Autor: Chris van Nijnatten*
Na preparação para um grande torneio surgem sempre algumas questões que devem ser respondidas sobre a seleção holandesa. Como encaixar as diferentes personagens? E irá a Holanda jogar no estilo atacante que começou nos anos 70, mas que foi insuficiente no último mundial?
Um incidente na meia-final da Liga dos Campeões entre Bayern Munique e Real Madrid demonstra o caráter presente na seleção holandesa. Ao intervalo, no balneário, Arjen Robben e Franck Ribéry tiveram uma discussão acesa por causa de um simples livre.
O francês deu um estalo ao holandês e a imprensa alemã fez um caso disso. E era, de facto. Durante a primeira parte, Ribery queria bater um livre. Robben disse que devia ser Toni Kroos. Kroos rematou e falhou. Ribery ficou furioso mas Robben não abriu a boca fora do balneário. Foi uma vitória moral.
O incidente, repete-se, demonstra como o caráter no seio da seleção holandesa se tem desenvolvido. Eles ainda discutem tudo mas estão mais maduros, mantendo os seus problemas entre as quatro paredes do balneário. Até os problemas entre jogadores negros e brancos, que existiam há uns anos, desapareceram.
Afellay, o orgulho do povo Berbere
Será uma dinâmica de grupo perfeita, agora? Não sabemos. O sucesso dependerá da forma em que Van Persie e Sneijder se apresentem. São dois vencedores com mentalidades fortes e, por vezes, difíceis. Podem parecer egoístas, embora não o sejam. Nos clubes, não há esse problema mas, quando aparecem juntos na seleção, levantam-se questões. Se estiverem ao seu melhor nível, a dúvida será quem irá liderar a equipa, entre Van Persie ou Sneijder. Pode ser uma interessante dor de cabeça para Bert van Marwijk.
Arte de Van Persie e Mourinho
Em termos táticos, não há segredos na Holanda. Desde que Van Marwijk tomou o lugar de Marco van Basten, ele tem jogado praticamente com o mesmo esquema: quatro defesas, com dois laterais ofensivos, dois médios defensivos e outro nas costas do ponta-de-lança. Na frente, dois extremos que procuram espaços interiores.
O ponta-de-lança é móvel, abrindo espaços quando os extremos se deslocam para o centro ou quando o médio ofensivo aparece na frente de ataque. A clareza de jogo da Holanda permitiu conquistar uma posição estável no topo do ranking da FIFA e até um lugar na última final do Mundial. Mas não há enorme respeito a nível internacional devido à previsibilidade do futebol demonstrado.
O jogo duro dos médios holandeses na África do Sul também não provoca muito entusiasmo. Van Marwijk diz que está a trabalhar nesses aspectos mas considerará sempre os resultados como primordiais.
Na Holanda, o estatuto de Klaas Jan Huntelaar também está a ser discutido. O avançado está em grande forma e muitos analistas consideram que deve ter um lugar no onze, em detrimento de Dirk Kuyt, ou Wesley Sneijder, ou Rafael van der Vaart. Até agora, o selecionador ainda não tomou uma posição.
O onze para o primeiro jogo no Euro2012 está condicionado pelas questões físicas. Se todos estiverem em condições, será esta a equipa:
Stekelenburg; Van der Wiel, Heitinga, Mathijsen e Pieters; De Jong e Van Bommel; Robben, Sneijder e Afellay; Van Persie.
* Chris van Nijnatten é jornalista do Algemeen Dagblad. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.