? Um golo de Capucho, a dez minutos do final, valeu o triunfo ao dragões (0-1). Na estreia pelos azuis e brancos, Paulo Santos manteve a baliza inviolável.

O que se seguiu? Paulo Santos não foi além de uma sequência de nove jogos a titular. Nos primeiros sete, o FC Porto ganhou seis e empatou um. Depois, uma derrota caseira (0-1) frente ao Sparta de Praga, para a Liga dos Campeões, seguida por outro desaire em Guimarães (2-0), na 14.ª jornada do campeonato, abriram as portas ao regresso expectável de Vítor Baía, recuperado de lesão, frente ao Sp. Braga.

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3.Sai Vítor Baía, entra Nuno Espírito Santo

Jogo: Boavista-FC Porto, 2.ª jornada da Liga 2002/03

Precedente: Vítor Baía começou o campeonato a titular e jogou na 1.ª jornada, num empate nas Antas contra o Belenenses (2-2), antes de alegar um problema de visão. Apesar de o guarda-redes ter sido dado como inapto pelo departamento médico, Mourinho não ficou convencido (e contou isso mesmo no seu livro) e lançou Nuno frente ao Boavista, no Bessa, da 2.ª jornada. A troca viria a tornar-se num caso.

Como correu? Nuno aguentou-se sem sofrer golos no dérbi da Invicta, que o FC Porto venceu (0-1) com um golo de Costinha.

O que se seguiu? Voltando ao caso: após perder a titularidade, Baía concedeu uma entrevista a um jornal desportivo com quem o FC Porto estava de relações cortadas e foi alvo de um processo disciplinar. O guarda-redes viria a pedir desculpa ao grupo de trabalho e ao clube e uma má exibição de Nuno em Leiria (2-2) viria a facilitar o seu regresso à baliza num triunfo (0-1) frente ao Áustria de Viena para Taça UEFA, que o FC Porto viria a conquistar nessa temporada. Depois desse período de nove jogos em que foi titular da baliza portista, Nuno voltou a jogar mais meia-dúzia de vezes – nas eliminatórias até à final da Taça de Portugal e nas últimas jornadas do campeonato, após garantido o título.

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4.Sai Vítor Baía, entra Helton

Jogo: FC Porto-Naval, 19.ª jornada da Liga 2005/06

Precedente: Na pré-época Co Adriaanse já havia deixado no ar alguma indefinição quanto ao dono da baliza. Vítor Baía começou a titular, porém, viria a perder o lugar na baliza a meio da temporada para Helton, que havia sido contratado à União de Leiria. A troca aconteceu depois de um jogo azarado na Amadora, em que o FC Porto foi derrotado pelo Estrela (2-1) e Baía teve uma exibição desinspirada. Helton, que dois jogos antes havia sido titular para a Taça frente à Naval, voltaria à baliza frente à mesma equipa, mas para o campeonato.

Como correu? A receção do FC Porto à Naval teve dificuldades inesperadas. A diferença no marcador (1-0) fez-se com um autogolo de Fernando, central da equipa da Figueira da Foz. Lá atrás, porém, Helton teve uma exibição segura.

O que se seguiu? O guarda-redes brasileiro agarrou o lugar. Vítor Baía passou para a condição de suplente e na época seguinte terminaria a carreira. Helton, por sua vez, acabaria por fazer mais de 300 jogos pelo FC Porto ao longo de onze épocas, até chegar a sua hora de deixar o clube em 2015/16.

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5.Sai Fabiano, entra Helton

Jogo: Benfica-FC Porto, 30.ª jornada da Liga 2014/15

Precedente: Julen Lopetegui apostou em Fabiano como dono da baliza ao longo de quase toda a época, até que no momento decisivo decidiu trocar. A goleada pesada do FC Porto em Munique (6-1), com uma péssima exibição a contrastar com a da primeira mão (vitória por 3-1 sobre o Bayern no Dragão), e a consequente eliminação da Liga dos Campeões, levou o técnico espanhol a fazer uma revolução no onze portista para o Clássico na Luz, diante do Benfica, que ajudaria a decidir o título de campeão nacional.

Como correu? O FC Porto precisava de vencer para alcançar o Benfica na liderança, mas não foi além de um nulo. Helton fez valer a sua experiência e rubricou uma boa exibição no regresso à baliza.

O que se seguiu? Helton manteve a titularidade nas jornadas que restaram da Liga. Na época seguinte, passou a ter a concorrência de Casillas, que ganhou a titularidade. Por sua vez, Fabiano foi emprestado.