Como já percebeu se chegou aqui, os nomes são motivo suficiente para chamar à atenção. Mas os gémeos que jogam num dos mais emblemáticos clubes de Yorkshire têm ainda um outro que dominou os meios-campos de Inglaterra entre 1996 e 2005: Vieira. Uma combinação curiosa com o apelido do campeão do mundo francês e que Ronaldo preferiu.

É esse o nome que usa na camisola do Leeds Utd - ao qual chegou depois de uma passagem pelo Benfica e algumas peripécias normais da vida - e o qual já representou, inclusive, em Anfield, casa do Liverpool.

Ronaldo em ação em Anfield, nesta época, na Taça da Liga

No Championship, Ronaldo Vieira reencontrou alguns nomes sonantes da formação do Benfica e que com ele partilharam piso no centro de estágios dos encarnados. Ronaldo está mais avançado, mas tal como o irmão Romário pode optar por uma de três seleções. Eles sonham com a mesma: a de Portugal.

«Nascemos na Guiné Bissau, saímos com 5/6 anos. A minha mãe estava em Portugal com o meu padrasto e começámos a jogar por um clube algarvio, o Imortal», conta Ronaldo ao Maisfutebol.

O Benfica viu-o por Albufeira. E levou-o para o centro de estágios, no Seixal. «Fiquei lá durante um ano. Tinha 11/12 anos», recordou-nos o camisola 25 dos Peacocks.  

Ronaldo Vieira partilhou balneário com alguns dos rapazes que agora atuam pelos juniores encarnados: «Diogo Mendes, Jorge Pereira, Ricardo Araújo, Ricardo Mangas. O Renato Sanches estava um escalão acima, mas andava por lá também.»

O Benfica não deu certo. Ronaldo diz que ia ser dispensado quando foi decidido que tinham de mudar-se para Inglaterra.

«Emigrámos porque a família emigrou. Fomos para Newcastle, passar férias, temos lá parentes. E acabaram por meter-me num torneio. Voltámos para Portugal uma semana e depois fomos para Leeds. O meu padrasto é chefe de cozinha e a minha mãe faz algumas horas de limpeza.»

A oportunidade de trabalho dos adultos transformou-se em ocasião para os dois gémeos. Ronaldo e Romário passaram por academias até que a i2i Football Academy lhes deu acesso aos emblemas profissionais. «Aí surgiu a oportunidade para ir a outros clubes, como Hull, Barnsley ou York City. Mas não conseguimos entrar. Depois veio o Leeds Utd e eu entrei», conta o médio-defensivo que o treinador Gary Monk já não dispensa do onze inicial.

Quando Ronaldo renovou contrato por três anos, foi a vez de Romário assinar pelo clube igualmente. «Também sou médio-defensivo, vim um ano mais tarde. É bom porque temos um ao outro aqui, não estamos sozinhos.»

«Não quis que as pessoas dissessem: Este gajo pensa que é o Ronaldo»

Ora o Vieira com o nome do baixinho avançado brasileiro explicou que o irmão «é visto como um bom jogador, que trabalha muito em campo». Romário acrescentou: «Os adeptos veem-no como alguém que pode ajudar o Leeds a subir, pode ser uma peça fundamental.»

Ainda não é agora que a conversa vai aos tempos de Ronaldo no Seixal. Primeiro é necessário perceber a origem dos nomes. Pela dupla, fica a sensação de que o Ronaldo tem origens brasileiras e não no internacional português. Os gémeos confirmam.

«A minha mãe gostava de jogar futebol, mas com as amigas, na Guiné. No ano em que nascemos, que foi em 1998, o Brasil tinha Romário e Ronaldo e ela gostava muito do Brasil. Por isso ficámos com o nome», conta Romário.

O penálti frente ao Norwich

Enquanto o irmão optou pelo apelido nas costas, o outro Vieira ainda não sabe o que vai escolher «porque só se tem o nome na primeira equipa» e Romário ainda está a trabalhar para lá chegar.

Já o 25 do Leeds Utd esclarece a opção por Vieira: «Acho que Ronaldo era um nome muito grande. Não quis que as pessoas dissessem: Este gajo pensa que é o Ronaldo. Vieira é mais simples e ele também foi fundamental em Inglaterra.»

No entanto, ele é de facto Ronaldo. E facto também é que qualquer um deles pode jogar por três seleções: a guineense, a portuguesa e a inglesa, porque já levam pelo menos cinco anos de educação no país. «A nossa opção vai ser jogar por Portugal», garantiu Ronaldo Vieira, mesmo que a oportunidade ainda não tenha surgido ao sub-19.

No contacto telefónico, facilitado pela i2i, o Maisfutebol encontra os gémeos com Érico Sousa, um português de 21 anos, internacional sub-19, que também tenta a sorte por lá, depois de ter passado pela Eslovénia. É ele que nos traça o perfil futebolístico dos Vieira.

«Conheci-os em Leeds, a jogar entre amigos. Tecnicamente são os dois bons. Um é mais ofensivo do que o outro, parece-me. O Ronaldo tem mais experiência. Mas é como ter o Zidane e o Tony Kroos», riu Érico Sousa. Ronaldo é, aliás, fã confesso do alemão.

Érico Sousa, Ronaldo e Romário Vieira

«Fogo puto, tás grande!»

Entre os melhores momentos com a camisola dos Peacocks, Ronaldo destaca o primeiro golo em jogo [tinha marcado também ao Norwich, mas num desempate por grandes penalidades].

«Depois do penálti, foi um momento especial. Foi o primeiro golo profissional. É um sonho que estou a viver», sublinhou, para depois falar do jogo com o Liverpool, em Anfield. «Nunca tinha jogado num estádio como o de Liverpool, tão cheio. Havia muitos adeptos nossos. Sempre quis ter esta experiência na vida. Felizmente consegui chegar aqui.»

A Taça da Liga levou-o a um dos míticos palcos do futebol britânico e mundial. O Championship a rever antigos vizinhos do Seixal.

«Jogámos contra o Sheffield Wednesday, ganhámos 2-0. O Lucas João não participou, mas falei com eles. O adjunto do Carvalhal é o irmão gémeo do treinador que eu tinha no Benfica, o Luís Nascimento. No Seixal, o Hélder Costa também estava lá. Partilhámos o mesmo andar. O Cavaleiro também. Já o João Teixeira só ia treinar.»

Ronaldo foi reconhecido pelos de Wolverhampton, que não deixaram de reparar nas diferenças. «O Ivan e o Hélder…o Hélder disse logo, Fogo puto, tás grande! Quando estava lá era pequenino. Ele estava surpreso. O Ivan disse o mesmo. Ficámos de falar e quando tivermos folgas vamos tentar combinar alguma coisa.»

Enquanto não sucede, Romário vai jogando pelos sub-23 e Ronaldo tenta chegar à Premier League