* com Nuno Madureira

As ligas portuguesas vão ter 23 jogadores presentes no Campeonato do Mundo; curiosamente o mesmo número de jogadores que cada seleção tem disponível para a competição. Oito deles são portugueses, 15 são estrangeiros a jogar cá. Neste ano de 2014 houve mais um clube nacional a inscrever o nome na lista de emblemas presentes num Mundial através de jogadores estrangeiros que o representaram nessa época.

A estreia deste ano está com o Sp. Covilhã, clube da II Liga que vai ter o seu nome no Brasil através da presença de Alireza Haghighi, o guarda-redes iraniano que foi um dos selecionados por Carlos Queiroz. Haghighi veio jogar para Portugal com um objetivo claro: estar no Mundial do Brasil. E conseguiu esse objetivo. Com passagem pela Beira.

«Estamos atentos a tudo o que possa fazer no mundial. Os jogos do Irão são jogos em que o nome do Sporting da Covilhã vem à tona. E é um orgulho da nossa parte termos um atleta deste gabarito», diz ao Maisfutebol José Mendes, presidente do clube.

O dirigente confessa que não haveria «oportunidade de ter um atleta destes» se não tivessem sido os muitos amigos do Sp. Covilhã que existem «pelo país e pelo mudo fora». Com a lesão do titular Pedro Taborda em novembro, o Sp. Covilhã ficou apenas com um guarda-redes. Essa situação foi resolvida em janeiro com a chegada do internacional iraniano de 26 anos.

Haghighi chegou à Covilhã emprestado pelo Rubin Kazan, da Rússia. O jogador do Irão precisava de continuar a jogar para se manter entre as opções de Queiroz. Veio para o país do treinador português. Juntaram-se todos os úteis aos agradáveis.

José Mendes conta que «um amigo que é da zona da Covilhã falou dessa possibilidade de Haghighi vir para a Covilhã, com a lesão do Taborda, e para jogar o Mundial». A resolução entre as várias partes da equação tornou-se fácil de encontrar. De Haghighi, o presidente da Covilhã só tem elogios a referir: «Tem grande qualidade como jogador, tem potencialidades enormes e reconhecemos-lhe muito valor. É um rapaz muito tranquilo, um profissional exemplar.»

Em fevereiro, o internacional (sete vezes) pelo Irão estreou-se no futebol português.



A estreia foi com um empate. E foi premonitória quanto às vitórias dos verde e brancos da Beira. «Ele não foi muito feliz na Covilhã quanto aos resultados desportivos, pois não conseguimos ganhar um jogo com ele», refere José Mendes. Mas o presidente não atribui qualquer responsabilidade ao guardião nos três empates e nove derrotas: «Não lhe podemos atribuir culpas porque esteve sempre em bom nível. Só num golo em Oliveira de Azeméis é que saiu atrasado.»

«Andámos com falta de sorte. Ele teve um comportamento exemplar e grandes atuações. Só não foi feliz», considera o presidente explicando que «houve dificuldade de comunicação entre o guarda-redes e os centrais», mas que, sublinha, «não foi culpa dele». «Foi uma fase difícil da equipa, com castigos... Aconteceu tudo naquela altura em que ele começou a jogar», esclarece o dirigente dos covilhanenses.

Outras explicações normais surgem com as diferenças entre os falantes de português e de persa, especialmente quando há pouco inglês para fazer uma ponte. «Ele tinha dificuldade na língua portuguesa e uma enorme dificuldade na comunicação com os colegas. Aprendeu essencialmente para falar com os colegas. Falava inglês com a equipa técnica, com alguns jogadores, mas não era nenhum barra.» «E aprendeu o futebolês, como o «toma», o deixa»...

E também já deixou a Covilhã. «Voltou, mal acabou o campeonato, ao Rubin Kazan, com quem tem contrato de mais dois ou três anos», conta o presidente do emblema português revelando que a vinda para Portugal implicou sacrifícios para o iraniano: «Ele abdicou de alguns valores para jogar e acabou por ir ao Mundial.» Pois esse era, como já se disse, o seu grande objetivo: «Ele só falava do Mundial. Era uma obsessão, a de trabalhar para ir ao Mundial.»

«É um grande guarda-redes, impressionava o trabalho que fazia durante a semana, é um grande profissional. Era casa-trabalho, trabalho-casa», recorda José Mendes de quem «nos dias de jogo não comia peixe nem carne, só saladas». Haghghi é «uma pessoa muito tranquila» e contou na Covilhã com «o apoio de um amigo da terra dele». 

Nunca saía despenteado

O presidente conta que, na rua, o iraniano «não lidava com muita gente». «Não ia muitas vezes comer fora, não conhecia muitos sócios, não frequentava cafés, era casa-trabalho porque estava imbuído do espírito de ir ao Mundial». José Mendes revela ainda que a disciplina de Haghghi se estendia à sua imagem: «Nos treinos, nos jogos, cá fora, preocupava-se com a imagem que deixava: nunca saía despenteado, ou suado.»

«As pessoas da Covilhã seguirão o Irão pelo Carlos Queiroz e pelo Alireza», garante o presidente do Sp. Covilhã frisando que o guarda-redes «deixou amizade e carinho» no clube». «É gente boa, gostei de tê-lo cá, um grande guarda-redes», resume José Mendes. Agora, segue-se o Mundial de Haghghi.



O Sp. Covilhã torna-se assim o 21º clube português a ter jogadores presentes num Campeonato do Mundo – o 19ª com estrangeiros (Sp. Braga e Leixões só levaram portugueses). Os verde e brancos são também o quinto emblema na II Divisão nacional (depois de Portimonense, Barreirense, Varzim e Moreirense) a ter jogadores num Campeonato do Mundo.

Estes são os clubes portugueses com estrangeiros em Mundiais (os parêntesis à frente dos jogadores referem os que estiveram em duas provas - Halliche tem duas presenças por clubes diferentes: Nacional e Académica):

FC Porto (22): Madjer, Mlynarczyk, Branco, Demol, Kostadinov, Doriva, Chippo, Drulovic, Paredes, Pavlin, McCarthy, Alenichev, Lucho, Fucile (2), A. Pereira, Ghilas, Herrera, Reyes, Defour, Mangala, Jackson e Quintero
Benfica (18): Ricardo Gomes, Valdo, Aldair, Thern, Magnusson, Yuran, Schwarz, Hadrioui, Tahar, Zahovic, Luisão (2), M. Pereira (2), Di María, Cardozo, Ramires, Mantorras, Enzo Perez, Garay
Sporting (11): Yazalde, Meszaros, Ivkovic, Iordanov (2), Balakov, Valckx, Saber, C. Ramirez, M. Fernandez, Rojo, Slimani
Beira Mar: Abdel Ghany
Rio Ave: Maboang
Belenenses: Embé
Boavista: Sanchez, William Andem
V. Setúbal: Yekini
Farense: Hassan
Nacional- Diego Benaglio, Halliche, Pecnik
U. Leiria: Duricic
Moreirense: João Ricardo
Barreirense: Marco Airosa e Kali
Varzim: Figueiredo e Mendonça
Gil Vicente: Mateus
P. Ferreira: Edson
Portimonense: Marco Abreu
Académica: Halliche
Sp. Covilhã: Haghighi

As nacionalidades de estrangeiros de clubes portugueses num Mundial subiram nesta época para 27:

África do Sul: 1
Argélia: 4
Argentina: 6
Angola: 9
Bélgica: 2
Bolívia: 1
Brasil: 7
Bulgária: 3
Camarões: 3
Chile: 1
Colômbia: 2
Egipto: 1
Eslovénia: 3
França: 1
Holanda: 1
Hungria: 1
Irão: 1
Jugoslávia/Sérvia: 3
Marrocos: 5
México: 2
Nigéria: 1
Paraguai: 3
Polónia: 1
Rússia: 2
Suécia-: 3
Suíça: 1
Uruguai: 3

Neste Mundial 2014 as nacionalidades dos estrangeiros de Portugal são estas:
Argentina: Garay, Rojo, Enzo Pérez
Argélia: Ghilas, Slimani, Halliche
México: Herrera, Reyes
Colômbia: Jackson, Quintero
Uruguai: Fucile, Maxi Pereira
França: Mangala
Bélgica: Defour
Irão: Haghighi