A notícia correu mundo: Kai Havertz, jovem de 17 anos do Bayer Leverkusen, falhou o jogo da Liga dos Campeões com o At. Madrid por ter um exame na escola secundária.

Não é a primeira vez que acontece, mas é sempre surpreendente.

Pelo menos para quem está habituado a ver os jogadores abandonar cedo a vida escolar com o argumento que têm de se concentrar na carreira, é muito surpreendente.

Ora Kai Havertz não foi único a falhar a deslocação a Madrid. Com ele ficou Daniel Jouvin, um preparador físico que não viajou para a capital espanhola para permanecer com o jovem médio: acompanhou o jogador e deu-lhe um treino de manutenção à tarde.

O Maisfutebol falou com Daniel Jouvin, o preparador físico, brasileiro de naturalidade, que começou por confidenciar que valeu a pena: Kai Havertz safou-se bem.

«Ele tirou uma boa nota, sim», começou por referir.

«Não sei exatamente quanto, mas já me disseram que tirou uma boa nota. Não é nada de inesperado: o Kai é um excelente aluno e logo no dia, quando lhe perguntei como tinha corrido o exame, disse que tinha corrido bem. Estava contente. Por isso já todos esperávamos uma boa nota no exame.»

Kai Havertz é, de resto, um miúdo especial. Filho de uma família bem estruturada, está por exemplo proibido de dar entrevistas até completar 18 anos. Os pais querem proteger o jovem o mais possível do assédio da impresa, e da própria opinião pública.

Só querem que ele seja um adolescente normal, e é exatamente isso que ele.

Bom aluno, como já se disse, vai todos os dias à  Landrat-Lucas-Gymnasium, a escola secundária onde estuda. Com a conivência do Bayer Leverkusen, que exige que os jovens terminem o ensino médio, correspondente ao nosso 12º ano.

«Esta semana, por exemplo, ele teve exames terça, quarta e quinta-feira de manhã. Ele foi lá, fez os testes e treinou à tarde. Ele nunca falta à escola», conta Daniel Jouvin.

«Acontece muitas vezes ele faltar aos treinos para ir às aulas. Depois compensa à tarde com um treino individual. Por isso para nós o que aconteceu é perfeitamente normal.»

Já não é a primeira vez que acontece, de resto.

Segundo conta Daniel Jouvin, em 2014 um jovem chamado Levin Öztunali passou pelo mesmo: falhou um jogo da Liga dos Campeões em Paris, que o Bayer também perdeu por 2-1, para fazer um teste. Hoje Levin Oztunali joga no Mainz.

Por isso para o plantel do Bayer Leverkusen foi só mais um dia no escritório: este sábado, Kai Havertz volta a ser opção para o clube no jogo em Hoffenheim.

«O clube faz um trabalho muito bonito com a educação dos jovens, dá uma importância muito grande à escola. Tem professores para ajudar os miúdos em disciplinas nas quais eles tenham mais dificuldades. A filosofia do clube é preparar os jovens para o futebol, mas também para a vida. Porque eles nunca sabem qual vai ser o futuro», refere.

«No Bayer é impossível um jovem abandonar a escola por causa do futebol. Mesmo nos casos de um jogador de nível alto, como o Kai, isso não pode acontecer. Esta filosofia é muito importante até para os pais, que deixam os filhos no clube de manhã e sabem que eles vão ser bem educados. Sabem que o filho vai ser bem acompanhado.»

«Esta filosofia é uma coisa que não tem preço.»

Os testes em causa faziam parte de um exame que pode ser equiparado aos exames nacionais: são fundamentais para terminar o secundário, sem os passar com sucesso não há diploma, e são fundamentais também para determinar a entrada na faculdade.

Por isso adiar o exame não era opção.

«A escola não o permite e o clube também não.»

E Kai Havertz não ficou aborrecido por falhar um jogo tão importante de Champions?

«Se estava, não o mostrou. Não notei nada. Estava tranquilo, bem disposto como sempre. Treinou de forma normal, sem mostrar desmotivação, e disse que lhe tinha corrido bem.»

E isso, já se percebeu, é o mais importante.