A Naval já entrou no mercado com vista à próxima época, garantindo os serviços do médio Hugo Machado, em final de contrato com o Standard Sumgayit, equipa da cidade de Baku, capital do Azerbaijão.

O jogador, de 27 anos, está, assim, de regresso à casa de partida depois de três anos na pele de emigrante, com uma passagem pelo Chipre (Apollon Limassol, Olympiakos Nicósia e Alki Larnaka) antes de rumar à antiga república soviética.

Em entrevista ao Maisfutebol, o criativo formado no Sporting fala da vida num país diferente, das dificuldades de comunicação, e do sentimento, bem português, que o fez voltar a casa.

Hugo Machado pensava, até, que já se tinham esquecido dele em Portugal - além do Sporting B, passou pelo E. Amadora e Barreirense - ao ponto de, quando surgiu a possibilidade da Naval, ter ficado a pensar que se tratava de uma brincadeira.

«Dei luz verde a um amigo, novo nestas andanças, para trabalhar em meu nome. Ligou-me a dizer que havia a possibilidade da Naval, mas eu não quis acreditar, pensei que estava a gozar. Só quando me ligou um dirigente é que percebi que era real. Tenho um pré-acordo, para as próximas duas épocas. O campeonato daqui acaba dia 15, ou seja, até dia 20 devo estar na Figueira», garante, ao telefone, desde a capital azerbaijanesa.

As saudades não paravam de apertar e, perante esta possibilidade, nem hesitou. A vontade de estar próximo do filho (Hugo Júnior), de cinco anos, falou mais alto.

«Vou poder estrear-me na Liga portuguesa e estarei perto dele. É isso que me fez voltar a Portugal. Ele é um maluco pela bola, até já começou a ver em que lugar está a Naval, e está muito contente. Falo com ele várias vezes por dia, é a minha vida. É um regresso em nome do meu filho, sem dúvida», afirma, ansioso pelo dia do reencontro, que acontecerá também com Marinho, com quem jogou nas camadas jovens do Sporting, e Davide, que encontrou no E. Amadora, embora este esteja de saída da Figueira.

Sociedade fechada, dentes de ouro e pobreza

De espírito aventureiro, nem podia ser de outra forma, aceitou mudar-se do Chipre para o Azerbaijão há um ano, depois de um colega de equipa, que havia ido para lá à experiência, ter falado de si no Standard Sumgayit, na altura à procura de um médio.

Em Baku, fez amizade com uruguaios, pela facilidade da língua, e é com eles que passa a maior parte do tempo. «É treino, casa, treino, basicamente. Depois também saímos, vamos passear todos juntos», desvenda.

A língua é um dos principais problemas, como seria de esperar. «É muito difícil encontrar alguém que fale inglês. Um dos uruguaios, como está cá há mais tempo, já percebe um pouco e faz de tradutor. Eu sei umas coisas em russo e azerbaijanês, mas nada de mais», confessa.

O pior mesmo, é a forma como a sociedade local olha para os estrangeiros: «Irritava-me um bocado no princípio. Ficam o tempo todo a olhar para mim. Parece que nunca tinham visto alguém em bermudas ou de brincos. Com um colega meu, cabo-verdiano [Vargas Fernandes], ainda era pior! Há zonas muito pobres. É um pouco esquisito. As pessoas são muito fechadas. Ainda bem que estou na capital, se fosse noutro sítio nem se podia viver.»

Apesar dos parcos recursos, quase toda a gente tem dentes de ouro, numa contradição que o futebolista não entende. Os traços do comunismo ainda são visíveis, mas a força do Ocidente já se faz sentir. «Isto já não é como antigamente. Já há McDonalds ou Pizza Hut», assinala.

Por falar em comida, Hugo Machado é fã de uma sopa tradicional azerbaijanesa. «Tem muitos legumes e batata. Depois metem maionese ou uma coisa a que chamam smetana. Dá um sabor muito bom. De resto, há comida muito esquisita em certos restaurantes, só de olhar perco a vontade. Quando jogamos em casa ou quando vamos para o hotel, o meu colega uruguaio traz comida de casa, feita pela mulher», conta, aliviado.