O campeão do Mundo caiu ao fim de três jogos, com uma inesperada derrota diante da Coreia do Sul, com dois golos consentidos em período de compensação, numa altura em que Joachim Löw já tinha partido a equipa ao meio, com cinco jogadores no ataque. É a primeira grande surpresa do Mundial e com um estrondo que provocou réplicas até Berlim. A hecatombe da Mannshaft já tinha começado a desenhar-se na primeira ronda, com uma derrota diante do México (0-1). Os alemães ainda ganharam uma segunda vida com um golo nos descontos frente à Suécia, mas esta quarta-feira ficou claro que o detentor do título está muito longe daquela máquina que, há quatro anos, trucidou o Brasil no Mineirão antes de recolher os louros na final com a Argentina.

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Uma equipa irreconhecível, muito longe do fulgor de outros tempos bem recentes, a parecer cansada e sem moral para lutar por novo ceptro, muito longe disso. A Alemanha foi uma equipa amorfa, que tentou assumir as rédeas do jogo, mas sem força, nem imaginação, para contornar uma Coreia do Sul determinada a despedir-se deste Mundial com impacto.

A Alemanha chegou a esta terceira jornada numa situação invulgar, com apenas três pontos e a precisar de vencer para não depender de terceiros, num grupo onde ninguém estava apurado, mas também ninguém estava afastado. A Coreia do Sul, apesar de não ter somado pontos nas duas primeiras jornadas, ainda tinha uma réstia de esperança de ultrapassar a Alemanha e a Suécia e chegar ao segundo lugar, mas para isso precisava de uma ajuda dos mexicanos em Ekaterinburgo.

Antes de fazer contas, era imperativo para as duas equipas lutar pelos três pontos, talvez por isso, os dois selecionadores tenham reformularam os respetivos onzes, com destaque para a Alemanha. Joachim Löw já tinha deixado Mezut Özil fora do jogo com a Suécia, agora o médio do Arsenal voltou às primeiras opções, mas o selecionador alemão deixou outro habitual titular de fora - Thomas Müller -  para apostar em Goretzka e Reus, nas alas, no apoio direto a Werner. Mexidas também na defesa, com Hummels, recuperado de lesão, a entrar para o lugar do castigado Boateng que, depois da expulsão frente à Suécia, assistiu ao jogo desde as bancadas.

Tae-Yong Shin também não fez por menos, promovendo quatro alterações em relação ao onze que tinha defrontado o México, com destaque para as ausências de Hwang e do gigante Kim no ataque.

O jogo começou com o campeão do mundo a tentar assumir as rédeas do jogo, com uma elevada posse de bola, mas muito longe da baliza de Jo. A Coreia do Sul concentrava muita gente na zona central, para depois empurrar os alemães para as alas onde acabavam por fazer falta. Com sucessivas interrupções, os alemães controlavam o jogo, mas tinham extremas dificuldades em controlar o ritmo. Pior ainda, a Coreia, sempre que podia, respondia com transições rápidas e, até ao intervalo, teve mesmo as melhores oportunidades de jogo. A primeira ocasião de registo foi mesmo dos coreanos, de bola parada, na sequência de um livre. Jung fez a bola passar ao lado da barreira alemã, Neuer defendeu para a frente e Son quase marcou na emenda. A Alemanha tinha mais bola, mas a Coreia era bem mais agressiva nas poucas oportunidades que tinha.

Tudo em aberto ao intervalo, até porque no outro jogo também não havia golos. A Alemanha voltou a entrar serena, consciente de que com um golo chegava para ir aos oitavos de final, mas o quadro começou a mudar. Começou a mudar primeiro em Ekaterinburgo onde os suecos construíram uma vantagem que foram reforçando até três golos na segunda parte. A Alemanha não conseguia acompanhar os nórdicos.

Özil, Kroos, Goretzka e Reus, bem tentavam improvisar espaços, mas os coreanos, como canta o hino do Benfica, pareciam papoilas saltitantes na área, multiplicando-se diante do detentor da bola, congestionando todos os caminhos para a área do elástico Jo. Com o passar dos minutos, Joachim Löw começou a reforçar a frente de ataque, respondendo às muitas pernas, com mais pernas. Era imperativo marcar um golo. Entraram sucessivamente Mario Gomez, Thomas Müller e Brandt. A Alemanha foi-se partindo, na tentativa de chegar mais rápido à frente, primeiro num claro 4x2x4, mais para o fim, num assumido 3x2x5.

A verdade é que a Coreia do Sul continuava a defender com a mesma consistência e a responder com rápidas transições. Logo a abrir a segunda parte, os alemães ainda gritaram golo, numa cabeçada de Goretzka a curta distância, mas Jo respondeu com uma defesa impossível. Numa altura em que a Suécia já vencia por 2-0, os alemães insistiam nos remates de média-distância, com Kroos muito ativo neste capítulo, mas as tais papoilas voltavam a crescer subitamente no relvado do Arena de Kazan, colocando-se no caminho de todas as bolas. Quando a bola passava, lá estava Jo, um guarda-redes elástico com grande flexibilidade e reflexos incríveis.

O jogo arrastava-se para o final quando, já sobre o minuto noventa, altura em que a Alemanha costuma marcar, a Coreia chegou ao golo na sequência de um pontapé de canto da esquerda. A bola passou, de ressalto em ressalto, por toda a gente até chegar a Young-Gwon Kim que atirou a contar. O auxiliar levantou de imediato a bandeirola, a assinalar um pretenso fora de jogo, mas o golo acabou mesmo por ser validado pelo VAR, uma vez que a bola veio, em última instância, de Kroos. Enorme balde de água fria para os alemães que ainda acreditavam que tudo se podia resolver com um golo tardio. No desespero, Neuer também subiu à área da Coreia à espera de um milagre, mas a Coreia respondeu com um pontapé longo e Son correu meio-campo para fazer o segundo golo. Ponto final.

A Alemanha caía de joelhos, os campeões do mundo não conseguiam conter as lágrimas, num contraste evidente com a alegre festa dos coreanos que também se despedem deste Mundial, mas à frente dos campeões do Mundo e ainda com uma ajuda preciosa aos mexicanos.