Valentino Rossi apresenta-se como «Il Dottore», mas esse seria o rótulo perfeito para Lamberto Boranga, que vive em Itália e foge continuamente ao ócio da terceira idade. Aos 67 anos, o antigo guarda-redes de Fiorentina e Parma regressou à baliza, brilhou em dois jogos e provou que a idade é apenas um estado de espírito. Agora, parou. Vai para a reforma? Nada disso. Boranga quer defender o título de recordista mundial do salto em comprimento, conquistado na categoria Master.
Nestes 450 caracteres, apresentámos o resumo de uma vida que faria inveja a qualquer trintão de sofá, a olhar para a sua barriga de cerveja. Lamberto Boranga respira saúde e apresenta um registo físico impressionante. Por estes dias, treina com o plantel do Perugia e dedica parte do seu tempo ao atletismo. No próximo ano, estará nos Mundiais da classe acima dos 60 anos.
Voltemos atrás. Lamberto Boranga nasceu em 1942. Defendeu a baliza de Perugia, Fiorentina e Parma, entre outros. Aos 50 anos, o primeiro regresso. O modesto Bastardo perdera todos os guarda-redes e recorreu ao «doutor», formado em cardiologia e biologia. Aliás, Boranga trabalha no Centro de Saúde de Magione, na especialidade de Medicina Desportiva.
«Pedi uns pneus para jogar no Ammeto»
Em Setembro de 2009, surge a notícia bombástica. Novo regresso! O Ammeto, dos regionais de Perugia, tem os dois guarda-redes suspensos para o arranque do campeonato. Alguém pensou em Lamberto Boranga.
«Sou médico e, ao lado do sítio onde trabalho, existe uma loja de pneus. O dono da loja pediu-me para defender a baliza do Ammeto. Em jeito de brincadeira, até pedi uns pneus grátis em troca. Mas a verdade é que lá me convenceram. Aquilo correu bem. Vencemos por 3-2 e ainda fiz um par de boas defesas», recorda «Il Dottore», em entrevista ao Maisfutebol.
Seria apenas um jogo, mas Lamberto Boranga entusiasmou-se. Os responsáveis do Ammeto gostaram e ampliaram o prazo. Mais uma partida, desta vez em casa. Correu mal. «Perdemos e não joguei bem. Assim, para mim, acabou, não quero cair no ridículo. Para além disso, os outros guarda-redes recuperaram, não era justo um velho roubar-lhes o lugar», atira Boranga, entre sorrisos.
«Lembro-me de Vítor Baía e Preudhomme»
«Agora, estou a treinar para os Mundiais de atletismo do próximo ano, em Budapeste. Continuo a treinar futebol, uma vez por semana, com o Perugia. O guarda-redes, o Benassi, é bom e está sempre a pedir-me para voltar, a dizer-me que se orgulha do que ainda consigo fazer. Não bebo, não fumo, vivo uma vida sã. É apenas esse o segredo», garante este super-homem do desporto.
Na conversa com o Maisfutebol, Lamberto Boranga tenta encontrar pontos de ligação com Portugal, com o futebol português: «Bem, claro que acompanho o Mourinho, já desde que foi campeão europeu com o F.C. Porto. E lembro-me do guarda-redes, o Vítor Baía. Não muito alto, mas elástico, explosivo a sair da baliza, como eu. O Benfica teve Preudhomme, outro guarda-redes de grande qualidade.»
«Mortes súbitas? Faz parte da história»
Especializado em Medicina Desportiva, «il Dottore» originou controvérsia em 2005, quando revelou a utilização generalizada de cortisona e nandrolona, no seu tempo. Estranhou ainda o desenvolvimento corporal de Messi, desde que apareceu no Barcelona, atribuindo-o a hormonas de crescimento.
Por outro lado, Lamberto Boranga evita associar esses hábitos à multiplicação de casos de morte subida no desporto. «Não creio que os factos estejam ligados. A morte súbita faz parte da história do desporto. Sempre aconteceram, infelizmente. É muito difícil falar sobre esse tema. A transformação dos tecidos musculares, os treinos duros, podem acelerar o desenvolvimento de arritmias cardíacas. Mas é tudo muito difícil de prever», remata o italiano.