El Repilado. Pequena localidade de menos de 800 habitantes do alto da Andaluzia, já perto da fronteira com a província da Extremadura espanhola. O que a torna famosa no país vizinho e em muitas partes do Mundo? O presunto.

Verdadeira iguaria ibérica nascida e preservada numa região que venera o porco preto. Do futebol pouco se lhe conhece, tirando a equipa local, que milita no equivalente a uma II Divisão distrital e jamais poderia sonhar com um campeão nacional, com experiência de Liga dos Campeões e mais de 300 jogos numa divisão principal. Até há uns dias…

De botas já arrumadas, Gaspar, ex-central, deixou-se cativar pelos encantos de El Repilado e jura que apenas quis matar saudades da bola e perceber a que nível ainda estava. Isto depois das bocas da mulher que o provocava devido a um certo aumento do volume abdominal . A brincadeira foi longe de mais.

«Pedi apenas para treinar para matar o bichinho, fazer qualquer coisa, e também como forma de me integrar. No final do treino, nem esperaram para ver outro [risos], pediram para ajudar e jogar. A equipa esta em último lugar, com quatro pontos, e, se tudo correr bem, amanhã já vou poder jogar», conta, entusiasmado, ao Maisfutebol.

O regresso ao futebol do ex-campeão nacional reveste-se de contornos muito especiais. «Quando fui abordado pelo presidente, respondi em tom de brincadeira que, por um presunto como prémio de jogo, para mim chegava. Passados dois dias lá tínhamos o presunto! Não como prémio de jogo mas como, digamos, simpatia. E mais vieram [risos].»

«O nosso presidente é um amigo, e, no clube, o espírito é mesmo esse, de ajudar, e desfrutar do prazer pelo futebol, sem sistema e influências. Ele até me disse: aqui joga grátis quem é bom, quem é mau, tem que pagar ao clube para poder jogar [risos].»

A contratação mereceu, inclusive, apreciável destaque na comunicação social andaluza e também a nível nacional em Espanha. Não era para menos. «Pensa o que é uma equipa da II Distrital a ter um jogador que jogou na Champions, etc, etc. Penso que foi por aqui que foi noticia. Um jogador com 322 jogos na Liga portuguesa, e com curso de II nível, que pode treinar atá à II B ou ser adjunto na I Divisão ou na Liga Adelante», sublinha.

O tom divertido, quase delirante, do experiente central (sim, agora já é possível voltar a tirar o «ex-» ou antigo antes da palavra) vai ter ainda mais reflexos, segundo o próprio, quando a estreia com a nova camisola acontecer, já este domingo:

«Amanhã, quando me virem jogar, vão cair na realidade e perceber que eu sou o Gaspar, mas com 39 anos [risos]! E quando me virem a rir em pleno jogo, ou a fazer outras coisas, se calhar vão preceder o por quê eu estar ali… a jogar pelo prazer. Coisa que pensava já não ter.»