Poucos quilómetros a sul de San Diego, uma das mais belas cidades dos EUA, jaz Tijuana. É uma urbe atormentada, pejada de gente mais interessada em sobreviver do que fruir.

De dia amontoam-se os olhares perdidos, à noite rugem as bravatas de teenagers norte-americanos, ávidos do álcool que lhes é proibido a norte da fronteira. Tijuana cria gente dura, humilde e genuína. Capaz das mais fascinantes provas de superação.

Hector Herrera, médio do FC Porto, é filho da terra e um exemplo bom. Nasceu no olho do furacão e mudou-se, ainda bebé, para Playas Rosarito, uma colónia balnear na Baja California.

Para o filho de don Miguel Herrera e doña Maria Lopez, o FC Porto é só mais uma prova de superação. Uma constante na vida. «Faltava-lhe quase tudo, mas nunca passou fome», adverte ao Maisfutebol um dos melhores amigos de Hector na infância, Norberto Pichardo.

HERRERA: «Jogos na equipa B ajudaram-me bastante»


Ao lado da pequena casa dos Herrera, ficava o campo Emiliano Zapata, acolchoado por uma terra que enchia os brônquios de tosse. E foi ali que o pequeno Hector começou a mostrar-se melhor do que os outros.

«Muitos preferiam o basebol ou o futebol americano, famosos na nossa zona, mas o Hector não. Ele era um delantero muito veloz. Fazia golos atrás de golos, até aos 13/14 anos. O Pachuca tinha uma escola de futebol nesse campo e foi assim que o descobriram, através do senhor Martin Domínguez», conta Norberto Pichardo.

Por esta altura, Hector era olhado «como um herói» pelos outros capitães de areia. E célebre ficou numa das muitas corridas de bicicleta em Playas Rosarito. Sim, Herrera era um ás do pedal.

«O nosso pueblo tem muita tradição nisso. O Hector podia facilmente ter sido ciclista profissional», vinca Norberto, antes do relato à moda de Hollywood.

AFINAL, O QUE VALE HECTOR HERRERA?


«Ele estava na bicicleta mais velha de todas. Tinha uma resistência inata e ia à frente, mas a um quilómetro do fim caiu e rasgou-se todo nos joelhos. Alguns ultrapassaram-no, mas o Hector voltou a montar e ainda ganhou, à frente de toda a gente».

Herrera jogava futebol, ganhava de bicicleta e... montava a cavalo. Não há engano, a equitação era e é outro dos prazeres do médio mexicano, titular pela primeira vez na Liga 2013/14, em Arouca.

«Vejo-o passar nas calles muitas vezes a cavalo. Mesmo agora. Aliás, antes dos Jogos Olímpicos até brincavam com ele. Diziam que o Hector devia ir lá à prova de hipismo e não de futebol. Correu bem e ganhou a medalha de ouro, sem precisar de levar o cavalo», ri-se o amigo Norberto.

Os relatos sucedem-se. Mais uma estória. «Tinha 15/16 anos quando foi fazer testes a Pachuca. Ficou numa camarata, com mais umas dezenas de miúdos. Só com um colchão e pouco mais. Chorou muito, mas nunca disse nada à mãe. Ele ligava e dizia-lhe que estava sempre tudo bem».

Até ser uma opção credível no Pachuca, aliás, Herrera teve de se superar. Uma e outra vez. Foi emprestado ao Cuautla, ao Tampico Madero e só em 2011, já com 21 anos, triunfo em definitivo. No clube e na seleção.

«Merece tudo. Lutou, sofreu, foi pai demasiado cedo, mas está a ser recompensado. O Porto tem um resistente entre mãos», conclui Norberto Pichardo.