Interventivo. Se for necessário resumir a carreira de 40 anos e o temperamento de Johan Cruijff num só adjectivo este será um dos que melhor lhe assentam. Como jogador, director-técnico, treinador, opinion-maker ou, agora, director de uma universidade virada para o ensino da gestão desportiva ¿ razão que o trouxe a uma visita-relâmpago a Portugal - o holandês voador sempre quis envolver-se com as grandes questões, ir além do superficial. 

Chamaram-lhe megalómano, por vezes com razão. Mas a um megalómano que tem quase sempre razão deve chamar-se antes visionário. Para Cruijff, as responsabilidades de um jogador nunca se esgotaram no trabalho de campo, tal como um treinador tinha obrigação de pensar no futebol muito para além da sua equipa, ou dos próximos 90 minutos, ou um dirigente deveria ser obrigado a pensar em algo mais do que no equilíbrio orçamental. 

Um dos melhores exemplos desta tendência para intervir, ultrapassando as fronteiras estritas de cada função, foi dado em 1981, quando regressou a Amesterdão, depois de uma passagem de três anos pelo futebol norte-americano que lhe permitiu entender melhor o lado empresarial do futebol. Julgando já não ter condição física para prolongar a carreira nos relvados, assumiu o cargo de director-desportivo de uma equipa treinada por Leo Beenhakker.  

Mas pensar que Cruijff pudesse permanecer amarrado a um cargo administrativo era conhecê-lo demasiado mal. Assim, uma tarde de Setembro em que a equipa perdia em casa com o Twente, por 3-1, o lendário ex-número 14 não se conteve, desceu a bancada e foi sentar-se junto ao banco de suplentes. Manteve um curto diálogo com Beenhakker, levantou-se, mandou aquecer um jovem Frank Rijkaard, deu-lhe umas breves instruções e ficou a ver o seu Ajax virar o jogo para 5-3. Dois meses depois, chegando à conclusão de que afinal não estava tão velho quanto isso, voltou a equipar-se e a entrar em campo. Com Cruijff a comandar o jogo, o Ajax acabou campeão. 

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