Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

«Marquei 123 golos em toda a minha carreira, contando desde os 14 anos». Heitor Camarin Junior, atual Prefeito de Laranjal Paulista, apresenta um número impressionante. Esteve nove época no futebol português, sempre como lateral.

Heitor: de pé-canhão na Madeira a Prefeito no Brasil

Vitória de Guimarães, Nacional e Marítimo. Sempre em crescendo, cada vez com a mira mais afinada, era um dos melhores executantes em lances de bola parada. Livres, grandes penalidades, cantos. Tudo para Heitor.

«Cheguei até a marcar dois golos olímpicos, ou canto direto como dizem em Portugal. Um foi pelo Ponte Preta, contra a Portuguesa, ainda no Brasil. Outro foi já pelo Marítimo, frente ao Estoril», recorda o antigo jogador.

Zero golos em 1986/87, época de estreia em Portugal. Zero não, dois. Dois na própria baliza. O Vitória de Guimarães foi eliminado das competições europeias pelo Bayer Leverkusen. Heitor não chegou à dezena de jogos, enganou-se na baliza frente aos alemães e fez as malas.

Quatro, três, quatro, nove, seis, dez. Foram 36 golos em 6 épocas, provando que os ares da ilha da Madeira lhe fizeram bem. Entre Nacional e Marítimo, o brasileiro foi apresentando o seu cartão de visita, com números que envergonham vários médios e avançados.

Heitor, campeão do mundo de sub-20 numa seleção brasileira com Dunga ou Bebeto, passava a ser um nome temido pelos guarda-redes portugueses. «Lembro-me que marquei ao Vítor Baía nas Antas, pelo Nacional (1-2), marquei ao Benfica nos Barreiros, ao Sporting em Alvalade. Foi o resultado de muito treino», recorda, entre gargalhadas.

«O meu ídolo era o Nelinho»

«O meu ídolo era o Nelinho, que era o maior especialista daquela altura. Tentava fazer o que ele fazia. Só depois vieram outros nomes como Roberto Carlos ou Marcelinho Carioca, também eles muito bons a marcar livres», frisa o antigo jogador ao Maisfutebol.

A fórmula era simples. «Batia com a parte externa do pé, com os três dedos. Até cantos marcava dessa forma. Foi assim que consegui os dois golos olímpicos. Marcava os cantos do lado direito com o pé direito e a parte de fora do pé».

Heitor entraria na história do Marítimo ao ser o autor do primeiro golo da formação madeirense numa prova da UEFA. O Royal Antuérpia venceu na primeira mão por 2-0 e os insulares não conseguiram mais que um empate em casa (2-2). Ficou aquele momento, ainda assim.

Quem assistiu à passagem deste lateral pelo futebol português, entre 1986 e 1995, estranhará o aparente desinteresse dos grandes. «Não foi bem assim. Em 92/93, tinha eu 27 anos, surgiu uma abordagem do Benfica, mas o negócio acabou por não se concretizar.»

«Foi uma carreira boa em Portugal. Deixei amigos em Guimarães, fui feliz no Nacional, lembro-me de jogar na Europa com o Marítimo, guardo boas recordações e a ligação a Portugal ficará para sempre. Mando um abraço para quem ler esta reportagem, que já me deixou até emocionado pelas memórias», remata Heitor.

Disse adeus em 1995, voltou ao Brasil e pendurou as chuteiras. Construção civil, criação de gado, obras sociais e a política. Cumpre o segundo mandato como Prefeito de Laranjal Paulista.

Aqui fica um golo de Heitor em Portugal, curiosamente sem a sua imagem de marca. Foi com a parte interior do pé, frente ao Sporting. Veja ao minuto 11.