O nome de Sérgio Cardoso (Serginho), antigo avançado brasileiro do Feirense e que teve também uma passagem fugaz pelo FC Porto em 1978/79, pode não dizer muito à maioria dos adeptos, mas tem um lugar especial no coração de Pedro Martins.

Num vídeo de lançamento da final da Taça de Portugal realizado pela Federação Portuguesa de Futebol, o técnico do V. Guimarães, natural de Santa Maria da Feira, apontou o nome de Serginho como um dos ídolos da infância.

«Foi uma referência para mim. Ainda que não tenha atingido uma grande dimensão, tinha um grande respeito e admiração por ele», disse Pedro Martins.

O Maisfutebol tentou surpreender Serginho com as declarações do treinador do V. Guimarães, mas o antigo jogador, agora com 67 anos, já estava informado da reverência. «Soube de manhã pelo meu filho, que viu a reportagem. Fiquei feliz, claro, mas eu sempre soube disso», atalha.

Como assim? «Eu já conhecia o pai dele quando jogava na Feira. Ele tinha um stand de automóveis e dizia-me que eu era o maior ídolo do filho dele. No ano passado voltei a encontrá-lo quando ele treinava o Rio Ave e disse-me que eu tinha sido um dos primeiros ídolos dele.»

Nascido em 1970, Pedro Martins não tinha mais do que sete anos quando Sérgio Cardoso explodiu para a melhor época em Portugal, onde aterrara no início dessa década para se tornar, recorda, no primeiro jogador brasileiro da história do Desp. Chaves.

Em 1977/78, um ano depois de ter ajudado o Feirense a subir à I Liga, apontou 14 golos dos 24 golos do clube da Vila da Feira no principal escalão do futebol português. «Marquei bastantes golos! Houve uma altura em que eu estava em primeiro lugar na percentagem de golos dos jogadores nas equipas, mas depois tive uma lesão no menisco num jogo em casa com o V. Guimarães. Fui saltar a uma bola e acabei por ser atingido pelo José Alberto Torres, que era um central duro. Eu era muito marcado, mas não virava a cara à luta e também era duro quando tinha de ser», recorda.

Apesar do gás perdido no fim de uma época na qual o Feirense voltou a cair para a II Liga, os muitos golos marcados chamaram a atenção do FC Porto de José Maria Pedroto, na altura a encurtar distâncias para os rivais Benfica e Sporting, que iam repartindo entre eles os títulos de campeão.

«Foi o falecido Pedroto que mandou o João Mota [preparador físico] falar comigo. Não fui muito utilizado, mas chegar ao FC Porto já era uma coisa muito boa», conta, apontando os vários nomes que compunham um plantel que nessa época (1978/79) pôs termo a um hiato de 19 anos sem vencer o campeonato nacional.

Serginho passa em revista a uma velocidade e precisão assinaláveis a história da carreira. Desde que aterrou em Portugal para representar o Desp. Chaves em 1970, o regresso precoce ao Brasil depois de problemas legais e nova viagem transatlântica, esta definitiva, em 1973 para nova aventura no emblema flaviense, de onde saiu dois anos depois para o Feirense. O rol de estórias até mete um particular com o Betis no antigo Estádio das Antas. «Ganhámos por 4-2, com dois golos meus e dois do Vital. Nunca tinha feito um pontapé de bicicleta e nesse jogo marquei de bicicleta», conta bem-disposto.

Depois de uma época nos azuis e brancos apareceu o Beira-Mar. Serginho conta que a equipa de Aveiro exigia três jogadores em troca para libertar António Sousa: Zé Beto, Teixeirinha e Serginho.

«O falecido Pedroto era muito meu amigo e não queria que eu saísse para o Beira-Mar. ‘Você não vai para lá, não liga a isso. Não é obrigado a ir!’ Parece que estou a ouvi-lo agora mesmo a dizer-me isto. Mas o Beira-Mar insistiu. Ligavam-me para casa e acabei por ir.»

Depois disso, Serginho voltou para o Feirense, tendo passado ainda por clubes como o Ermesinde e o Vilanovense, antes de colocar um ponto final na carreira. Quase quatro décadas após ter conquistado a admiração de petizes como Pedro Martins, vive no Porto. «Já tenho mais anos de Portugal do que de Brasil. Os meus dois filhos nasceram cá e mesmo lá já estava ligado aos portugueses. Como assim? Jogava na Portuguesa Carioca.»

Chamam-lhe destino.

Veja o que disse Pedro Martins sobre Serginho a partir dos 7m20s: