Huddersfield. Meio caminho entre Manchester e Leeds. O clube daquela cidade de Yorkshire volta ao topo do futebol inglês, depois de ter estado no primeiro escalão, pela última vez, em 1971/72.

Uma época em que Brian Clough venceu o primeiro troféu da carreira - foi campeão com o Derby County – enquanto o Huddersfield Town e o Nottingham Forest, bicampeão europeu no final dessa década com o mítico treinador inglês, desciam de divisão.

Os Terriers, porém, voltaram agora. E voltaram para um mundo completamente diferente daquele que tinham deixado. Tão diferente que podem fazer do Huddersfield Town um dos emblemas com mais receitas no futebol mundial e concorrente do Benfica.

O jogo mais rico do mundo

Wembley foi palco da final da Taça de Inglaterra no sábado. Esse é um dia de glória, em que a Velha Albion celebra o jogo dos jogos. No entanto, a FA Cup em nada se compara com o que está em jogo na final do play-off do Championship, o segundo escalão do futebol do país.

Desta vez, Huddersfield e Reading disputaram a subida à Premier League e tudo aquilo que ela implica. Esta é a final de Wembley que mais dinheiro rende ao vencedor. «The richest game in football», escrevem os britânicos. Ou seja, é aqui que se encontra o «jogo mais rico do futebol», pelos valores que estão em causa.

O formato do Championship inglês determina que o primeiro e o segundo classificado sobem diretamente à Premier League. Entre o terceiro lugar e o sexto, ou seja, quatro equipas, disputa-se um play-off para se encontrar o terceiro clube a, basicamente, ficar bem mais rico.

Em causa estavam quase 196 milhões de euros...decididos em penáltis.

Descer de divisão dá milhões: como se chega aqui

A explicação para o Huddersfield-Reading valer tanto dinheiro está, claro, nos direitos televisivos da Premier League, que em 2016/17 já tiveram o aumento derivado do novo negócio, em vigor até 2018/19. A liga inglesa centraliza os direitos e reparte depois o dinheiro pelos diferentes emblemas: a maior fatia de forma equatitiva.

Com o acordo em vigor, e na pior das hipóteses, o Huddersfield receberá um pouco acima dos 111 milhões pelos direitos televisivos na próxima temporada: um aumento claro em relação ao que aconteceu em 2015/16, quando o antigo acordo estava em vigência.

Como se chega então, àquele valor de 196,9 milhões? Os tais 111 da televisão, mais 85.863 milhões de «paraquedas».

O que é este paraquedas? Explicamos. A Premier League determina um valor que salvaguarda as equipas do choque financeiro, quando estas descem de divisão.

O facto de receberem muitos mais milhões pela subida e, com isso, investirem e desenvolverem a liga, poderia provocar um choque financeiro em caso de queda no segundo escalão.

Assim, para amenizar o trambolhão no Championship, as equipas que descerem após o primeiro ano na Premier League recebem dinheiro durante duas temporadas: no caso, 85,8 milhões de euros.

Quer isto dizer que o Huddersfield Town acabou de garantir nesta segunda-feira mais de 196 milhões de euros para as próximas três temporadas!

E que tal 330 milhões?

A Premier League beneficia também aqueles que obtêm melhores resultados. Por cada posição conquistada há um prémio de dois milhões de libras: 2,28 em euros.

Este é o valor que o último classificado recebe. O penúltimo recebe o dobro, o antepenúltimo o triplo e por aí fora.

Portanto, se o Huddersfield se mantiver na Premier League em 2017/18 vai encaixar pelo menos outros 9,2 milhões de euros: referentes ao 17º lugar, a última das posições de permanência.

Estes 9,2 juntam-se aos 196 já garantidos e aumentam para 204,9 milhões as receitas. Uma segunda época no principal escalão inglês significa, portanto, mais 111 milhões de euros a entrarem por causa da televisão. Ao fim de duas épocas, o Huddersfield Town chegaria aos 315 milhões.

Mas como ficou duas temporadas na Premier League, o dinheiro a receber se descer nessa segunda época, o tal paraquedas, aumenta: em vez de receber dois anos, recebe três e os 315 passam a 330 milhões de euros.

A comparação com Portugal e o Benfica

Não há comparação possível com o que acontece com quem sobe da II Liga portuguesa. Melhor dizendo, possível é, mas soa a absurdo.

Quando estavam a ser negociados os direitos de TV no nosso segundo escalão, houve uma tentativa de centralizá-los. Os valores eram de 1,5 milhões de euros por três anos. Ou seja, cada emblema receberia 500 mil euros por época e, em caso de subida à Liga, o montante triplicava.

Isto era o acordo que foi tornado público, na altura, pelo então líder da Oliveirense, José Godinho. Esta negociação nunca chegaria a ser protocolada, porque a Liga de Clubes anunciou ter conseguido uma melhor: cada emblema receberia 570 mil euros/ano. Também não aconteceu.

Portanto, a comparação dos valores que o Huddersfield vai receber tem de ser feita com o Benfica. No relatório anual da Deloitte, que mede as receitas geradas (outros dados contabolísticos não são contemplados), os encarnados foram o único clube português a surgir no top30 em 2015/16 (ainda não há dados desta temporada).

O ranking foi liderado pelo Manchester United com 689 milhões de euros e o Benfica surgiu na 27ª posição com 152,1 milhões.

Conforme indicou o responsável do Sports Business Group, da Deloitte, na imprensa inglesa, «um período sustentável de participação na Premier League proporciona a qualquer recém promovido a plataforma para entrar na lista dos top30, da Deloitte Football Money League».

Não é muito difícil chegar a essa conclusão, de facto. Na época passada, 12 das 20 equipas da Premier League ocupavam posições dentro do top30. E há duas temporadas, eram 17! Apenas três ficaram fora .

A lista é anual. Assim, na comparação com o campeão português, devem estar apenas englobados os 111 milhões de euros que o Huddersfield recebe já na próxima temporada.

No entanto, aí está apenas contemplado um mínimo que já é certo. Não se contabilizam as receitas de bilheteira, de publicidade e patrocínio ou outras.

Estas podem elevar os números do Huddersfield e torná-lo num emblema tão rico em receitas como os encarnados, no conceito empregado pela auditora, cuja lista serve de barómetro e provoca notoriedade às marcas lá referidas. 

A última equipa do Top30 em 2015/16 foi o Nápoles, com 142 milhões de euros de receitas, um valor que para os napolitanos poderá subir devido aos prémios da UEFA, relativos à participação na Liga dos Campeões.

O Newcastle era presença assídua no ranking da Deloitte, antes de cair para para o Championship. Esta temporada, regressou ao primeiro escalão. Como ainda estava a receber o dinheiro relativo ao «paraquedas», há um acerto no montante a que tem direito. 

Porém, o Brighton and Hove Albion está na mesma situação do Huddersfield e garante já os mesmos valores.

A diferença é que não teve de decidir a fortuna nas grandes penalidades mais caras do futebol mundial.