Hugo Machado tem queda para os destinos exóticos. Já jogou no Chipre, no Azerbaijão, pelo meio voltou a Portugal, para defender as cores da Naval, e, mais recentemente, não resistiu a um apelo do Médio Oriente. Está no Zob Han, do Irão, desde o início da época.

«Está a correr muito bem. Tenho feito golos e assistências. Só tenho pena de ter sido eliminado da Taça da Ásia. Estou na equipa principal sem ter feito a pré-época, o que já é muito bom. Claro que preferia estar em Portugal mas os clubes pagam pouco. E mesmo assim ficam vários meses sem pagar. Temos de sair do país porque não apostam nos jogadores portugueses», sustenta.

O médio, de 29 anos, confessa que não se importava de continuar a experimentar novas paragens. «Fomos jogar na Coreia e achei o país e fantástico. Gostava de ir para lá ou então Dubai, Qatar... Vamos ver, porque estou bem e tenho clubes interessados aqui. Mas se surgir algo para outro lado, se calhar vou.»

Os primeiros choques

No Irão, o primeiro choque foi para as elevadas temperaturas. «Para treinar e jogar é muito complicado mesmo. Parece que nos falta o ar às vezes. Mas o treinador foi-me metendo aos poucos nos primeiros jogos para ganhar ritmo e agora as coisas estão a correr bem», conta, com satisfação.

A carreira do médio português vai de tal forma bem que já lhe falam em naturalizar-se iraniano. «Já houve jornalistas que me fizeram essa pergunta, por isso deve haver rumores. Eu disse que por mim aceitaria se realmente mostrarem muito interesse. Ir à selecção portuguesa é muito difícil...», admite.

Num país sem liberdade religiosa, Hugo Machado já se deparou com situações bem complicadas: «As mulheres têm de andar com lenços na cabeça ou camisolas a tapar o rabo e muitas delas são obrigadas andar todas tapadas só com os olhos a mostra. A minha esposa já foi mandada parar duas vezes pela polícia. Mas ela estava como eles pedem, foi só para implicar.»

Hugo Machado (Naval): regresso a Portugal em nome do filho

Desenganem-se aqueles que pensam que as normas apenas se aplicam ao sexo frágil. «Os homens não podem andar de calções na rua. Com calor destes! Se cumpro? Claro, tem que se cumprir. Se não vamos presos.»

A crueldade da sociedade, pelo menos aos olhos de um ocidental, consegue, porém, ser atenuada quando se fala de futebol. «Os adeptos são muitos fanáticos. Vem muita gente aos estádios. Assim dá gosto jogar. No nosso, temos normalmente 10 mil pessoas mas fica cheio nos encontros com os grandes e há outras equipas que têm sempre mais de 50 mil por jogo.»

Longe de casa, o ex-Naval não esconde um rol de saudades. «Da família, amigos, do meu filho, da comida e do futebol português. Se bem que portugueses, tem cada vez menos. Aqui, por exemplo, só pode haver três estrangeiros por equipa, logo esses têm de ser muito bons» conclui.